Eliú continuou a falar:

Job declara: “Estou inocente; mas Deus recusa-se a fazer-me justiça. Passo por mentiroso, mesmo tendo razão; sou atingido pelas suas flechas, sem ter culpa nenhuma.” Haverá alguém semelhante a Job? Tem a boca cheia de insolências; junta-se aos malfeitores, faz companhia aos criminosos, ao dizer: “O homem não ganha nada em estar de bem com Deus.” Escutem-me então, gente insensata; nem vos passe pela ideia que Deus pratique o mal ou cometa qualquer injustiça! Deus paga ao homem conforme o que ele faz e retribui-lhe conforme o seu comportamento. A verdade é que Deus não pratica o mal e nunca distorce a justiça. (Sociedade Bíblica de Portugal)

Reflexão

Ao longo do Livro de Jó, o leitor é obrigado a lidar com uma das questões mais complicadas da teologia e da filosofia: a origem do mal e a sua ligação com Deus. A questão é complicada porque a fé cristã, como a judaica, rejeita um conceito absolutamente dualista do mal e do mal como aquele que se encontra em algumas filosofias orientais, como, por exemplo, o confucionismo onde o ying e o yang existem em perfeita harmonia. A perspectiva bíblica é dum Deus sobernano sobre tudo! Tudo, o bem e o mal. Certamente isto é uma das lições de Jó. Só que isto cria um “problema”. Se Deus é soberano sobre tudo, inclusive por seu criador de tudo, o que dizer da origem do mal e da relação contínua do mal com o soberano. Se o mal possue poder independente de Deus, o que isto diz da soberania de Deus. E de modo converso, se o mal é também subordinado ao Deus como o Soberano, o que isto diz da justiça de Deus? Entendeu o problema? (Não parece um bom assunto para levantar numa devocional!). E a solução desta “dilema”?

Não sei se vamos chegar nesta devocional à solução “correta” mas sei claramente que a solução do moço Eliú, como também dos amigos do Jó, não é a solução correto, mesmo que seja a solução mais popular e divulgada até os dias de hoje entre os seguidores de Deus! Esta solução equivocada é verbalizada por Eliú nos versículos 10-12: nem vos passe pela ideia que Deus pratique o mal ou cometa qualquer injustiça! Deus paga ao homem conforme o que ele faz e retribui-lhe conforme o seu comportamento. A verdade é que Deus não pratica o mal e nunca distorce a justiça.

Veja bem, o problema não está na afirmação em si. O problema está mais com o seu pressuposto e a sua conclusão. Claro que Deus não é o autor do mal. O pressuposto é que Deus nada tem a ver com o mal. Entretanto, quem leu o primeiro capítulo de Jó tem que admitir que Deus permitiu que Satanás usásse maldade contra Jó. Também Eliú errou na sua aplicação ao pressumir que quem é afligido pelo mal, merceu tal aflição por ter cometido alguma injustiça. Novamente, a afirmação em si é um princípio divino seguro: “Deus paga ao homem conforme o que ele faz e retribui-lhe conforme o seu comportamento” (Jó 34.11, veja também Pv 24.12; Jr 17.10; 32.19; Ez 33.20; Mt 16.27; Rm 2.6; 2Co 5.10; 1Pe 1.17; Ap 22.12 e semelhantemente Gl 6.7). Mas a aplicação do princípio por Eliú é simplesmente equivocada: de que Jó cometeu algum mal que redundou nos seus sofrimentos.

Oração

Pai bondoso, a lição de Jó é insistente. Já vimos numerosos vezes de tal modo que nos espantamos com esta Tua palavra. Agradecemos-Te ó Pai pela Tua bondade. Agradecemos-Te pelo Teu Espírito Santo que nos fortalece e conforta nas horas da aflição. Em nome de Jesus. Amém.

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