Por Sandro Pereira

 

Na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo deixa algumas perguntas cruciais que elucidam e esclarecem o lugar de cada um na proclamação do evangelho do reino: “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: ‘Como são belos os pés dos que anunciam boas-novas!’” (Rm 10.13 a 15).

A razão, a base, a motivação e a centralidade de toda obra missionária é Jesus Cristo, mas fica claro no texto acima de que existe apenas um recurso definido para o cumprimento da missão: as pessoas que enviam e as que são enviadas.

São pessoas, trabalhadores e discípulos que são enviados como missionários na grande seara, assim como também, quem envia são as pessoas e discípulos da Igreja.

O cuidado missionário é imprescindível e importante nessa perspectiva eterna e profética do avanço do evangelho do reino. A partir dessas reflexões precisamos olhar o cuidado integral do missionário não como um simples detalhe ou um novo programa estratégico que está crescendo no contexto missionário.

O cuidado do missionário e de toda sua família é central para o cumprimento da grande comissão. Cuidar dos enviados é imprescindível diante do plano final e profético de Deus em reunir todas as nações, tribos, povos e línguas. Cuidar da pessoa do missionário e de cada membro de sua família é consolador e preventivo em meio a batalha espiritual que cerca todos os obreiros no mundo.

Depois de quase uma década plantando igrejas e outra década, nesses últimos anos, envolvido diretamente no cuidado integral do missionário, o texto de Mateus 9.35 a 38 tem norteado minha vida e ministério:

“Jesus ia passando por todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando as boas-novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. A ver as multidões, teve compaixão delas porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor. Então disse aos seus discípulos. A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Peçam, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para a sua colheita.” (Mt 9.35-38).

Assim como Jesus Cristo, são os trabalhadores que:

  • Vão a todos os lugares (verso 35)
  • Cuidam com compaixão de todas as pessoas (verso 36)
  • Veem e sentem o tamanho e a urgência da missão (verso 37)
  • Oram pelo envio de mais trabalhadores (verso 38)

Podemos perceber a partir desse texto do evangelho uma ilustração prática da Grande Comissão sendo cumprida por Jesus Cristo. Jesus Cristo se envolveu diretamente, sendo obediente até a morte (Fp.2.8), no enredo histórico e no propósito estabelecido desde Gênesis.

Vemos Jesus Cristo em missão, pregando o evangelho de alcance integral, eterno e profético, pois o fim já está certo. Jesus Cristo nos mostra a vida de um missionário enviado aos campos cumprindo o propósito de Deus em sua geração.

 

> Missionários Feridos — como cuidar dos que servem <<

 

Olhando para Jesus Cristo em missão, podemos justificar porque a Igreja e as organizações missionárias devem ter um olhar eterno e profético do evangelho no cuidado integral do missionário. Cada missionário que deixa o campo prematuramente é menos um na grande seara.

Como ouvirão se o missionário voltou ou saiu do campo prematuramente e como pregarão se não forem cuidados?

Sugestões e dicas práticas para os enviadores, mantenedores, apoiadores e intercessores

Precisamos preservar o que temos de mais precioso e valioso. O recurso na Grande Comissão são os discípulos pregando o evangelho do reino até os confins da terra.

Todos os tipos de instrumentos, ferramentas e estratégias são importantíssimos e podem ser utilizados para o cumprimento da Grande Comissão, porém temos que entender que pode faltar templo, pode faltar barco, pode faltar carros, pode faltar o planejamento estratégico, até podem faltar os recursos financeiros e ou qualquer outra “coisa”, mas o que não pode de fato faltar no cumprimento da Grande Comissão são os discípulos, as pessoas e os trabalhadores que multiplicam discípulos de todas as nações.

Deixo algumas sugestões e dicas para todos os envolvidos no envio de missionários:

  • Dê todo o apoio e suporte nas mudanças, ou transferências de campo e ou na reentrada do seu missionário;
  • Conheça e contextualize a Igreja sobre os desafios e necessidades do campo que seu missionário foi enviado;
  • Envie pequenos grupos de pessoas para visitar o campo de seu missionário;
  • Não olhe simplesmente para os grandes desafios que o missionário enfrenta, ou para a cultura, costumes e jeitos que ele tem ou foi inserido, mas olhe para a pessoa do missionário, tendo um coração pastoral, reconhecendo sua humanidade, acolhendo e o pastoreando;
  • Olhe integralmente para ele com compaixão, esse obreiro não é um “super-homem ou uma mulher maravilha”. Missionário não é anjo e seu corpo ainda não foi transformado;
  • Mobilize a Igreja e parceiros para cuidar dos trabalhadores e de suas famílias em todas as dimensões e não somente de seu trabalho no campo. Não pergunte somente como está o trabalho, mas pergunte principalmente: Como você e sua família estão?
  • Assim como, o missionário se torna médico, pedreiro, consultor financeiro ou terapeuta e coloca em prática tantas habilidades para cuidar de todas as pessoas, proponho que você mobilize profissionais e outros talentos em sua Igreja, para cuidar dos que cuidam, para atenderem os missionários com toda compaixão.
  • Visitem o campo missionário e parem para ouvir suas histórias e vidas;
  • Caminhem no campo missionário e sintam um pouco do calo no sapato que eles calçam;
  • Sentem na mesa no lar de seus missionários e provem dos sabores e das condições da família missionária;
  • E então, com conhecimento de causa, ore com seu missionário, apoiem e clamem com eles por mais trabalhadores;
  • Levantem intercessores fiéis para acompanharem seus missionários em oração;
  • Não digam que vão orar, mas entrem em contato e orem com seu missionário e família;
  • Mobilizem conselheiros bíblicos e pastores para pastorearem a família missionária;
  • Realizem campanhas de oração periodicamente pelos desafios dos campos.

 

  • Sandro Pereira, pastor batista e missionário de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira desde 2007. Fundador e gestor da área do CIM – Cuidado Integral do Missionário de Missões Nacionais. Membro do Conselho deliberativo do CIM Brasil da AMTB. Mestre em Estudos Teológicos pelo Southeastern Baptist Theological Seminary e Pós-graduado em aconselhamento bíblico pela Faculdade Teológica Batista de Campinas. Membro da Igreja Batista Missionária do Maracanã, no Rio de Janeiro, e autor do livro Cuidado Integral do Líder. Casado com Denise Pereira e pai da Sara e Davi.

 

Bibliografia

1. Wilson, Reagon e Kronbach, David. Tender Care. Londrina: Descoberta. 2022.
2. Coles, Dave e Parks, Stan. 24:14 – Um Testemunho para todos os Povos. Curitiba: Publicação Pão Diário.
3. Silva, Carlos Eduardo Souza da. Segure a Corda: A Importância da Igreja Local em Missões – Autor da Fé Editora, 2020.


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Saiba mais:

» Missionários Feridos – como cuidar dos que servem, Antonia Leonora van der Meer
» Fábrica de Missionários, Rubem Amorese
» Enviando e cuidado dos missionários
» Cuidando dos filhos de missionários brasileiros em meio a uma pandemia
» A garota [da foto] na geladeira – os filhos de missionários também são chamados?

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