Campina Grande está aberta a todos os deuses, até mesmo ao deus desconhecido
O Mineiro com Cara de Matuto passou o Carnaval de 2005 em Campina Grande, uma cidade de 355 mil habitantes surgida no final do século 17 em torno de uma aldeia indígena. Localiza-se na serra da Borborema, a 550 metros acima do nível do mar, entre a baixada litorânea e o sertão propriamente dito.
Depois de dar umas voltas pela cidade, o Mineiro se sentiu como Paulo em Atenas, na Grécia, lá pelo ano 50 da era cristã. Ao contrário do Rio de Janeiro e do resto do Brasil, lá não havia samba, não havia desfiles carnavalescos, não havia mulheres nuas nem seminuas, não havia carros alegóricos, não havia distribuição ostensiva e preventiva de camisinhas. Ao invés de entregar a chave da cidade ao rei Momo, o prefeito de nome e cabelos compridos, Veneziano Vital do Rego Segundo Neto, abriu Campina Grande para todos os deuses, até mesmo para o “Deus Desconhecido” (At 17.23), bem como para aqueles cuja religião os obriga a se autodenominarem ateus e agnósticos. Tudo isso a despeito de seu nome, Veneziano, lembrar o famoso Carnaval de Veneza. No hotel onde se hospedou, o Mineiro deu o folheto A Cruz Vazada para duas mulheres que tinham quase um palmo da cintura descoberta, mas não eram carnavalescas, e sim hare krishna e vestiam-se como as indianas.
O areópago da Borborema
Campina Grande é um gigantesco areópago montado não na colina de Ares, em Atenas, mas na serra da Borborema, na Paraíba. Para ali afluem, por ocasião do Carnaval, milhares de “tagarelas” (nome depreciativo que os atenienses deram a Paulo), uma espécie de camelô de ideias variadas (At 17.18).
A sede da Sociedade de Estudos e Educação Espírita, no bairro do Catolé, abrigava o 32º MIEP (Movimento de Integração do Espírita Paraibano), sob o lema “Amai-vos e instruí-vos”. O Clube Campestre abrigava o 8º Crescer, encontro da família católica, sob o lema “Somos o perfume de Cristo”. O Teatro Municipal e vários outros auditórios abrigavam o 14º Encontro para a Nova Consciência, sob o lema “Por Uma Cultura de Paz na Construção de Um Novo Mundo”. E o Parque do Povo, o Centro Cultural e o Teatro Rosil Cavalcanti abrigavam o 7º Encontro para a Consciência Cristã, sob o lema “Uma visão cristocêntrica”.
O primeiro evento é espírita; o segundo, católico; e o último, evangélico. E o terceiro? Por hospedar nada menos do que 60 eventos paralelos, entre seminários, encontros, oficinas, shows musicais, exposição de artes e feiras, quase todos esotéricos, o Encontro para a Nova Consciência tem estreita ligação com a Nova Era, também chamada Nova Consciência Cósmica.
Uma dose elevada de euforia faz com que os organizadores do encontro esotérico digam que Campina Grande é o “palco de um dos mais maduros, tolerantes e democráticos eventos filosófico-humanistas do planeta”. Os organizadores do encontro evangélico, por sua vez, afirmam que “Campina Grande, a cidade de Jesus Cristo, abdica do Carnaval para tornar-se a capital mundial da fé cristã”.
Como dificilmente deixaria de acontecer, um evento provoca o outro. O Crescer, da Renovação Carismática Católica, trouxe um “ex-pastor protestante [pentecostal], de 34 anos, convertido ao catolicismo após experiência com Nossa Senhora”, para dar o seu testemunho. A Nova Consciência trouxe o “pastor presbiteriano” Neemias Marien para abrir e fechar o seu encontro.
No evento protestante, o biólogo e professor da Universidade Federal do Ceará Ricardo Marques, além de proferir uma palestra com o título Magia: conspiração e poder, deu o seu testemunho de conversão, Da alta magia à graça de Cristo, publicado na edição de julho/agosto de 1998 de Ultimato sob o título Do misticismo fino à verdade de Cristo.
A tolerância de Campina Grande e a intolerância da antiga União Soviética
Deixando de lado qualquer exagero, o “carnaval” de Campina Grande merece respeito e significa um triunfo notável sobre a intolerância religiosa, que ainda existe em dezenas de países, sobretudo muçulmanos, e que existiu no Brasil até a separação entre Igreja e Estado, por ocasião da proclamação da República, em 1889. Basta lembrar, por exemplo, a morte de Né Vilela, no Carnaval de 1898, há 107 anos, em São Bento do Una, ao sul de Campina Grande, já em Pernambuco. O carteiro-assassino pretendia matar o médico-missionário George Butler, de 44 anos, mas o punhal atingiu o coração de Vilela.
O Mineiro valorizou muito o que estava observando em Campina Grande, porque ele tinha acabado de ler no avião o livro de Yves Hamant, doutor em ciências políticas e professor de civilização russa na Universidade de Paris X, intitulado Aleksandr Mien — Um Mártir da Rússia de Hoje (Editora Cidade Nova).
É preciso recordar o trato dispensado à religião na antiga União Soviética, no esplendor da ideologia marxista. “O ateísmo reinava, senhor absoluto”, afirma Hamant, e “o Estado usava de todos os artifícios para impedir que ‘pais retrógrados envenenassem o espírito dos filhos com idiotices religiosas’”. A Liga dos Ateus Militantes, com 30 milhões de membros, publicava jornais, revistas e livros, e apoiava dezenas de museus anti-religiosos. Num deles, havia uma figura de Jesus com a seguinte legenda: “Personagem lendário que jamais existiu” (p. 22). Mais de 95% das igrejas ortodoxas haviam sido fechadas. Bispos, padres, religiosos e religiosas foram massacrados, fuzilados, torturados; morreram de esgotamento no campo de concentração de Solovki. Segundo o autor da biografia de Mien, “o mundo cristão jamais sofrera perseguição de tamanha amplitude desde o reinado do imperador romano Diocleciano” (p. 23).
Não era para menos, já que Lenin (1870-1924), o mais influente líder e teórico político do marxismo, tinha ensinado que “todo flerte com Deus é a mais indizível das torpezas” (p. 26). O governo soviético não poderia agir de modo diferente, porque o próprio Karl Marx (1818-1883) comparava ironicamente as “necessidades religiosas” do povo com as necessidades fisiológicas (p. 41). A ideologia servia-se também de testemunhos. Um deles intitulava-se Por Que deixei de Crer em Deus, da autoria de um ex-professor de seminário (p. 54). Outro testemunho foi o do cosmonauta russo Yúri Gagárin (1934-1968), o primeiro ser humano a pilotar uma nave fora da atmosfera terrestre, a bordo da Vostok 1, em abril de 1961. Ao voltar ao planeta, “trouxera prova irrefutável da não existência de Deus, pois não o havia encontrado no céu!” (p. 57).
A KGB incentivava os dissidentes a deixarem o país com a seguinte ameaça: “Se vocês não tomarem o rumo do Ocidente, nós nos encarregaremos de mandar vocês para o Oriente”. Aqui, Oriente é sinônimo dos campos de concentração localizados na Sibéria (p. 77).
Por causa de tudo isso, para homens e mulheres de 20 a 35 anos, “o nome de Jesus era tão estranho quanto é para nós o nome de uma divindade da Índia” (p. 81). Mas já estava escrito em russo, e por um russo (Aleksandr Mien), um dos melhores livros sobre Jesus, intitulado Jesus, Mestre de Nazaré. Embora tenha sido traduzido para várias línguas e vendido milhões de exemplares, a obra-prima de Mien só foi publicada na Rússia depois da queda do muro de Berlim (1989) e da morte do próprio autor, no ano seguinte.
Antes, porém, de ser barbaramente assassinado a golpes de machado no dia 9 de setembro de 1990, Aleksandr Mien assistiu à guinada da política soviética no tocante à religião, a partir de 1988, quando a Igreja Ortodoxa Russa celebrou seu primeiro milênio. Yves Harmant conta, em sua já citada biografia, que Khartchov, presidente do Conselho para Assuntos Religiosos, teria descoberto a importância do fenômeno religioso e confessado aos professores da escola de formação dos quadros políticos do partido, em uma reunião confidencial, que, “apesar das perseguições, da repressão e das pressões administrativas, a crença religiosa não diminuíra, mas até progredira” (p. 149).
O guarda-chuva do tamanho da camada de ozônio
Um século depois da “invasão” do cristianismo no Oriente, começou a “invasão” das religiões orientais no Ocidente. É curioso observar que o primeiro missionário protestante das missões modernas, o inglês William Carey (1761-1834), chegou à Índia em 1793, com a idade de 32 anos. O professor indiano Swami Vivekananda (1863-1902) fundou a Sociedade Vedana, reencarnacionista, em Nova York, exatamente 100 anos depois, em 1893, quando tinha 30 anos. Carey pregava o perdão dos pecados mediante o sacrifício vicário de Jesus Cristo e Vivekananda pregava o contrário: todo mal cometido será reparado com expiações pessoais nesta e em outras sucessivas encarnações.
Além do hinduísmo (não se sabe quando começou), do jainismo e do budismo (século sexto antes de Cristo), do rosacrucionismo (século 14), do sikhismo (século 15), do espiritismo e do teosofismo (século 19) — religiões que pregam a doutrina da pluralidade de existências — o século 20 marcou o surgimento e a expansão de várias religiões reencarnacionistas, que pretendem fechar o cerco contra as boas novas (“evangelho”, em grego) de que nos nasceu “o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.11).
Começou com o racionalismo cristão, fundado aqui no Brasil em 1910, pelo português Luiz de Mattos (1860-1926), para quem o perdão dos pecados significa comodismo.
Depois vieram a antroposofia, uma dissidência alemã da teosofia (1913); a conhecida seicho-no-ie, fundada no Japão em 1930, por Mascharu Taniguchi (1893-1985); a Igreja Messiânica Mundial, fundada também no Japão em 1935, por Mokiti Okada (1882-1935); a brasileira Legião da Boa Vontade, fundada no Rio de Janeiro em 1950, por Alziro Elias David Abraão Zarur (1914-1979), que se dizia reencarnação de Allan Kardec; a cientologia, fundada em Washington em 1955, por Lafayette Ron Hubbard (1911-1986); a meditação transcendental, uma ramificação do hinduísmo, fundada pelo indiano Maharish Mahish Yogi e trazida para a América em 1958; a Igreja Internacional da Sabedoria Eterna, fundada pela ex-pastora episcopal Beth R. Hard (1903-1977) em 1962 na Filadélfia; e o Hare Krishna (Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna), levada para os Estados Unidos em 1965 pelo indiano Bhaktivedanta Swami Prabhupada (1896-1977).
Unindo e abrigando todas essas religiões e outros movimentos esotéricos que misturam cultos, crenças e superstições, existe um guarda-chuva quase do tamanho da camada de ozônio. É a propalada Nova Era (New Age), também chamada de Nova Consciência Cósmica. A Nova Era não é mais uma seita, mas uma constelação delas, como avisa o jornalista Hélio Damante. Fazem parte desse conjunto a astrologia, a numerologia, o tarô e o I Ching (técnica chinesa do século 12 antes de Cristo que promete revelar ao homem modelos de comportamento reto e bem-sucedido, bem como possibilitar viagens cósmicas, viagens mentais ao passado e contatos com extraterrestres). A Nova Era começou a tomar corpo na década de 70. É uma espécie de meta-rede de organizações autônomas, embora unidas. Compete abertamente com a herança judaico-cristã. Na verdade, a Nova Era nada mais é do que velhas idéias apresentadas com um vocabulário atualizado e mais sofisticado, como explica o escritor Larry Nichols. Entre essas velhas idéias está, é claro, a doutrina originalmente hindu da reencarnação.
Praticamente todas essas religiões e esses movimentos esotéricos estavam presentes no areópago da Borborema, por ocasião do 14º Encontro para a Nova Consciência (não confundir com o 7º Encontro para a Consciência Cristã, dos evangélicos).
Vários encontros, seminários, fóruns e outras reuniões foram realizados sob o guarda-chuva da Nova Era. Aqui está uma relação não completa: 2º Seminário do Sagrado Feminino, 4º Seminário da Alimentação Natural, 5º Seminário de Reiki, 5º Seminário de Massoterapia, 1º Seminário de Medicina Tradicional Chinesa e Terapias Complementares, 4º Seminário de Xamanismo, 8º Seminário de Ecologia, 5º Seminário sobre Islamismo, 2º Seminário sobre Budismo, 5º Encontro de Astrologia, 3º Encontro da Ordem Sufi Halveti Jerrahi (muçulmana), 7º Encontro de Ateus e Agnósticos, 3º Encontro de Zen-Budismo, 5º Encontro da Igreja Cristã Libertária Popular, 2º Encontro da Filosofia Perene (o título de uma das palestras era Jesus: Filósofo Perene), 13º Encontro Nordestino do Movimento Hare Krishna, 1º Encontro Hai Kai, Encontro com o Santo Daime, 7º Encontro do Movimento Esperantista, 10º Encontro das Profissionais do Sexo de Campina Grande, 9º Encontro Afrobrasileiro Campinense, 2º Fórum das Religiões de Matriz Africana com Representatividade no Brasil, 6º Ciclo de Palestras sobre Sai Baba, 2º Ciclo de Palestras sobre o Pensamento Cristão etc.
Em seu livro Por Que Sou Cristão, John Stott explica que a Nova Era é a “mistura bizarra de diversas crenças, incluindo religião e ciência, física e metafísica, panteísmo antigo e otimismo evolucionista, astrologia, espiritismo, reencarnação, ecologia e medicina alternativa” (p. 111). Portanto, o que aconteceu em Campina Grande não é novidade nem algo exclusivamente brasileiro. Vale a pena transcrever mais este pronunciamento do conhecido pregador inglês: “É uma tragédia que muitos homens e mulheres modernos, na busca por transcendência, se voltem para as drogas, para o sexo, para a ioga, para as seitas e para a Nova Era, em vez de se voltarem para Cristo e sua igreja, onde se deveria experimentar cultos de adoração verdadeiramente transcendentes e desfrutar de um encontro íntimo com o Deus vivo” (p. 111).
O Mineiro não conseguiu entender a inclusão do Encontro da Comunidade Católica no programa do 14º Encontro para a Nova Consciência. Quanto ao Encontro das Profissionais do Sexo de Campina Grande, ele acredita que Jesus Cristo bem gostaria de estar presente para acusar seus clientes ou parceiros, para chamar a atenção delas para a via tortuosa e pecaminosa da prostituição e para mostrar sua misericórdia e seu perdão, como fez com a mulher samaritana (Jo 4.1-42), a mulher adúltera (Jo 8.1-11) e a mulher “pecadora” (Lc 7.36-50).
Os organizadores do 14º ENC não vão concordar com a palavra “mistura”, sobretudo “mistura bizarra”, usada por John Stott. Para eles, a reunião realizada todos os anos, desde 1992, não pretende nem misturar, nem unir os diversos segmentos religiosos, filosóficos e humanistas. Eles preferem chamar o evento de encontro macroecumênico.
A presença histórica do “pastor presbiteriano” Neemias Marien nas cerimônias de abertura de cada ENC já não escandaliza os protestantes. O ex-pastor da Igreja Presbiteriana de Copacabana, no Rio de Janeiro, há muito tempo trocou a confissão de fé evangélica e reformada pela confissão de fé espírita (veja Neemias Marien Faz Profissão de Fé Espírita, na edição de setembro/outubro de 1999, p. 15). Na verdade, Marien deixou de ser pastor presbiteriano, primeiro da Igreja Presbiteriana do Brasil e, depois, da Igreja Presbiteriana Unida. Hoje, ele é pastor de um pequeno concílio que reúne algumas poucas igrejas no Rio de Janeiro, que se desligaram da IPU. Por uma questão de honestidade, deveria abrir mão do título que não lhe pertence mais.
Bodes com entretenimento e ovelhas sem edificação
O Encontro para a Consciência Cristã (ECC) começou no Carnaval de 1999, por iniciativa da Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo. De acordo com o pastor Geraldo Máximo Elias, um mineiro radicado na Paraíba,
Foi o pastor Ridalvo
Que teve de Deus a direção
Pra começar este trabalho
E passar aos irmãos esta visão
De refutar a heresia
Com uma doutrina sadia
Amor, palavra e união.
O primeiro ano foi difícil
Mas foi o primeiro passo
O número não foi grande
Mas foi ocupado o espaço
Que antes era do inimigo
Que trazia às almas perigo
Mas foi quebrado o laço.
(Consciência Cristã em Versos, p. 7)
Hoje, o ECC está sob a direção da Visão Nacional para a Consciência Cristã (VINACC), uma associação evangélica sem fins lucrativos que reúne a maioria das igrejas evangélicas históricas e pentecostais de Campina Grande e que conta com o apoio da Ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil (OMEB) e da Associação dos Pastores Evangélicos da Paraíba (APEP). Já foram realizados seis eventos, cada um maior que o anterior.
Na abertura do 7º Encontro, dirigido por Euder Faber, presidente da VINACC e pastor de O Brasil para Cristo, com a presença de pelo menos 5 mil pessoas assentadas, fizeram uso da palavra o governador da Paraíba, o prefeito de Campina Grande e o presidente da Câmara Municipal. A música especial esteve a cargo do Grande Coral da Banda da Assembléia de Deus. O pregador foi Antonio Carlos Costa, pastor da Igreja Presbiteriana de Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Pode-se notar o congraçamento de várias igrejas evangélicas. É muito significativo que de um evento idealizado por pentecostais participem preletores batistas e presbiterianos históricos. Dos pregadores das cinco noites (3 a 8 de fevereiro), três são presbiterianos (Antonio Carlos, Marcelo Gualberto e Hamilton Medeiros), um é batista (Estevam Fernandes) e o outro é assembleiano (Jece Valadão). No domingo à noite, Estevam Fernandes, pastor da Primeira Igreja Batista de João Pessoa, antes de pregar, chamou à frente o pastor Euder Faber, da Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo, abraçou-o efusivamente, rendeu graças ao Senhor pela vida dele e levou a congregação a orar por ele. As palestras e os seminários realizados pela manhã (depois da devocional em conjunto) e à tarde foram dirigidos por líderes de diferentes denominações e de vários Estados, como Ricardo Marques (batista de Fortaleza, CE), Mauro Clementino (batista de Campo Grande, MS), Israel Rocha (assembleiano de São Paulo), Eleny Vassão (presbiteriana de São Paulo), Ildemar Nunes (batista de João Pessoa), Joel Santana (do Rio de Janeiro) e Joaquim Andrade (batista de São Paulo).
Curiosa e acertadamente, as pregações das reuniões plenárias não foram polêmicas. Antes, foram carregadas de autocrítica, especialmente as de Antonio Carlos, Marcelo Gualberto e Estevam Fernandes. Os pregadores foram corajosos em fazer algumas denúncias válidas e oportunas. Na primeira noite, Antonio Carlos declarou:
Basta um sujeito mencionar o nome de Deus, apontar para um versículo bíblico e falar de modo piegas sobre o evangelho, que nós temos como líquida e certa a conversão do mesmo. Isso é trágico, porque o que acaba ocorrendo é que recebemos uma quantidade absurda de não regenerados nas nossas igrejas, e essas pessoas têm nos dado muito trabalho.
A porta da igreja está aberta demais […]. Talvez uma das maiores evidências quanto a este fato é que hoje grande parte de nossos cultos é para o entretenimento dos bodes em vez da edificação das ovelhas.
Parece que está surgindo em nosso meio uma religião mais muçulmana e espírita do que imaginamos. Vemos prática do candomblé em nosso meio. Não se frequenta mais escola dominical a fim de se adquirir entendimento intelectual para se viver em verdade para a glória do Criador. Procuramos a solução dos nossos problemas em passes de mágica.
As mais de 5 mil pessoas reunidas naquela grande tenda, armada no Parque do Povo, no centro de Campina Grande, entenderam que o pregador se referia a certas inovações que estão penetrando sutilmente na igreja evangélica brasileira, seja histórica, pentecostal ou neopentecostal. Todavia, a mensagem de Antonio Carlos dizia respeito também à preocupação demasiada com o crescimento da igreja em detrimento da autenticidade, das convicções e do testemunho dos novos e dos velhos crentes. O jovem pastor da Barra da Tijuca recebeu muitas palmas, mas a grande pergunta é se a reação à mensagem irá para além das palmas.
O Mineiro teve o prazer de visitar o padre casado Carlos Almeida Pereira e sua esposa, Maria do Socorro, cuja história Frade franciscano troca três nós por três dobras ele havia contado na edição de novembro/dezembro de 2003. Aos 82 anos, o ex-professor do Seminário Franciscano de Ipurarana e da Universidade Federal da Paraíba trabalha seis horas por dia como tradutor de livros, do alemão, para várias editoras (Vozes, Nova Fronteira, Record, Paulinas, Contraponto). Uma das últimas traduções foi o livro Por Que Ainda Ser Cristão Hoje, de Hans Küng.
Graças à parceria da União Missionária Brasileira o Evangelho por Telefone (UMBET), a Editora Ultimato colocou nas mãos dos promotores do 7º Encontro para a Consciência Cristã 19 mil folhetos A Cruz Vazada para distribuição no imenso areópago da Borborema.
O Mineiro deixou Campina Grande com a forte sensação de que os cristãos precisam recuperar a centralidade de Jesus Cristo. Lembrou-se da exortação de João Calvino: “A tarefa da igreja visível é tornar visível ao mundo o reino invisível de Cristo”. A receita certa aparece no livro de Mark Shaw, missionário protestante no Quênia: “O que precisamos em nossas igrejas é falar sobre Jesus Cristo e o que ele fez por nós, e o que ele nos chama para fazer por ele e um pelo outro” (Lições de Mestre, p. 39). Para tanto é necessário que os nossos púlpitos estejam “encharcados de Cristo”.
John Stott lembra que “o tema da vitória por meio da cruz foi perdido por alguns teólogos medievais, mas recuperado por Lutero” (Por Que Sou Cristão, p. 67). Parece que estamos cometendo hoje a mesma omissão. É surpreendente, queixa-se o teólogo protestante James Dunn, que “a parusia de Cristo seja tópico que recebe relativamente pouca atenção entre os especialistas do NT nas últimas décadas” (A Teologia do Apóstolo Paulo, p. 348). O já citado Alexandr Mien é mais apelativo: “Ninguém, nem mesmo os bispos [da Igreja Ortodoxa Russa] que são conhecidos na televisão, pregam Jesus Cristo, Deus” (Alexandr Mien, Um Mártir da Rússia Hoje, p. 155). E o cardeal Dom Eugênio Sales, arcebispo emérito do Rio de Janeiro, explica que “o pouco conhecimento da mensagem integral que Cristo nos veio trazer facilita a penetração de crenças que podem ser aceitas como religião” (Jornal do Brasil, 20/1/05, p. A-11).
“Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão” (Ec 12.13):
Por ser quem é, o Jesus das Escrituras precisa ser alvo de nossa lembrança contínua, de nossas convicções, de nossa devoção particular, de nosso entusiasmo, de nossa alegria e de nossa pregação!
Texto originalmente publicado na edição 293 de Ultimato.
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