Oração e problemas conjugais
Não só de amor e sexo viverá o casal, mas também de oração, de muita e sábia oração. É mais necessário aprender a orar do que aprender a dormir com o cônjuge. Marido e mulher precisam aprender a orar juntos e a sós. Alguém acrescentou à passagem de Cântico dos Cânticos de Salomão de que “o amor é forte como a morte” (Ct 8.6) as palavras “mas tem a fragilidade do vidro”. Isso nunca esteve no texto bíblico, porém, todos devemos confessar que expressa alguma verdade.
O amor está em baixa hoje em dia. Não se acredita muito nele. Dizemos uma porção de provérbios que encostam o amor na parede. Um deles é: “Quando a pobreza bate à porta, o amor voa pela janela”. Parece que João Ribeiro valorizava provocadoramente mais a palavra ração do que a palavra razão para justificar a longevidade do casamento. Na mesma linha, diz-se que “o amor faz muito, mas o dinheiro faz tudo”. O ditado mais conhecido e mais irônico é este: “O amor é eterno enquanto dura”. Outro provérbio que desacredita o amor diz que “o amor faz passar o tempo e o tempo faz passar o amor”.
No entanto, há ditados mais otimistas. Aqui está um exemplo: “Onde manda o amor, não há outro senhor”. O mais equilibrado de todos declara que “o amor antigo não enferruja, e, se enferrujar, limpa-se”. É aí que entra a oração — para limpar a ferrugem do amor, para acabar com a ferrugem do matrimônio.
A licença para termos a ousadia de nos dirigir a Deus em oração vem do próprio Deus. É Ele que tomou a iniciativa de abrir esse canal de comunicação entre o totalmente pecador e o totalmente santo, por meio do sacrifício expiatório de Jesus Cristo. Ninguém pode se esquecer da promessa de Deus: “Se você me chamar, eu responderei” (Jr 33.3, BLH). Nem da repetição disso nas palavras de Jesus: “Peçam e receberão, procurem e acharão, batam e a porta se abrirá” (Mt 7.7, BLH). Nem da observação óbvia de Tiago: “[Vocês] não conseguem o que querem porque não pedem a Deus” (Tg 4.2, BLH).
A oração tem de ser precisa, consciente e fervorosa. Tiago cita um exemplo: “Se alguém tem falta de sabedoria, peça a Deus, e Ele dará porque é generoso e dá com bondade a todos” (Tg 1.5, BLH). No lugar da palavra sabedoria, posso colocar um monte de outras palavras, como, por exemplo: “Se alguém, cujo matrimônio se enferrujou, peça a Deus, e Ele desenferrujará o amor”.
Somos acostumados e incentivados a pedir apenas bênçãos mais simples e com sabor mais materialista, como saúde, melhor condição financeira, acumulação de bens de consumo etc. Mas não oramos, pelo menos com a mesma frequência, para acabar com as mágoas conjugais,com os conflitos conjugais ou com o desânimo conjugal. Não oramos contra a ferrugem e deixamos que ela destrua o casamento.
Seja qual for o problema, em qualquer área, em qualquer circunstância e em qualquer momento, é contra esse problema que precisamos orar, a sós ou juntos. Precisamos ter coragem de orar sobre situações tremendamente complexas, tais como a perda do primeiro amor, fantasias sexuais fora do casamento, dificuldades no relacionamento sexual, ciúmes, monotonia, impaciência, orgulho, mau caráter do cônjuge com o qual se vive, desejos adulterinos e daí por diante.
Se contamos todas essas dificuldades a um psicoterapeuta, por que não podemos contá-las ao próprio inventor do casamento?
O servo de Abraão pediu a Deus que o ajudasse a localizar a esposa de Isaque entre os parentes da Mesopotâmia (Gn 24.12-14). Isaque orou por vinte anos para Deus pôr fim na esterilidade de Rebeca(Gn 25.19-21). Ana orou por sua esterilidade e por seus aparentemente insolúveis problemas domésticos(1 Sm 1.9-18). A todos Deus ouviu na hora certa.
É assim que precisamos orar para destruir os pontos de ferrugem que estão aqui e ali, com precisão, com humildade, com insistência, com fé.
A prática da oração não deixa o vidro quebrar nem a ferrugem tomar conta daquilo que, um dia, foram os nossos mais felizes e emocionantes momentos!
Texto originalmente publicado na edição 265 de Ultimato.