Os crimes contra as crianças não têm conta. Começam quando ela acaba de nascer, como acontece no Egito com os recém-nascidos do sexo masculino das hebreias que lá viviam na época de Moisés (Êx 1.15-22). Continuam quando a criança tem dois anos para baixo como aconteceu com “os filhos de Raquel”, em Belém e todos os seus arredores, na época de Jesus (Mt 3.16-18).

Ora as crianças são jogadas com vida no rio Nilo (Êx 1.22). Ora são oferecidas como sacrifício ao deus Moloque para serem queimadas pelo fogo, como se fazia entre os amonitas e, em época de grave crise, até os israelitas (Jr 32.35). Ora são imprudentes enviadas à Terra Santa para expulsar dali os infiéis, como aconteceu em 1212, com a denominada Cruzada das Crianças. Ora adoecem e morrem por falta de pão, por causa de consumismo de alguns. Ora adoecem e morrem por causa do álcool, das drogas e da AIDS, por não terem pais ou por terem pais separados ou irresponsáveis. Em meio a este cenário trágico que não pode ser desmentido, ouve-se uma voz retumbante por toda a terra que clama:

“Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus” (Lc 18.16).

O grito de Jesus em solidariedade às crianças é bem conhecido. Mas as circunstâncias no meio das quais o Senhor pronunciou essas palavras candentes precisam ser mais conhecidas.

Alguns pais tiveram a feliz ideia de trazer suas crianças a Jesus para que Ele as tocasse, lhes impusesse as mãos e orasse por elas (Mt 19.13-15, Mc 10.13-16 e Lc 18.15-17). E os discípulos tiveram a infeliz ideia de repreender esses pais, talvez para poupar Jesus de algum trabalho. Diante do impasse público, Jesus se põe ao lado das crianças e contra os discípulos, mesmo estando eles investidos de autoridade. Ele fica indignado contra os discípulos, chama as crianças para junto de si, toma-as em seus braços, impõe sobre elas as mãos e as abençoa. Foi nessa ocasião que Jesus pronunciou as mais solenes palavras sobre a atenção que se deve dar às crianças: “Deixai vir a mim os pequeninos, e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus”. E ainda acrescentou: “Quem não receber o reino de Deus como uma criança, de maneira alguma entrará nele”.

Esta não foi a única ocasião em que Jesus brigou com alguém por causa das crianças. No tumulto da expulsão dos que vendiam e compravam no templo, da derrubada de mesas e cadeiras e da cura de cegos e coxos, as crianças gritavam corajosamente no pátio: “Glória ao Filho de Deus!”. Os principais sacerdotes e os escribas ficaram indignados com o que Jesus fazia e com o que as crianças faziam. Então lhe perguntaram: “Ouves o que estes (os meninos, as crianças) estão dizendo?”. Jesus simplesmente respondeu, reportando-se ao Salmo 8: “Claro que sim. Vocês já não leram a passagem das Escrituras que diz: Deus ensinou as crianças e as criancinhas a oferecerem o louvor perfeito?” (Mt 21.12-17).

Numa terceira ocasião, Jesus se pronunciou em público sobre a integridade espiritual da criança e fez uma terrível ameaça: “Se alguém for culpado de um deles (os pequeninhos) me abandonar, seria melhor para essa pessoa ser jogada ao mar, com uma grande pedra amarrada ao pescoço” (Mt 18.6).

Jesus é a salvação das crianças. Não só por causa da perfeita redenção operada por Ele na cruz do Calvário em favor delas e dos adultos. Mas, também, porque Ele levanta a sua voz contra qualquer crime ou qualquer injustiça cometida entre as crianças. Jesus sempre se põe ao lado delas e contra os culpados, seja quem for, não importa como, quando e onde!

Artigo publicado originalmente na edição 249 de Ultimato, novembro de 1997.

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