Por Maurício Avoletta Júnior

“Oh, Alegria, você sabe muito bem que se eu sofro tanto,
É por sua causa,
Porque não renunciei a você.
Oh, Alegria, você sabe muito bem que se grito com
tanta força
É por sua causa,
Porque ainda escuto o seu chamado.
E você sabe muito bem, Alegria, que se me revolto diante do horror,
É por sua causa,
Porque não me esqueci do seu sorriso.
Sem ter você por perto, o mal me pareceria normal
e a morte não seria amarga.”

Frabice Hadjadj in: Jó – ou a tortura pelos amigos

Eles dizem que tudo vai ficar bem, e admito: eles não estão errados. Mas temos noções diferentes do que é ficar bem. Eles querem porque querem que tudo fique bem agora, mas eu entendo que se nada ficar bem aqui, ainda terei a esperança de tudo ficar bem no final.

Para que esse texto não seja tão pesado quanto o tema que quero tratar, acho que é justo eu tentar ser mais direto e menos misterioso. Por “eles”, me refiro a uma maioria assustadora da Igreja. Quando digo “eu”, estou me colocando junto de uma grande tradição que tem pensado sobre os problemas que penso, muito antes de eu sonhar em existir.

Antes que alguém fale que estou sendo prepotente, gostaria de dizer que não, não acho prepotência dizer “eu”, ao me referir a Tradição Cristã, pois realmente, ao fazermos esse esforço de crer juntamente com a Igreja de todos os tempos, nos tornamos um: o eu se torna nós, pois não é mais um eu sozinho, mas uma existência compartilhada com o tempo.

Por que acho que a Igreja atual se afastou da Tradição e aos poucos tem se afastado dos evangelhos? Por um simples motivo: nós nos esquecemos da verdadeira esperança. Na realidade, acho que não nos esquecemos, pois esquecer pressupõe que já houve um conhecimento a respeito de algo e creio que esse não é o caso. Talvez nossos avós soubessem disso, talvez nossos pais soubessem um pouco também, mas nós não temos a menor ideia do que seja esperança.

Temos esperanças vãs de passar na faculdade, de conseguir um emprego, de constituir uma família e de sermos bem sucedidos, como se fossem essas coisas que motivassem nossa existência. Estamos aos poucos abandonando a fé cristã e abraçando o paganismo, pois transformamos nossa fé em um materialismo extremamente egoísta.

Nossas maiores vontades estão relacionadas em estabilidade moral, financeira e emocional, como se isso fosse o suficiente. Por favor, entenda: não acho que buscar essas coisas seja errado, mas tê-las como foco em sua vida não só é errado como também é medíocre.

Se você não professa a fé cristã, apenas reflita se o que eu falo faz sentido, mas você não tem a obrigação de crer no que estou falando, pois não é com você que quero falar. Agora, se você diz professar a fé cristã, se você entende que foi salvo da morte pelo sacrifício vicário de Cristo e acha que o que eu estou falando é bobagem: reveja sua fé.

Não digo isso, arrogando para mim uma autoridade que sei que não tenho. Digo isso baseado na autoridade das Escrituras e dos antigos. Um cristão que deposita sua esperança em tudo, menos em Cristo, é tudo, menos um cristão.

Nossa Igreja tem morrido aos poucos e cada vez mais tem se tornado irrelevante, pois colocou seu foco no lugar errado. O foco da Igreja se tornou o aqui e o agora. O foco agora é alcançar a alegria, ainda que não entendam o que a alegria significa… Alegria não é sair pulando, gritando e rindo pra qualquer coisa, o nome disso é demência mental; alegria é outra coisa. Alegria e esperança são sinônimas, pois só temos esperança quando temos a noção do que seja alegria.

São Paulo, o apóstolo, em sua carta a Igreja de Filipos, exorta a igreja à felicidade: “alegrem-se! Novamente direi: Alegrem-se!”. Essa não é uma simples dica ou uma sugestão, mas uma ordem: Alegrem-se! Quando percebemos que São Paulo está escrevendo isso da prisão para uma Igreja pobre e passando por problemas, as coisas ganham um pouco mais de cor – ou perdem, se você for muito pessimista.

O mesmo Paulo que agradece pelo seu amigo Epafrodito não ter morrido, fazendo com que sua tristeza ficasse maior ainda, foi o mesmo Paulo que declarou, na mesma carta: tudo posso naquele que me fortalece. Foi esse mesmo Paulo, que exortou a Igreja à felicidade. A Igreja deve se alegrar nas adversidades, pois sabe que um dia elas acabaram, um dia – e que glorioso dia – ela estará com Cristo. Essa é nossa esperança e o que nos motiva.

Quando disse no início que concordo quando muitos dizem que “tudo vai ficar bem”, não é porque eu ache que os problemas irão sumir, embora sempre que eles chegam eu ore para que sumam. Mas ainda que não sumam, sei que nem eles, nem uma possível solução temporária para eles irão definir minha existência, porque sei que existo para um propósito muito maior que eu: ser o reflexo da Verdade Eterna, do Verbo Divino.

Como cristão, sou quem carrega a mensagem de vida e esperança, pois carrego a Cristo crucificado e vivo o Cristo ressurreto. Sou testemunha, não ocular, mas experiencial da morte e ressurreição do meu Salvador: ele é minha alegria e minha Esperança!

Minha Alegria trouxe o riso para a boca de muitas pessoas, principalmente aquelas que não tinham mais motivos para rir. Minha Esperança foi torturada e crucificada. Minha Alegria morreu e ficou morta por três dias. Minha Alegria e minha Esperança ressuscitaram, para que eu aprenda que a Alegria e a Esperança não morrem, pois elas venceram a morte: Cristo venceu a morte! Como costumava cantar a Igreja de Cristo que veio antes de mim: porque Ele vive, posso crer no amanhã.

Um cristão não é aquele que vai sorrir em meio aos problemas, como se nada tivesse acontecido. Talvez um psicopata faça isso, um cristão não. O verdadeiro cristão é aquele que vai chorar nas dificuldades e se desesperar, pois é falho e não conhece o futuro, mas fará tudo isso diante de Deus. Assim como os Salmistas, o verdadeiro cristão é aquele que traz seus problemas e suas tristezas para o trono da alegria, para o rei da esperança.

Sei que poderia falar muito mais sobre isso, sei disso. Contudo, creio que será melhor que eu encerre por aqui, pois é assim que é a realidade, muitas coisas acabam de repente sem nenhum aviso prévio, mesmo quando sabemos que as coisas podem continuar. Devemos aprender a confiar naquele que detém todo o conhecimento e carrega todo o nosso passado, presente e futuro em suas mãos.

Por fim, se você que está lendo isso compartilha da mesma alegria que eu, lembre-se sempre de que, no final, tudo vai ficar bem.

• Maurício Avoletta Junior, 22 anos. É membro da Igreja Presbiteriana do Tucuruvi (SP). Formado em Teologia pela Mackenzie, estudante de filosofia e literatura (por conta própria); apaixonado por livros, cinema e música; escravo de Cristo, um pessimista em potencial e um futuro “seja o que Deus quiser”.

  1. A filosofia cristã transcende a questões temporais muito embora a contemporaneidade muitas vezes dirima a idoneidade da consciência coletiva que permeia a nossa sociedade.

    Devemos acima de tudo corroborar arregimentando a sã doutrina para que a sua perene doutrina que sobrepujou culturas etnias cuja filosofia por mais impactante que tenha sido não passou de uma efêmera consciência que por causa do tempo tornou-se obsoleta e muitas vezes ambígua.

    Na verdade como integrantes deste mundo, vivamos usufruindo com sobriedade daquilo que ele tem a nos dispor, mas impreterivelmente reconhecer que a sua efemeridade jamais pode influenciar e com isto deturpar o que é primordial.

    Nossa eternidade ao lado de Deus, pois ele secará toda lágrima, assim bem como também todo sorriso que tivermos esboçados não passarão de efêmeras e fugazes sensações que não significaram…

    https://www.youtube.com/watch?v=NRrHxG-LDPE&t=20s

  2. Sim, o texto fala sobre coisas reais, inclusive concordo com a orientação dada ao tema.
    Porém, sim, você acaba deixando transparecer uma arrogância nas entrelinhas. Minha impressão. Sucesso!

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