Por Amanda Almeida

Outro dia vi uma menina que tinha o cabelo bem curto, e me peguei pensando com meus botões sobre como aquele corte combinava com ela. Sempre costumo achar cortes curtos muito bonitos em mulheres com pescoço alongado, o que era o caso. Sei lá, acho que dá um ar de elegância instantâneo.

Depois de um tempo, estava eu num ponto de ônibus e essa moça aparece por lá, começa a puxar papo comigo e comenta algo sobre como ela queria que o cabelo dela já estivesse do tamanho do meu.

Uai, se ela tivesse comentado que queria que comprimento de seus fios estivesse que nem o da Taís Araújo, eu até entenderia, mas meu cabelo nem estava substancialmente maior que o dela, ainda mais se a gente pensar que os nossos fios, ambos crespos, ainda encolhem pra caramba na hora de formar os cachos bem fechadinhos.

Mas comprimento de cabelo em si nem é o X da questão aqui. O negócio é que lá estava eu, elogiando mentalmente o visual da moça, e lá estava ela, não contente com ele.

Claro que existem muitas razões para nossos descontentamentos, ainda mais para aqueles que a gente encara quando se olha no espelho. Mas comparações são um golpe baixo da gente contra a gente mesmo.

Sempre defendo que essas coisas de moda e estilo têm que funcionar a nosso favor, para fazer com que a gente seja cada vez mais nós mesmos através dos recursos que essas linguagens oferecem.

O pior dos aspectos desse campo da beleza é quando parece que a gente começa a viver numa constante competição na qual no fim do dia uma só, “a mais bonita”, sai vencedora, e todas as outras vão voltar pra casa com o rabinho entre as pernas por terem perdido a coroa. A vida não é um concurso patrocinado pelo Trump.

Algo que vem me intrigando ultimamente é o gosto. Por que a gente gosta do que gosta? Algumas coisas a gente até consegue fundamentar. Alguém pode dizer que gosta de dias de sol porque neles se sente mais bem disposto. Mas por que algumas pessoas gostam da cor vermelha, mas não são muito chegadas a tons de verde, por exemplo?

Muitos dos nossos gostos em relação à moda e beleza acabam sendo conformados à uma grande narrativa do que deveria atrair nossos olhos, nos dar prazer e ser considerado belo: os famigerados padrões.

O que tem de errado em querer um cabelo compridão? Nada. O problema é ficar descontente até chegar ao tamanho desejado, e não porque agora ele está horrendo ou te causando mal, mas porque não está que nem “o dela”. Um patamar que a gente ainda não alcançou.

Deixamos de aproveitar e curtir o que temos porque parece que a vida de quem tem algo diferente, algo a mais, parece bem melhor (e às vezes é só isso, só parece, mas não é). Vivo falando sobre como a jornada também deve valer a pena. Talvez a gente ainda não tenha chegado no nosso objetivo, mas dá pra ser feliz no caminho até lá. (Espero que até aqui já tenha dado pra perceber que esse não é só um papo fútil sobre beleza.)

Sejamos mais gentis com a gente mesmo. Deve ter dias nos quais até a Gisele deve achar que a mãe diz que ela é bonita por pura obrigação. É normal. Deve olhar pra outras modelos nos bastidores do desfile da Victoria’s Secret e pensar que queria ter a panturrilha parecida com a daquela outra moça. Mas gosto de pensar que Gisele, estando nesse meio há bastante tempo e tendo chegado lá no topo, já sabe que se comparar aos outros é uma batalha perdida.

(Isso também vale pra quase tudo mesmo na vida. Nessas modernidades, também vale pra quando a gente quiser comparar nossas férias no interior ali pertinho com a daquela menina do Instagram que viajou pra Londres ou que foi pra Disney pela quarta vez no ano. A comparação vai tirar toda a alegria do café quentinho moído na hora, do cheiro de chuva e da terra molhada, de saber o nome de umas vacas e de deitar no chão pra ver um céu cheio de estrelas.)

Sejamos mais gentis com a gente mesmo. Se for pra comparar, que seja com nosso “eu mesmo” de ontem, pra tentar ser um tiquinho melhor hoje. Ou então com Cristo, porque se a gente precisa de um padrão, certamente é esse. Enquanto a gente vê o exterior, ele vê lá dentro, ele vê o coração.

 

Imagem: Silvana Bezerra

  1. Que texto ótimo, fala do tema com uma leveza e seriedade que faz com que sua opinião sobre a comparação mude e faça você querer parar já que na verdade a verdadeira comparação tem que ser com o você antigo pra perceber o quanto tem melhorado e evoluido

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