Semana 67: Lucas 18.15-30

Depois disso, algumas pessoas levaram as suas crianças a Jesus para que ele as abençoasse, mas os discípulos viram isso e repreenderam aquelas pessoas. Então Jesus chamou as crianças para perto de si e disse: — Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino de Deus é das pessoas que são como estas crianças. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca entrará nele. vv. 15-17

Certo líder judeu perguntou a Jesus: — Bom Mestre, o que devo fazer para conseguir a vida eterna…. Jesus respondeu: — Eu afirmo a vocês que isto é verdade: aquele que, por causa do Reino de Deus, deixar casa, esposa, irmãos, parentes ou filhos receberá ainda nesta vida muito mais e, no futuro, receberá a vida eterna. vv. 18, 29-30

Assim são duas falas de Jesus, talvez ditas em tempos diferentes, apesar de uma seguir logo a outra não só aqui como também nos Evangelhos de Mateus e Marcos. O maior sinal que são duas ocasiões diferentes está nas audiências diferentes que Lucas registra, na primeira, “algumas pessoas” e na segunda, “certo líder judeu”. Os dois encontros podem ter acontecido juntos mas o mais importante que isto é que os três Evangelistas que contam estes eventos põem um logo após o outro. Isto era uma maneira comum de relatar a história. A sequência temática era mais importante que a sequência restritamente cronológica. Não se deve se surpreender com isso, pois fazemos a mesma coisa quando relembramos com carinho algum ente querido. Por exemplo, o meu herói de infância (e até hoje) era o meu avô, um pastor dedicado, simples, aventureiro e muito amoroso. Morreu em 1977, mas não antes de saber com muito orgulho que Deus havia me chamado para ser um missionário no Brasil!

Quando os netos e filhos lembram do vô Nangy, a gente começa a contar as histórias. Uma história puxa a outra, mas sempre com algum vínculo temático: geralmente começamos com as suas burradas, depois, as suas manias, e finalmente a sua piedade e assim vai. Você não faz o mesmo? E assim faziam os Evangelistas.

Nos próximos dias vou refletir sobre o conteúdo dos dois encontros acima, mas por enquanto quero chamar atenção para a sequência temática entre os dois. Coloquei-a em negrito. Desta forma fica mais claro que o “reino de Deus” tem tudo a ver com a “vida eterna”. Eu ousaria a dizer que são até praticamente sinônimos. Vejamos o significado de cada um destes termos…

O “reino de Deus” deve ser entendido ao pé da letra. É o governo de Deus. É a sua autoridade, seu domínio e a ação da sua liderança última sobre o nosso mundo e as nossas vidas. Algo para aqui e para agora. Veja bem, na passagem acima é algo que nós já “recebemos” (v. 17) para nos nortear agora. Não é algo meramente futuro. De outra sorte, a exortação de Jesus nos versos 15-17 não faz sentido. Agora, uma observação muito importante: já reparou que Mateus sempre substitui a expressão “reino de Deus” por “reino do céu”? Os estudiosos nos dizem que Mateus faz isto por uma questão de sensibilidade com a sua audiência, predominantemente judia-cristã. Os judeus, por uma questão de respeito, não pronunciavam o nome de Deus e assim Mateus preferia a expressão “reino do céu“. Evidentemente, e diferente da gente, Mateus entendeu que o “céu” também não se referia meramente a um espaço “além” do nosso ou a um tempo futuro distante. Nós pensamos no “céu” desta maneira, mas não os escritores do Novo Testamento. Tanto que o autor de Apocalipse fala da consumação quando um tempo quando o céu virá para nós (como a fala de Jesus sobre o reino de Deus acima) e não que nós iremos para o céu (Apocalipse 21). Está bem. Quem sabe você acha que já viajei longe demais! Vamos então pensar na próxima expressão em Lucas 18, a “vida eterna”, pois acreditamos que ao colocar estas duas ideias juntas os evangelistas estavam querendo comunicar uma mesma verdade.

A expressão “vida eterna” traduz uma expressão em grego um pouco mais difícil. A ideia principal não é de imortalidade, uma quantidade sem fim de vida. A ideia se refere muito mais a uma qualidade de vida, vida abundante, ou superabundante. Veja como João define a vida eterna em João 17:3, “E a vida eterna é esta: que eles conheçam a ti, que és o único Deus verdadeiro; e conheçam também Jesus Cristo, que enviaste ao mundo.” É algo que podemos e devemos possuir aqui e agora. Veja 1 João 5.13: “Eu escrevo essas coisas a vocês que crêem no Filho de Deus, para que vocês saibam que têm a vida eterna.” Vida eterna é conhecer Deus. É conhecer Jesus e viver com ele e debaixo da orientação (reino) dele .

Pronto. Já deu para entender que Jesus está falando do mesmo assunto nas duas ocasiões registrados acima e por Mateus e Marcos? Tem tudo a ver com a maneira que vivemos hoje. E o que isto nos diz a respeito da vida depois da morte? Bem, isto é outro assunto para outra hora. Por enquanto, repare a ênfase de Jesus, reparado em todos os Evangelhos.

Oração

Graças Te damos, ó Pai, pela vida CHEIA da Tua graça aqui e agora. Capacite-nos pelo Teu Espírito e viver o Teu reino em toda a nossa vida… e isto como uma criança confiante. Em nome de Jesus. Amém.

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