Há acusações que procedem. São firmadas sobre relatos, sobre provas, sobre documentos. São produzidas por pessoas honestas, que nunca tiveram qualquer implicância contra o acusado. Mas há também acusações que não procedem. Baseiam-se ora em equívocos ora na maldade humana, que não suporta ver um homem íntegro. As provas são forjadas, falsas e mentirosas. As testemunhas, o promotor de acusação e o juiz são todos subornados. Desde que o mundo é mundo, há justos colocados na cadeia e criminosos colocados na rua.

O ser humano precisa estar aberto e ao mesmo tempo fechado à acusação. Aberto, se definitivamente cometeu algum pecado. Fechado, se definitivamente não pecou. Não pode se enganar a esse respeito. Se errou, tem que aceitar a acusação. Se não errou, tem que rejeitar a acusação. Não pode perder tempo em nenhum dos dois casos. Não pode vacilar. Não pode ser vencido pelo peso da autodefesa no primeiro caso. Nem pelo peso da autoacusação no segundo caso. Precisa agir corretamente. Se não aceitar a acusação do crime que realmente cometeu, ele se perde. Se aceitar a acusação do crime que realmente não cometeu , ele também se perde. A tranquilidade de quem não pecou precisa ser quebrada. A tranquilidade de quem não pecou não pode ser quebrada. Depois de ser acusado de um adultério realmente cometido, Davi não poderia continuar tranquilo. Depois de ser acusado de um assédio sexual não cometido, José não poderia abrir mão de sua tranquilidade. Ambos os casos são extremamente delicados e exigem uma atitude firme e corajosa. Se pecou, ninguém pode se declarar inocente; se não pecou, ninguém pode se declarar culpado. Daí a conveniência e a improcedência da confissão sob tortura: alguns não resistem à dor e mentem, confessando crimes não cometidos.

As escrituras Sagradas dão orientações precisas sobra a necessidade de admitir a culpa, caso o pecado tenha sido consumado; e sobre a necessidade de resistir à acusação, caso não haja pecado. Quem pecou não pode se enganar a si mesmo e mentir. Precisa declarar-se culpado e confessar o pecado praticado, para ser perdoado e novamente lavado no sangue de Jesus (1 Jo 1.5-10). Quem não pecou não pode ser enganado por seus acusadores e se entristecer. Precisa declarar-se livre do pecado pela misericórdia divina e entregar-se aos cuidados de Deus para não pecar contra Ele. Quem, depois de haver pecado, não confessa o pecado, comete loucura. Quem, depois de vencer uma tentação, se julga culpado, também comete loucura.

Ninguém se iluda: ser acusado injustamente de pecado é uma estratégia muito usada. A mulher de Potifar mentiu ao marido quando disse que José a procurou para deitar-se com ela (Gn 39.10-23). Os três amigos de Jó não souberam interpretar o sofrimento do homem da terra de Uz e o acusaram de toda sorte de pecado, como se o pecado fosse a única causa das desventuras. Volta e meia Jó era convidado a se converter ao Todo-poderoso e parar de pecar (Jó 8.5-7; 11.13-20; 22.21-30), embora o Senhor mesmo tenha chamado a atenção de Satanás, o acusador mor (Ap 12.10), para o seu servo, apresentando-o como “homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal” (Jó 1.8 e 2.3).

Para ficar a salvo do bombardeio da acusação que procede, o pecador precisa parar de pecar e apropriar-se da justificação tornada possível por Jesus Cristo (Rm 5.1). Para ficar a salvo do bombardeio da acusação caluniosa, o pecador precisa dar graças a Deus porque tudo não passa de invenção humana e diabólica e abrigar-se cuidadosamente debaixo da graça de Deus.

Texto originalmente publicado na edição 252 de Ultimato.

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