Há 165 anos | 6 de janeiro de 1852

Em 1812 não havia um médico sequer no povoado de Coupvray, a poucos quilômetros de Paris. Quando Luís, de três anos, feriu acidentalmente o olho com uma sovela de selaria do pai, foi preciso chamar o veterinário Duclos. Este nada pôde fazer. Nem o famoso médico Fontaine, dois dias depois, em Paris. Luís estava irremediavelmente cego de ambos os olhos. A tragédia não poderia ter sido maior, pois naquele tempo os inválidos eram considerados como amaldiçoados por Deus: a igreja falava que era a vontade de Deus, o governo encolhia os ombros e os infelizes tratavam de arranjar-se da melhor forma possível. Os cegos em geral eram mendigos profissionais ou trabalhavam em companhias de palhaços, ridicularizando sua própria infelicidade para provocar o riso alheio. Mas já havia um esforço em contrário, a escola para menores cegos, fundada por Valentin Hauy, em 1784, em Paris. Luís foi levado para esta instituição com a idade de dez anos. Aprendeu a ler contornando com os dedos as letras impressas com tipos grandes e em relevo. O sistema era precário mas o melhor que havia até em então. O jovem cego aprendeu música também e chegou a tocar órgão e violoncelo, a ponto de dar concertos públicos. Tornou-se professor de cegos. Em 1826, com dezessete anos apenas, ouvindo a leitura de uma notícia de jornal por uma amiga chamada Denise, Luís teve a ideia de criar um código para os cegos. Pôs-se a trabalhar intensamente no projeto, terminando-o três anos depois. O novo processo de escrita – com pontos em relevo preparado por Luís e que leva o seu sobrenome – Sistema Braille – e é o melhor universalmente adotado até hoje. Luís Braille nunca se casou, embora entre ele e a formidável Denise houvesse uma forte amizade. Morreu muito jovem, aos 42 anos, tuberculoso e sozinho, no dia 28 de março de 1852. O mais doloroso, porém, é que Braille não teve a alegria de ver o reconhecimento público e oficial de seu sistema que ocorreu dois anos depois de sua morte. Afinal, muita gente achava que a infelicidade e a pobreza haviam sido determinadas por Deus, e ensinar um cego a ler era ir contra o Altíssimo.

 

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