Pelo Conselho Editorial Jovem
[publicado originalmente em “Altos Papos” da revista Ultimato 359]

ult_359_altos_papos_4Maria Eduarda, também conhecida como Duda, é pernambucana, tem 27 anos e ama teatro. Começou a fazer teatro na igreja e, depois, se profissionalizou na área. É atriz, jornalista e crítica teatral. Dirige com a amiga Lívia Lins a “Dispersos Companhia de Teatro”, em Recife, que estreou em 2015 o seu primeiro trabalho, um musical chamado Abraço – Nunca estaremos sós. Para ela, “o teatro é uma arma. Uma arma poderosa. Transforma o meio em que está. Já me transformou inúmeras vezes”. Duda também escreve a seção Arte de Propósito para o blog Ultimato Jovem.

Como surgiu o seu interesse pelo teatro? A igreja a influenciou de alguma forma?

A igreja teve total participação. Eu gostava de frequentar o teatro como espectadora, mas em 2005 entrei no Evanarte, ministério de teatro da Igreja Presbiteriana das Graças, em PE, que tem 30 anos de história, e me orgulho muito de ter participado dele. A partir daí deu-se o meu encontro com o teatro, quando resolvi que queria me profissionalizar.

Como você vê o papel da igreja e seu relacionamento com as artes?

O teatro e as artes visuais, diferente do que acontece com a música, são alvos de pouca ou nenhuma discussão dentro das igrejas. Antes estivessem inseridos nas discussões e envolvidos nas polêmicas entre os cristãos. Não nas conversas rasas, do pode ou não pode, mas nas estratégias de como melhor utilizá-los dentro e, especialmente, fora da igreja, abordando questões urgentes e relevantes, como aborto, política ou sexualidade. Já imaginou uma peça sobre esses temas à luz da Palavra?

ult_359_altos_papos_2Você acha que a profissionalização artística é valorizada pela igreja?

Não. Muita gente, inclusive os líderes das igrejas, acreditam que o que é feito no ministério de artes já está de bom tamanho. Na minha opinião, a única coisa pior do que não ter teatro é ter teatro ruim. Não dá para fazê-lo sem estudo e também não dá para fazê-lo sem talento. Você colocaria no louvor alguém que não sabe cantar? Então por que tanta gente que não sabe atuar integra os ministérios de teatro nas igrejas? E por que não investir na capacitação dessas pessoas?

Existe diferença entre teatro cristão e teatro não cristão?

Não. Existe diferença entre profissionais cristãos e profissionais não cristãos. Da mesma forma que não existe medicina cristã, engenharia cristã, jornalismo cristão, administração cristã. O que faz a diferença na sociedade é a pessoa que exerce o ofício, seja ele qual for.

Como uma peça de teatro pode ser instrumento para o reino de Deus? 

Eu sempre me pergunto se a peça que estou fazendo, seja atuando ou dirigindo, é bela aos olhos de Deus. Se ela é bela esteticamente (isso é importante), mas principalmente se é bela em seu conteúdo, mesmo ele sendo contundente, como, por exemplo, se eu quiser falar sobre pedofilia. Sempre procuro pensar sobre o conteúdo do espetáculo à luz da Palavra, mesmo que seja um Shakespeare. Se chegarmos à conclusão que sim, ela será instrumento.

Quais foram as principais dificuldades que você enfrentou ao trabalhar com o teatro?

É um meio difícil. Os artistas são invariavelmente libertários, mas eu sou livre em Cristo; então, faço minha arte com o que entendo sobre liberdade. Para fazer teatro tem de orar e vigiar sempre.

A captação de recursos é um problema para as companhias de teatro?

Sim. Muitas vezes somos reféns de editais, porque são os editais que custeiam de fato um projeto que quer alçar voos altos, manter-se em temporada, circular. Poucas empresas no Brasil entendem a capacidade de difusão e assimilação do teatro, por isso ainda não pensam na cultura como uma excelente estratégia de investimento. O Abraço foi montado sem incentivo público ou privado. O dinheiro saiu do nosso bolso, mas não poderíamos deixar de fazer, e deu tão certo que algumas empresas têm nos procurado para oferecer patrocínio.

ult_359_altos_papos_1A “Dispersos Companhia de Teatro”, dirigida por você, produziu em 2015 o musical Abraço. De onde surgiu a ideia para o musical? Como foi a receptividade do público? Qual era o objetivo do espetáculo?

A Dispersos é dirigida por mim e minha sócia e amiga Lívia Lins, a quem eu conheci no Evanarte. Nós ainda não havíamos lançado a companhia e tivemos a ideia de o espetáculo de estreia ser um musical. Descobrimos que é nessa linguagem que queremos apostar por sermos apaixonadas pela mistura de teatro e música. Então, conversando um dia sobre a nossa amizade (a minha com Lívia), pensamos que poderíamos fazer uma peça que celebrasse a amizade, de uma forma geral. Encomendamos o texto a um amigo e convidamos um time de oito  atores, incluindo nós duas, mais quatro músicos. Victor Bertonny e Leila Chaves foram os compositores da trilha, que é toda autoral, com exceção de duas músicas de Milton Nascimento e duas de Liz Valente. O espetáculo tem uma pegada anos 90 e conta a história de oito amigos, apaixonados por música, que resolvem montar um musical. Metalinguagem. E aí nasceu o Abraço – Nunca estaremos sós. O nosso objetivo era fazer teatro. Rookmaaker já dizia que a arte não precisa de justificativa. E a aceitação do público foi maravilhosa. Fizemos duas temporadas de casa cheia, além de apresentações no interior de Pernambuco onde também tivemos o teatro cheio de gente querida.

Quais são os desafios de conciliar a música e o teatro?

Todos. Porque tudo tem que soar muito harmônico: interpretação, voz, arranjos, coreografias. Não podem parecer coisas separadas. E lapidar cada item exige muito esforço e dedicação. Quando a mistura dá certo é maravilhoso, emociona, alcança. Mas também quando dá errado…

O espetáculo foi selecionado para participação em um festival internacional. Conte-nos sobre essa experiência.

Foi uma alegria receber a notícia de que estaríamos na grade do festival Janeiro de Grandes Espetáculos em 2016. É um festival que acontece em Recife e adjacências, mas recebe espetáculos de todo o Brasil e alguns do exterior e está na 22ª edição. Resultado da graça de Deus nas nossas vidas, somado ao nosso esforço e amor que colocamos nesse projeto. Ser uma representante cristã nesse contexto é uma felicidade sem tamanho e saber que Deus tem olhado e abençoado esse projeto ainda mais. O reconhecimento que temos recebido do público é só uma palhinha do que Deus preparou pra nós.

 

VÍDEO
Confira a seguir o making off do musical “Abraço — Nunca estaremos sós”:

  1. Boa noite. Li o texto sobre a Mari Eduarda Martins, e gostaria de fazer contato com ele para trocas de informações de teatro. Preciso de ajuda para um trabalho no igreja que estou.

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