Uma restauração da fé aqui e ali pode ser a ponta de algo maravilhoso que Deus irá realizar no país
As denominações históricas, as denominações pentecostais, as denominações neopentecostais, as igrejas cristãs não protestantes e, sobretudo, as igrejas locais – todas deveriam ter ouvidos abertos para ouvir o que o Espírito tem a lhes dizer. E o que o Espírito quer dizer é a necessidade de restauração que elas têm nesta ou naquela área ou em todas as áreas.
Das sete igrejas da Ásia Menor, apenas duas – a de Esmirna e a de Filadélfia – não precisam de restauração. A igreja de Éfeso precisa recuperar o amor perdido com o tempo, o amor que ela tinha anteriormente por Jesus Cristo (Ap 2.4). A igreja de Pérgamo precisa recuperar a ortodoxia doutrinária perdida com o tempo (Ap 2.14-15). A igreja de Tiatira precisa recuperar a ortopraxia perdida com o tempo (Ap 2.20-23). A igreja de Sardes precisa recuperar o entusiasmo perdido com o tempo (Ap 3.1-3). E a igreja de Laodiceia – coitada – precisa recuperar a seriedade (ela não era nem fria nem quente) perdida no tempo (Ap 3.15-19).
A restauração pode ser pessoal ou coletiva, isto é, pode acontecer com um membro da igreja ou com toda a igreja, ou pelo menos com a maioria dela. A restauração pessoal pode, pelo exemplo, contagiar outros irmãos. A igreja pega fogo quando o número de cristãos restaurados aumenta e a influência deles torna-se maior. Isso pode provocar no seio da igreja local ou no seio da igreja nacional aquilo que chamamos de avivamento.
Sob o ponto de vista histórico, avivamento é aquele período de tempo em que o Espírito atua maciçamente no meio de um grupo de cristãos ou numa igreja toda (ou quase toda), levando-os a buscar a Deus de forma mais intensa, deixando de lado a rotina, a frieza, a inércia e os escândalos, tudo para o engrandecimento do reino. Pode-se dizer que avivamento é a renovação e o alargamento da conversão. É a passagem da fé menor para a fé maior, do cálice pela metade para o cálice cheio, da entrega parcial para a entrega total, da mesmice para a novidade de vida, das obras da carne para os frutos do Espírito, da posse do Espírito para a plenitude do Espírito. O avivamento começa a manifestar-se e a tornar-se visível quando um bom número de irmãos passa por uma experiência de restauração espiritual.
Em poucas palavras, convém acrescentar que avivamento é o sopro de Deus para tirar a poeira acumulada no decurso dos anos, no período variável de tempo compreendido entre o avivamento anterior e o momento atual. Não importam nem a quantidade nem a qualidade da poeira. É uma obra de Deus, poderosa e periódica, que ele realiza quando e onde quer.
Um dos maiores avivamentos da história, o chamado Grande Avivamento, que varreu a Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, na década de 1730, tem muito a ver com a restauração de vários membros da igreja pastoreada por Jonathan Edwards, em Northampton, que antes eram como os ossos secos da visão de Ezequiel e sofriam de uma extraordinária insensibilidade religiosa.
Sem dúvida, o maior avivamento foi o que aconteceu na Europa no início do século 16. Ele é conhecido como a Reforma Religiosa, tal a sua abrangência e a sua durabilidade. Depois de mais de trezentos anos de escuridão, da Bíblia não lida e de desvios éticos e doutrinários, o movimento provocou a redescoberta da autoridade da Escritura Sagrada (o “Sola Scriptura” – somente a Escritura), a redescoberta de Jesus Cristo (o “Solo Christus” – somente Cristo), a redescoberta da graça (o “Sola Gratia” – somente a graça) e a redescoberta da fé salvadora (o “Sola Fide” – somente a fé).
Imensamente desejado por muita gente e por muito tempo, esse avivamento-mor demorou a acontecer. No entanto, ele provocou a Contrarreforma – a reforma ética dos arraiais católicos que não aderiram à reforma de Lutero, Calvino e outros – e seus resultados permanecem até hoje.
Uma restauração da fé aqui e ali pode ser a ponta inicial de algo maravilhoso que Deus irá realizar na igreja brasileira. Muitas restaurações nesta e naquela igreja, neste e naquele lugar, podem incendiar o país todo, não necessariamente no que diz respeito a sinais e prodígios, mas no que diz respeito à santidade de vida, ao amor e serviço aos outros e à paixão missionária. Vale a pena orar: “Restaura-nos, ó Senhor!” (Sl 80.3).
Texto originalmente publicado na edição 348 de Ultimato.