A história de Ultimato contada por um neto do fundador
Por Davi Bastos
O ponto de virada no meu envolvimento com Ultimato foi a minha adolescência. Qual foi a minha surpresa ao descobrir que eu poderia ler a revista! Passei a ver Ultimato por aquilo que ela é: um instrumento de Deus para evangelização e para edificação. E a partir de então passei a ser edificado pela revista e pela editora.
Muitos conhecem a história da Ultimato contada pelos diretores, Klênia, Marcos e Emmanuel – Emmanuel é o meu pai, por sinal. Alguns a ouviram do Elben, meu avô. Outros conhecem pela tia Deja, minha avó, ou por suas filhas. Mas a Klênia me pediu pra compartilhar com vocês a história da Ultimato da minha perspectiva. E essa creio ser desconhecida de muitos.
Um problema inicial é que Ultimato tem 54 anos, mas eu só tenho 26. Vou contar, portanto, um pouco menos da metade da história da Ultimato, e ressaltando alguns pontos que geralmente não são tão enfatizados – falarei da minha perspectiva de infância. Será menos a história da Ultimato, e mais a minha história com Ultimato.
Quando eu nasci, em 1995, a Ultimato ainda não tinha sua sede. A Revista (e nessa época já uma jovem editora) Ultimato funcionava no andar de baixo da casa em que eu morava. Só morei em cima da Ultimato, contudo, no meu primeiro ano de vida, e não posso dizer que tenha memórias de então.
Logo que a sede da Ultimato foi inaugurada, em 1998, tanto meu pai quanto minha mãe trabalhavam na editora. Minha mãe era revisora e trabalhava no andar de cima. Eu me lembro de ir à Ultimato e ficar desenhando nas inúmeras folhas de rascunho que o processo de revisão impresso gerava – coisa do passado, creio eu. Minha prima, que morava bem ao lado da sede, achava que a Ultimato era nossa papelaria particular: quando acabava o grafite ou a borracha, era só ir buscar na Ultimato.
O envolvimento das filhas de Elben César – do vô, como o chamávamos – na Ultimato foi muito intenso desde o início da revista, naquela época ainda jornal. O envolvimento dos netos já foi muito diferente. Brincávamos muito na Ultimato e atrapalhávamos todo mundo – especialmente, claro, nossas mães. Mas nos envolvíamos mesmo era a cada dois meses, na expedição da revista (um grande mutirão para enviar as revistas impressas aos seus destinatários).
A expedição era toda feita a partir de Viçosa, e envolvia muitas pessoas. Fazíamos ela na casa da tia Iêda, viúva de um dos fundadores da primeira igreja evangélica em Viçosa, e depois passamos a fazer no Centro Evangélico de Missões. (Atualmente a maior parte é feita de São Paulo, por um serviço terceirizado.) O trabalho era especialmente manual: basicamente etiquetar revistas, montar kits de assinaturas coletivas (na época a assinatura coletiva era muito comum) e deixar tudo separado e organizado. Mas parte fundamental da nossa participação na expedição consistia em subir nas enormes pilhas de revistas, pular em cima ou de cima delas, construir castelos e fortes e se esconder atrás ou no meio daquela revistaiada.
Claro que só podíamos fazer isso com as revistas ainda não etiquetadas ou organizadas, e se alguém errasse o monte que era de brincar, levava uma baita bronca por bagunçar tudo de novo. Todos da Ultimato levavam muito a sério, contudo, o “deixai vir a mim as criancinhas”, e a gente era muito bem tratado e acolhido no ambiente de trabalho.
Deixando a bagunça de lado, também ajudávamos, etiquetando principalmente – embora todos quisessem mesmo era mexer na seladora e atear fogo nos plásticos sobressalentes.
Em 2008 tivemos o evento de aniversário de 40 anos da revista, na Igreja Presbiteriana de Viçosa, onde o vô era pastor emérito. Participei e ajudei na cozinha, se não me engano. Mas não tinha paciência ainda para ficar ouvindo aquele monte de estranhos falar sobre a história da Ultimato. Por volta dessa época a crise financeira começou, e Ultimato passou por um grande processo de reestruturação e reorganização, que tem dado muitos frutos até hoje.
À medida que fui crescendo, fiz alguns outros trabalhos pontuais parecidos na equipe de circulação e expedição: mala direta, descarregar o caminhão, contar o estoque etc.
Mas o ponto de virada no meu envolvimento com Ultimato foi a minha adolescência. Qual foi a minha surpresa ao descobrir que eu poderia ler a revista! Nunca tinha me passado isso pela cabeça antes. E foi na adolescência que eu passei a ver Ultimato por aquilo que ela é: um instrumento de Deus para evangelização e para edificação. E a partir de então passei a ser edificado pela revista e pela editora.
Para exemplificar essa questão da leitura de Ultimato, trouxe um livro de C. S. Lewis que ganhei do vô. Vejam o que ele escreveu na dedicatória.
Quando completei 18 anos, mudei-me para Campinas, para estudar Filosofia, e me tornei representante de vendas da Ultimato em Campinas. Participei de vários eventos vendendo os livros, e também os vendia semanalmente em duas igrejas e na ABU. Teria muitas histórias e loucuras para contar sobre essas aventuras também, envolvendo estandes pequenos demais e desprovidos de mesas e prateleiras, viagens de ônibus carregando 10 caixas de livros no braço, e promoções de assinatura da revista com doce de leite Viçosa como brinde – essa promoção infelizmente não fez sucesso, e os doces de leite ficaram guardados na garagem da minha república até um dia antes do vencimento, quando fizemos vários rocamboles e acabamos com aquelas latinhas. Essas e outras histórias ficarão para uma outra ocasião.
Mais recentemente, pude escrever alguns textos para o portal Ultimato, fui secretário do Conselho de Família, que supervisiona a Ultimato externamente, e, agora em 2022, comecei a trabalhar na Editora.
Ultimato não é apenas uma editora, é também um ministério. E, ao ser tão marcada pelo evangelho, Ultimato tem sido sempre um espaço de alegria – com ou sem crianças pulando de cima das revistas. Que Deus fortaleça a nós, a equipe da Ultimato hoje, para cumprirmos essa missão e esse trabalho com alegria, pautados naquilo que pregamos: Deus Pai, Criador Todo-Poderoso; Cristo Crucificado e Ressurreto, Nosso Senhor; e sua Comunidade de Amor e Paz dirigida por Seu Espírito Santo.
Davi Bastos é casado com Samara, e é pai do Moisés e da Irene. Filósofo e estudante de pós-graduação, trabalha no departamento editorial da Ultimato.