E Jó continuou em sua fala e disse: “Juro por Deus, pelo Todo-Poderoso, que não quer me fazer justiça e que enche de amargura o meu coração, juro que, enquanto ele me der forças para respirar,
os meus lábios nunca dirão coisas más, e a minha língua não contará mentiras. Nunca direi que vocês têm razão de me acusar; enquanto viver, insistirei na minha inocência…”

Reflection

Do ponto de vista da “ciência” da interpretação o Livro de Jó é fascinante. Já vimos isto diversas vezes nas nossas devocionais. No capítulo 27 vemos novamente. Alguns princípios vêm a mente, por exemplo…

Primeiro, cuidado com interpretações “ao pé da letra”. Muitos leitores sabem isto muito bem. A língua emprega diversas estratégias de comunicação, desde a prosa até a poesia e incluindo metáforas, aforismos e expressões idiomáticas. Por exemplo, se lermos a oração de Jó ao pé da letra e entendermos que a sua fala, sendo contido dentro das Escrituras, é também fala divina, poderíamos concluir, equivocadamente, que Deus não é justo e que deseja prejudicar as pessoas. Lógico, não chegamos a esta conclusão porque conhecemos tantas outras passagens que dizem ao contrário. Ao invés de entender a oração de Jó desta maneira, é fácil entender que esta fala é duma pessoa chateada e a sua chateação registra a percepção da injustiça de Deus mas não a injustiça em si. É fácil ver isso nesta passagem mas sempre temos que ser atentos que em outras passagens algo semelhante poderá estar acontecendo.

Segundo, a interpretação precisa levar em conta o interlocutor. Este princípio também é óbvio para muitos como o bê-a-bá de qualquer leitura de textos. Entreanto, porque tratamos as Escrituras como leitura sagrada e assim como de um só autor, o Espírito Santo, por “trás” dos muitos autores, temos a tendência de tratar todas as falas contidas numa dada passagem do mesmo jeito. Tanto que, se for prestar a atenção para as leituras públicas das Escrituras, quase sempre as pessoas lêem todas as falas com o mesmo tom de voz (normalmente um tom monótono porque parece mais “sagrada”), como se fossem faladas por uma só pessoa. No caso da nossa passagem acima, a fala é de Jó e não dos seus amigos, o que explica muito o conteúdo e o tom da fala.

Bem, até aqui, minhas observações são mais pedagógicas que “devocionais”. Então… uma observação mais pessoal: não é fantástico que Jó, mesmo achando Deus injusto com ele, não parte para a maldade como muitos que desistem de Deus em situações semelhantes. Mas, ao invés disto, Jó faz questão de reafirmar o seu compromisso com a integridade: “meus lábios nunca dirão coisas más, e a minha língua não contará mentiras…” Que modelo para nós, na hora do aborrecimento!

Oração

Pai, reafirmamos a nossa confiança, a nossa lealdade a ti acima de tudo. Mesmo na aflição desejamos ser como tu, fiel, justo e compassivo. Por isso, dê nos a porção abundante do teu Espírito dentro de nós. Em nome de Jesus. Amém.

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