Sexualidade
Sobre a “Ciência Cristã das Afeições”
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Um dos mais importantes campos de poder na sociedade contemporânea é o campo afetivo. Temos falado repetidamente sobre esse assunto e os temas a ele associados em palestras e debates no L’Abri e pelo Brasil: amizade, afeição, sexo, amor, caridade, direitos afetivos, sentimentalismo, psicoteologia… Um mundo de assuntos!
A emergência desse campo e sua crescente importância para a moral, a religião, a economia e a política, levaram-me a descrever essa nova situação como “A Revolução Afetiva”. Explico (resumidamente): (mais…)
Sobre o Dilema Estético-Sentimental da Política Evangélica Contemporânea
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Escrevo a contragosto, arrancado do meu exílio blogosférico pela força das circunstâncias. Deveria estar agora trabalhando em meu livro encomendado em eras passadas, inacabado e, aparentemente, inacabável. Mas é dura cousa golpear os aguilhões do processo histórico.
Para encurtar, lancemo-nos diretamente ao assunto, introduzido de forma pedante no título por uma absoluta falta de imaginação nessa tarde fria de sexta feira: afirmo que o problema da política evangélica hoje é um problema estético; um problema de aisthesis, de distúrbios de percepção e de efeito sentimental, que ocultam uma fragilidade mais profunda: a falta da fonte verdadeira dos sentimentos verdadeiros, que é a beleza verdadeira, a que nasce da união entre o bem e a verdade.
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“O Corpo é meu, faço o que quiser com ele”. Será?
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Há algum tempo escrevi sobre os problemas da ideologia liberal e sua relação com a promiscuidade sexual contemporânea, e mais recentemente dei uma breve entrevista sobre o tema ao Jonathan Silveira, do ministério Tu Porém (Veja no vídeo ao final do post). Mas logo depois disso, por pura coincidência, saíram os resultados de uma pesquisa do IPEA sobre estupro (e patriarcalismo) causando comoção geral, e o tal argumento liberal “se o corpo é meu, faço o que quiser com ele” foi invocado na mídia como fundamento para o combate à violência sexual. Então decidi reviver o assunto por aqui.
Sou perfeitamente contrário à violência sexual, mas esse argumento simplesmente não funciona. Na verdade penso que ele não apenas é irracional, mas alimenta indiretamente os problemas que deseja evitar.
Faço apenas um reparo à entrevista: a pergunta do Jonathan foi sobre o movimento LGBT, mas se aplica mais exatamente ao fundo liberal da vanguarda feminista contemporânea. Às vezes se ouve esse argumento em contextos LGBT, mas ele pertence mais propriamente a todo o movimento de liberação sexual moderno e principalmente ao feminismo. É empregado, por exemplo, para justificar o aborto, a legalização da prostituição, e para atacar a instituição do casamento monogâmico.
De todo modo, eu não fui o único a perceber que o emprego desse argumento como fundamento para a crítica à cultura masculina do desrespeito e, indiretamente, do estupro, é ideológico e moralista. É claro que uma campanha individualista e libertária sobre os direitos do indivíduo sobre o seu corpo não mudará criminosos e não protegerá as mulheres. Isso faz tanto sentido, como observou jocosamente o amigo Vitor Grando, quanto uma campanha de conscientização pública pelo direito de andar nas ruas com jóias e iphones expostos sem medo. Para quê o argumento serve, então? Para plausibilizar o próprio liberalismo moral culpando o conservadorismo moral. É um jogo ideológico.
Se o reforço do liberalismo moral reduzisse os impulsos basais dos estupradores já deveríamos ter a essa altura um ambiente de profundo respeito sexual na sociedade brasileira; mas aparentemente esse respeito é inversamente proporcional ao domínio cultural do liberalismo moral. Isso acontece, no meu entendimento, porque o liberalismo moral é irracional.
Enfim, o que se precisa no mundo do hiperconsumo, da atomização da vivência humana e da venalização do sexo – o rabo preso que o liberalismo moral tem com o estupro – é de uma educação para a virtude, coisa que o feminismo e o liberalismo moral temem tanto quanto a morte.
Para mais detalhes, veja também o artigo abaixo. Para quem quiser saber mais: os três argumentos tem um pouco de ética da virtude, de Kant, de Charles Taylor e de Scruton. E, claro, de um sujeito chamado Paulo de Tarso.
IDEOLOGIA LIBERAL E PROMISCUIDADE SEXUAL: CÚMPLICES?
Ideologia liberal e promiscuidade sexual: Cúmplices?
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Poucos discordariam de que a moralidade sexual evangélica encontra-se em uma grande crise. E não apenas uma crise de coerência, uma crise de práticas, mas uma crise de princípios. Nos púlpitos (ou na grande maioria deles) a moralidade Cristã tradicional continua encontrando suporte: sexo exclusivamente heterossexual, rejeição da pornografia, namoro sem sexo, casamento como pacto moral, monogamia, etc.
Mas no meio do povo a regra já é outra há tempos. Sim, alguns dirão que sempre foi outra. É certo que o ‘puritanismo’ evangélico oficial sempre foi manco na prática, e na verdade isso se aplicaria à história inteira do cristianismo; mas não é disso que estamos falando, da evidente incoerência dos Cristãos em manter seus próprios padrões sexuais. O que vemos hoje é um pouco diferente: a moralidade sexual Cristã clássica deixou de ser difícil, para se tornar implausível. (mais…)
Prostituição e Direito à Saúde: Alexandre Padilha não errou
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Quase não pude acreditar no post de Pedro Serrano publicado no site da Carta Capital (aqui) ontem, a respeito da decisão do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. O ministro teria retirado a campanha “Dia Internacional das Prostitutas” devido à pressão dos evangélicos, segundo Serrano. E o articulista afirma que Padilha errou.
O Eu, O Corpo e a Ética Sexual Cristã
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O meu corpo sou eu, ou não sou eu, afinal de contas?
Os espíritas e alguns irmãos neopentecostais dizem que somos espíritos que habitam em corpos — mas isso não pode ser verdade. Afinal, Deus disse a Adão: “Tu és pó”. Então o corpo também sou eu. Estranhamente, no entanto, o apóstolo Paulo, que não era espírita nem neopentecostal, dizia que o seu corpo era a sua “casa”.
Ora, se eu sou meu corpo, mas também posso tratá-lo como a minha casa, então há algum tipo de complexidade em mim; talvez, haja uma dualidade. (mais…)
Pureza e Impureza Sexual
1Há alguns anos (julho de 2008?) eu tive uma conversa estimulante com um pastor, no final de uma palestra sobre educação. Na palestra eu havia mencionado um princípio do pensamento reformacional — a ideia de que não há contradições estruturais na ordem criada. Assim, não há contradição essencial entre, por exemplo, a esfera da justiça e a da moral, ou entre a esfera estética e a esfera da fé, e assim por diante. Porém, uma das minhas alegações fez acenderem luzinhas no painel dos presentes, incluindo no do amigo pastor: a de que não haveria contradição estrutural entre as esferas biológica e psíquica e a esfera moral. (mais…)
Pergunta: por que o estado regula o casamento?
2Lendo uma obra filosófica muito importante sobre a natureza do casamento topei com essa pergunta interessante. Compartilho para estimular a reflexão:
“Imagine um mundo no qual a lei estabelece os termos de nossas amizades comuns: você e um colega de trabalho não poderiam iniciar uma amizade entre suas cabines de trabalho sem primeiro obter aprovação do estado, que poderia negá-la por considerar você novo demais ou desqualificado em algum aspecto. Tendo estabelecida a amizade, você não poderia terminá-la sem permissão do estado. E poderia até mesmo ser forçado a pagar pelos projetos iniciados com amigos agora separados – até à sua morte, e sob ameaça de prisão.
Isso seria uma loucura, e todos vemos porque: amizades comuns simplesmente não afetam o bem comum de formas estruturadas que possam justificar a regulamentação legal. Porque, então, nós – e todas as culturas conhecidas – regulamos legalmente o casamento?”
Girgis, Ryan & George: What is Marriage? New York: Encounter, p. 15.
Em breve mais ideias sobre o assunto!