O Encontro de Billy Graham e C.S. Lewis
Por Cleber Santos Oliveira
No dia 21 de fevereiro de 2018 às 7:46 da manhã William Franklin Graham Jr., Billy Graham, com 99 anos, partiu para a Casa do Senhor. Ninguém imaginava que aquele pequeno garoto que trabalhava incansavelmente na fazenda da família, entre fenos e palhas, na cidade de Charlotte, na Carolina do Norte, se tornaria um dos maiores evangelistas do século XX, estaria a frente de uma associação evangelística cristã identificada com seu nome a Associação Evangelistica Billy Graham, 55 anos depois pregaria o Evangelho de Jesus Cristo para mais de um milhão de pessoas na Praça Yoido, Seul, Coréia e impactaria milhoes de vidas em todo planeta terra com mensagens de Esperança.
Para Billy Graham as faculdades e universidades também eram prioridades em sua agenda, porquanto a juventude e particularmente os estudantes universitários eram constantemente motivos de preocupação. Dentre inúmeras reuniões realizadas por Billy Graham a reunião na Universidade de Cambridge em 1955 teve um significado especial. Foi lá, num sábado à tarde de novembro, que seu amigo de confiança John Stott lhe apresentou C.S. Lewis.
Billy Graham foi convidado para participar de uma série de oito reuniões patrocinada pela União Cristã Inter-Acadêmica de Cambridge (CICCU). A presença do evangelista na universidade foi motivo de muitas controvérsias, o que levou Graham a escrever uma carta ao seu amigo John Stott expressando sua incapacidade e despreparo para essa missão.
C.S. Lewis ainda não era muito conhecido nos Estados Unidos mas o seu livro The Screwtape Letters já havia conquistado muitos leitores tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos e o próprio Graham já havia lido o livro. Quando Stott levou Billy para conhecer C.S. Lewis na faculdade Santa Maria Madalena, Billy se sentiu tímido diante da perspicácia e inteligência de Lewis. Entretanto, de acordo com Graham, Lewis foi muito gentiu e cordial com ele e “pareceu estar verdadeiramente interessado em nossas reuniões”, e ainda disse assim “ ‘Sabe’, disse ele quando nos despedimos, ‘você tem muitos críticos, mas, ao que me consta, nenhum deles o conhece pessoalmente’”.
De fato, Billy Graham não foi chamado para apresentar o lado intelectual do evangelho, mas as profundas verdades do evangelho de maneira simples e clara:
“Ele costuma manter simplicidade em sua pregação e, com muita satisfação, sempre que o ouvia em seu notável e transparente caminho, pode expressar incontestáveis e fortes argumentos teológicos e fazer com que isto parecesse quase como uma conversa de cozinha. Ele fala de modo que uma criança de doze anos de idade compreenderia conceitos com os quais teólogos experientes têm de lutar” (Robert O. Ferm, p.22).
C.S. Lewis tinha um dom notável de tratar de assuntos profundos com perspicácia e simplicidade. Seus livros eram de natureza explicitamente filosófica e receberam muita atenção e comentários críticos de filósofos profissionais e acadêmicos de diversas áreas do conhecimento humano. Entretanto, o apologista britânico era alguém que cultivava a verdadeira humildade porque compreendia que viver bem é um modo de iluminar outros: a verdadeira humildade envolve simplicidade e singeleza. Lewis compreendia que o cristianismo é que dá sentido e significado a vida. Compreendia que era o cristianismo puro e simples que brilha como a sarça ardente. Entendia que a mensagem da Cruz é que era como a coluna de nuvem, de dia e a coluna de fogo, de noite. Julgava que a mensagem simples do envangelho é que tem o poder de acender a luz do perdão em meio à escuridão das trevas do pecado, uma luz cujo resplendor brilha por toda a eternidade.
Lewis não foi mais um dentre tantos a se levantar como uma voz crítica ao notável evangelista norte-americano, pelo contrário, alcançou o coração cheio de graça, determinação e zelo do pregador de Charlotte que reconhecia a sua responsabilidade de pregar o Evangelho para a sua geração e soube ponderar a virtude do serviço do Reino de Deus à humanidade cuja obra não era de homens, mas de Deus (Atos 5.38-39). Quem sabe Lewis pôde evidenciar o amor ação! Amor a serviço do Reino de Deus.
“Billy Graham proclamou fielmente o Evangelho de Jesus Cristo a um mundo perdido, compartilhando o amor de Deus e o perdão do pecado. Ele sempre disse: “Eu não tenho medo de morrer, pois sei que as alegrias do céu estão me esperando… Você estará fazendo a mesma jornada algum dia? “A Bíblia diz:” Deus nos deu a vida eterna e Esta vida está em Seu Filho… Acredite em nome do Filho de Deus, para que você possa saber que você tenha a vida eterna ” (1 John 5:11, 13, NKJV)”.
Decerto, Sr. Billy Graham foi a carta de Cristo que resplandeceu como luzeiro no mundo e por certo C.S. Lewis enxergou esse resplendor no pregador de Charlotte.
Muito obrigado C.S. Lewis! Muito obrigado Billy Graham!
Referências Bibliográficas
GRAHAM, Billy. Billy Graham: O Evangelista do Século/ [Tradução: Maria Emília de Oliveira]. – São Paulo: Hagnos, 2008, p. 276-280.
Pensamentos e Reflexões sobre os Princípios de vida de Billy Graham. São Paulo: CPAD, 2005, p.22.
Citação (Traduzido de: https://memorial.billygraham.org/media-downloads/>acesso em 23.02.2018.
Reginaldo Elizeu Gonçalves Couy
Muito obrigado pela história contada. Não a conhecia.
Abraços
Gabriele Greggersen
De nada, Reginaldo. Que bom que gostou.
Abraços
Gabriele
Gabriele Greggersen
Foi um prazer.
Rafael Pinheiro da Silva
Muito bom!
Estava curioso para saber se eles tinham se encontrado. Quero saber se com Luther King Jr também aconteceu, Billy Graham com Luther King Jr eu já li. Top!
Gabriele Greggersen
Que bom que tenha gostado. Do Billy Graham com Luther King eu não tenho notícia. Mas que bom saber que eles também se encontraram.
Bom Natal!!
Cleber Santos Oliveira
Oi Gabriele. Martin e Graham se encontraram. Um encontro memorável aconteceu numa noite durante a Cruzada de Nova York em 1957. Na ocasião o Dr. King foi chamado para liderar um momento de oração. Graham disse que naquele momento em que os Estados Unidos passava por uma grande revolução social o Dr. Martin Luther King tinha um papel fundamental em conduzi-la no amor cristão. Graham, profundamente influenciado pela Bíblia, acreditava que “a desigualdade racial era injusta e que os cristãos deveriam demonstrar amor a todas as pessoas” (Graham, 2008, p. 463), e sabia que não deveria ficar à parte dos problemas que assolavam a América naquele período turbulento em que protestos, manifestações e tumultos eram constantes, mas que precisava encará-los de frente. Em sua autobiografia Billy conta que na Cruzada em Chattanooga em 1953, no Tennesse, entrou a noite no estádio e enquanto as pessoas chegavam para assistir a reunião ele retirou as cordas que separavam os brancos dos negros, que de acordo com Billy “[…] haviam sido colocadas por ordem do comitê local, de acordo com o costume da época” (Id. p. 463) e mesmo causando ira e indignação em algumas pessoas ele não voltou atrás. Para Billy o mandamento do Senhor Jesus “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Mateus 22.39) não era seletivo, mas era aplicado a todos independente das circunstâncias, classe social e, acima de tudo, da cor da pele. Graham disse que muitas vezes ficou no meio de fogo cruzado entre os conservadores e liberais radicais – ambos os grupos, na verdade, não tinha interesse por suas Cruzadas evangelísticas, porém, as pessoas que apoiavam seu ministério ativamente compreendiam muito bem seu compromisso de “fazer o possível para acabar com a influência perniciosa do racismo, por meio da evangelização” (Id. p. 464). Conforme Billy eles já haviam conversado anteriormente sobre o método do Dr. King para a reforma social que era a utilização de manifestações não violentas cuja finalidade era abolir a segregação racial. De acordo com Graham “O Dr. King insistiu para que eu continuasse a fazer o que estava fazendo – pregar o evangelho a negros e brancos e defender os objetivos dele como exemplo – mas não me ajuntar a ele nas manifestações de rua”. ‘Permanece nos estádios, Billy’, disse ele, ‘porque você causará impacto muito maior no meio dos brancos do que marchando nas ruas. Além disso, você conta com o apoio de um grupo que o escutará, principalmente entre os brancos, mas que não prestará muita atenção em mim. Se um líder caminhar muito à frente de seus seguidores, eles o perderão de vista e não mais o acompanharão’. Segui seu conselho” (Id. p. 464) concluiu Graham. Para Billy Graham “o Cristianismo não é religião de homens brancos e jamais deixe que alguém diga que é de negros ou de brancos. Cristo se aplica a todas as pessoas. Cristo se aplica ao mundo todo”.
Abraços
Cleber
GRAHAM, Billy. Billy Graham: O Evangelista do Século/ [Tradução: Maria Emília de Oliveira]. – São Paulo: Hagnos, 2008, p.463 e 464.
Billy Graham: O Embaixador de Deus. Gaither Film productions. Produção: 2006. DVD: 122 min. Distribuído no Brasil por COMEV.
Gabriele Greggersen
Oi Cleber,
Desculpe a demora em responder. Estive envolvida num projeto grande de tradução.
Obrigada por sua contribuição para o debate. Muito bom o texto, como sempre.
Abraço
Gabriele