Uma reflexão no livro de Atos

Por Raquel Villela

O capítulo 1 do livro de Atos fala em seu versículo 14 que os discípulos reunidos no cenáculo “perseveravam unânimes em oração”. O motivo pelo qual oravam aparece um pouco antes, no versículo 8, nas palavras de Jesus: “recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra”. E foi assim que aconteceu, após 10 dias de oração e expectativa, como relatado no início do capítulo 2. O restante do livro de Atos fala do efeito extraordinário do Espírito Santo na sociedade da época, fluindo através da vida daquelas pessoas simples.

O primeiro aspecto a ser observado é talvez o mais difícil de se colocar em prática. É a tal da espera. Não é fácil esperar. Os discípulos esperaram porque Jesus pediu e porque naquele momento se sentiam mais seguros fechados no cenáculo. Também o apóstolo Paulo esperou. Começou sua atividade missionária depois de Ananias impor as mãos sobre ele para receber o Espírito Santo, conforme Atos 9. 

Assim deveria ser também nos tempos atuais, mas os cristãos seguidamente pulam essa etapa. Nem sempre percebem que estão negligenciando o fator divino. Costumam estar pressionados pelo tempo ou confiando em estratégias, treinamentos e outros recursos que os levam à ação antes de entenderam com clareza a orientação do Alto e serem espiritualmente fortalecidos. Planejar, capacitar e administrar são essenciais, mas a etapa da oração não pode ser descartada porque é a maneira pela qual Deus entra no processo. Se Ele não entrar, a missão vai depender apenas do esforço humano e pode até avançar – e tem avançado – mas fica limitada em seus efeitos. 

O Espírito se manifestou para que os discípulos testemunhassem sobre Jesus. Havia um propósito “missionário”, para usar a linguagem atual, pois o poder foi concedido para continuarem a missão iniciada por Jesus. Assim é até hoje. São condições interligadas. O próprio Espírito gera um impulso imediato para sair às ruas e às nações, a exemplo de Pentecostes e de outras situações ao longo de Atos. 

>> Refeições Diárias <<

Na comunidade primitiva dos discípulos havia outra particularidade. Eles oravam juntos. Há algo de especial na oração coletiva, capaz de fazer o chão tremer (4:31). Favorece a unidade espiritual, tão preciosa para Deus. Estimula o amor, fortalece a fé, gera alento mútuo, produz convergência de propósitos e uma legitimidade para levar adiante a tarefa comum de pregar a Cristo. É de valor inestimável também a oração que se faz em secreto com o Pai para receber dele orientação específica e a clareza de detalhes sobre a própria tarefa. 

Orar, aguardar e caminhar com Deus em sua missão é um roteiro simples e muito eficaz para produzir resultados ainda hoje. Assim está ocorrendo entre lugares e povos não alcançados em várias partes do mundo. Um movimento vibrante, conduzido por organizações comprometidas em chegar ao último da terra, tem feito o número de novos crentes crescer de forma exponencial, contabilizando alguns milhões de igrejas domésticas. O que elas fizeram? Tomaram a igreja primitiva como referência e, em meio a muita diversidade, seus obreiros “tinham uma coisa principal em comum: todos passavam pelo menos duas horas por dia em oração e tinham momentos especiais semanais e mensais de oração e jejum com suas equipes”. Na oração deles está implícita a ideia de diálogo amoroso com Deus, unindo aspectos como louvar, confessar, ler a Palavra, meditar, escutar e agradecer. 

É assim que alguns dos atos da igreja de Cristo estão sendo escritos hoje e, junto com os relatos bíblicos, são inspiração e encorajamento para a continuidade da história da Igreja. É bem oportuna aqui a observação do pastor norte-americano Rick Warren: “Os discípulos oraram durante dias, pregaram durante minutos e milhares se salvaram. Hoje oramos durante minutos, pregamos durante dias e poucos se salvam”. 

Notas: 

1 Dave Coles e Stan Park, org.: 24:14 Um Testemunho Para Todos os Povos, pág. 120, Publicações Pão Diário, 2022.

  • Raquel Villela Alves, membro colaboradora da Missão ALEM, coordenadora de tradução na área de comunicação de COMIBAM, coordenadora da Aliança Pró-Tradução da Bíblia e da intercessão missionária na AMTB e representante no Brasil da Rede de Oração Ethne (formada por organizações comprometidas com povos não alcançados).

REVISTA ULTIMATO | MAMOM VERSUS DEUS

Ao todo, Jesus contou 38 parábolas. Mais de um terço delas trata de assuntos ligados a posses e riquezas. Há cerca de quinhentos versículos sobre oração na Bíblia. Sobre dinheiro e posses são mais de 2.300.

As Escrituras se ocupam desse assunto porque ele é crucial para a fé. Trata-se de onde colocamos nossos afetos e a quem seguimos. Jesus adverte: “Onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6.21).

É disso que trata a matéria de capa da edição 402 da Revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.

 

Saiba mais:

Refeições Diárias – No partir do pão e na oração, Elben César

O Caminho do Coração – O sentido da espiritualidade cristã, Ricardo Barbosa

O Espírito Santo em movimento, edição 340 de Ultimato

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