Por Timóteo Carriker 

Meus pais Jack e Bernie, em 1948

Meus pais Jack e Bernie, em 1948

Ontem (13/10/2013) foi o enterro da minha mãe, Merrell Berniece Carriker, que morreu aos 82 anos. Foi um dia bom e de boas lembranças, dia de reencontro com parentes, primos e amigos a quem raramente me encontro. Fiquei grato a Deus pela vida de minha mãe. Minha visão escatalógica me fez pensar como será o corpo ressurreto dela e como será a vida na nova criação com parentes e amigos; tudo, claro, ofuscado pela glória da convivência com Jesus.

A minha mãe teve uma criação difícil, para não dizer trágica. Seu pai, o segundo marido da minha avó materna (o primeiro tinha falecido), ficou preso por longos anos por causa de um crime indizível (me falaram dez anos atrás que ele foi acusado falsamente). Minha avó então se divorciou e casou-se novamente com um grego que não aceitou os filhos do “criminoso”. Em 1934, com quatro anos de idade, minha mãe e seu irmão, Calvin, foram, sem saberem de nada, depositados na porta do orfanato metodista em Winston-Salem, cidade próxima de Charlotte, onde permaneceram durante dez anos. Meu pai, durante toda a sua vida, mal falava com a minha vó. Hoje sei porque.

No orfanato, minha mãe era um dos “meninos danados” que pulava a cerca, andava nas costas das vacas e levava bronca do fazendeiro vizinho. Não sei os detalhes, mas aos 14 anos ela voltou para a casa da minha vó e em algum momento foi acometida de poliomielite. Três anos depois, conheceu meu pai, recém chegado da ocupação americana do Japão no fim da Segunda Guerra Mundial. Aí, quero creio, encerrou-se a tristeza.

Meu pai John Anderson Carriker (Jack), filho de pastor e romântico incurável (não sei se há relação entre uma coisa e outra; os psicólogos nos ajudem!), se apaixonou por ela e, ao conhecer sua história, interrompeu os seus estudos na faculdade e logo a pediu em casamento. Após o primeiro ano, tiveram o primeiro filho (John III) e nos quatro anos seguintes mais três meninos. Os pais trabalharam duros para nos criar. Meu pai era bombeiro e trabalhava em mais um ou dois empregos (por exemplo, montando os brinquedos nos MacDonalds inventados por um artista-engenheiro local e conhecidos no mundo inteiro). Minha mãe era guarda-municipal, costureira (fazia as trajes dos bonecos mecânicos nos shoppings que aquele artista-engenheiro inventou e popularizou no mundo inteiro, como, por exemplo, nos cenários do Papai Noel) e outras coisas. Não conheci roupas compradas em lojas até meus oito anos de idade. Era minha mãe que costurava o que vestíamos.

Os filhos do casal Jack e Berniece, em 1956.

Os filhos do casal Jack e Berniece, em 1956. Timóteo é o segundo, da direita para a esquerda

 

Minha mãe foi integrada à família do meu pai e aprendeu a cozinhar muito bem com a minha vó paterna. Era ela quem fazia tudo na igreja, todas as comissões e atividades, mas sempre foi uma pessoa simples. Nunca se vangloriou da sua beleza e nunca exagerava nas roupas, joias, maquiagem, etc. Acredito, especulação minha, que nem se considerava bonita ou especial. Talvez, pelo contrário, estava um pouco mais para o lado de complexo de “não-tão-grande-coisa”. Ela era alegre, sempre alegre, talvez porque sabia o quanto sua vida havia mudado.

Havia um clima grande de intimidade em nossa família. Fazíamos de quatro a seis viagens em cada verão. Íamos para as praias de Carolina do Sul e também para as montanhas de Carolina do Norte. Três filhos foram para o seminário teológico. O outro, John III, quieto e humilde como a minha mãe, virou um verdadeiro diácono.

Foi triste, mas totalmente compreensível, quando me despedi de minha mãe há 36 anos e fui para longe.

Obviamente, minha mãe tinha seus defeitos, mas certamente ela era muito especial para nós. Assim como muitas mães são para seus filhos.

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Timóteo Carriker é teólogo, missionário da Igreja Presbiteriana Independente, capelão d’A Rocha Brasil e surfista nas horas vagas. É blogueiro e autor de A Visão Missionária na Bíblia.

 

Atualizado em 17/10/2013, às 11h40.

  1. Também tenho saudades de minha mãe, pois ela nos deixou muitos exemplos, principalmente por ser evangélica, mas por outro lado, também sinto saudades de meu pai, que com poucos recursos nos educou (eu e meu irmão), deixando-nos para estar com o Senhor.
    É uma pena que muitos não podem dizer ou sentir o mesmo, que Deus tenha misericórdia.

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