Abre os meus olhos, Senhor!
Quero ver-te, Senhor, do outro lado da lama, do outro lado dos montões de lixo, do outro lado da fome, do outro lado das guerras, do outro lado do sofrimento, do outro lado da doença, do outro lado da morte.
Quero ver-te como tu és e não como os outros dizem que és.
Quero ver-te na imensidão e na ordem do universo, na mais distante galáxia e na mais próxima estrela. Quero ver-te na cachoeira, na gruta, na floresta, no deserto, na praia, nas alturas dos montes e nas profundezas dos mares, na desembocadura dos rios, nas campinas e nos vales.
Quero ver-te no amanhecer e no entardecer, ao meio-dia e à meia-noite, no vento, na chuva, nos relâmpagos, no trovão.
Quero ver-te no botão de rosa, no ipê-amarelo, no girassol, no jardim, no pomar, na horta, nos bosques, na grama, nos pastos e no matagal.
Quero ver-te no meu corpo, na parte de fora e na parte de dentro, no mais visível e no mais escondido, no mais simples e no mais complexo. Quero ver-te na biologia, no DNA, nas células-tronco, na substância ainda informe, no crescimento, na reprodução e no envelhecimento.
Quero ver-te nos mistérios da vida, nos mistérios da mente, nos mistérios do amor, nos mistérios da alma, nos mistérios da criação.
Quero ver-te na vaga lembrança, na saudade, na sede, na fome e no temor que eu tenho de ti, no desassossego de minha alma enquanto ela não repousa em ti.
Senhor, abre os meus olhos, pois quero ver a lama, os montões de lixo, a fome, as guerras, o sofrimento, a doença e a morte sob outra perspectiva, sob a perspectiva cristã.
Abre os meus olhos para eu ver o que está acima das nuvens mais baixas.
Abre os meus olhos para eu ver o Senhor assentado num trono alto e exaltado.
Abre os meus olhos para eu ver os céus abertos e o Filho do homem em pé, à direita de Deus.
Abre os meus olhos para eu ver o Cordeiro — que parecia ter estado morto — em pé, no centro do trono, pronto para abrir o livro fechado por dentro e por fora e dar prosseguimento à história.
Abre os meus olhos para eu ver a destruição, a morte e o enterro da morte.
Abre os meus olhos para eu ver a transformação dos vivos e a ressurreição dos mortos.
Abre os meus olhos para eu ver novos céus e nova terra, onde habita a tão procurada justiça.
Abre os meus olhos para eu ver a plenitude da salvação!
Amém.
Nota: Texto publicado na edição 363 da revista Ultimato.
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