A iniciativa integra ações de coleta de resíduos orgânicos, horta agroecológica, apoio a catadores de recicláveis e educação ambiental

A grave crise econômica que se arrastou pelo Brasil desde 2014 e deixou milhares de brasileiros desempregados, não poupou o seu José. Há algum tempo sem emprego, certo dia um familiar o chamou para trabalhar como catador de reciclável. Mesmo desanimado, ele aceitou. Numa de suas andanças pelas ruas de Contagem, em Minas Gerais, ele foi abordado por pessoas de um projeto que visava apoiar os catadores de material reciclável. Ele foi cadastrado e recebeu alguns materiais para ajudar no trabalho. Com o passar do tempo, a situação foi melhorando e ele conseguiu até comprar uma pick-up Strada para otimizar a coleta. Antes, desempregado e desanimado, agora seu José fazia parte de uma grande rede, que executa um trabalho importantíssimo. Os catadores de recicláveis – que são cerca de 600 mil, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) – formam uma rede responsável por 90% de todo o lixo reciclado no país.

O nome do caso acima é fictício, mas a história é real. Quem nos conta é Ricardo Vessoni, missionário em Jovens Com Uma Missão (Jocum), formado em gestão ambiental e responsável pelo projeto Nova Terra Socioambiental. Seu José foi uma das pessoas beneficiadas pelas ações do projeto. Abaixo você pode conhecer melhor essa iniciativa e as atividades que são desenvolvidas.

 

Projeto Nova Terra Socioambiental: início, objetivo e atividades

O projeto Nova Terra Socioambiental é uma iniciativa missionária que surgiu em Jovens Com Uma Missão (Jocum), na cidade de Contagem, Minas Gerais. Expressando o evangelho de forma prática e relevante, o objetivo é promover melhorias para pessoas em situação de vulnerabilidade social, por meio de ações de geração de emprego, renda, saúde, educação e proteção ambiental.

A primeira ação desenvolvida pelo projeto foi a coleta de resíduos orgânicos, realizada em algumas casas e na cozinha central da base da Jocum. Entre os resíduos orgânicos, estão as folhas e restos de aparas de gramas e matos. Esses materiais foram transformados em adubo orgânico – processo chamado de compostagem. Com esta ação, cerca de 500 kg de resíduos não foram destinados ao aterro sanitário do município, no período de um mês. As formas de fazer a compostagem foram diversas, como a vermi-compostagens [1], em leiras [2], em móveis velhos e em baldes que fazemos a captação do chorume [3] para biofertilizante e repelente para a horta agroecológica.

A realização da coleta pode causar um impacto ainda maior no município com a possível ampliação e reprodução da atividade. Em casos de municípios que já tenham implantado o Aterro Sanitário, prolonga-se a sua utilização, gera economia para a gestão pública e minimiza os impactos ambientais. Se o município ainda continua com o modelo de lixões ou Aterros Controlados, a compostagem é uma excelente alternativa de baixo custo para contribuir com a saúde pública, com a econômica e com a proteção ambiental.

Outra iniciativa desenvolvida no projeto é a horta agroecológica. Utilizando os princípios de agrofloresta [4], a ação promove oportunidades de emprego, renda, saúde, segurança alimentar e proteção ambiental. A horta agroecológica foi iniciada após a micro estação de compostagem, como experimento para reproduzir em outros locais.

 

Apoio aos catadores de materiais recicláveis

Esta iniciativa é voltada para o catador informal – aquele que não está inserido em uma cooperativa ou associação. Para realizar esta atividade, abordamos pessoas na região central de Contagem e aplicamos um formulário com a intenção de conhecer melhor a realidade e as necessidades das pessoas. Posteriormente, estudamos uma forma de valorizá-las pelo trabalho desempenhado e, ao mesmo tempo, buscar promover inserção social, dignidade, assistência familiar e melhoria da renda.

Neste processo, criamos um kit Catador, que consiste na formulação de um novo carrinho de coleta, uniforme, EPIs, uma Bíblia e outros itens. Após um mês analisando a região, juntamente com os Catadores, organizamos uma rota de coleta cadastrando alguns comerciantes parceiros. A iniciativa previa a continuidade de outras etapas, mas infelizmente não foi possível continuar por falta de apoio e voluntários. Entretanto, continuamos com a coleta seletiva na base da Jocum. O material era recolhido por seu José – o personagem da história do início desta matéria e que foi beneficiado com o Kit Catador.

Uma estratégia para ensinar sobre o cuidado com a criação foi a educação ambiental. As ações foram realizadas pela missionária Amélia Vessoni em várias escolas, utilizando vídeos e diversos materiais, como a cartilha “Cuidando da Criação”. As palestras tiveram resultado bastante positivo, pois alguns pais compartilharam que os filhos reproduziam em casa o que aprendiam na escola.

 

Apoio e parcerias

O projeto Nova Terra Socioambiental conta com a parceria de voluntários e membros de igrejas. Também recebe o apoio da Campanha “Renovar Nosso Mundo” para o trabalho de horta agroecológica, que atende famílias de baixa renda. É possível ver o resultado nas famílias atendidas, refletindo em oportunidades de melhoria de vida e geração de renda. O projeto tem causado um impacto positivo indireto em outras organizações, que acompanham as ações por meio das redes sociais e manifestam o desejo de reproduzir as ações em seus locais de atuação.

A coordenação do projeto está aberta a ajudas e contribuições. Interessados em colaborar podem entrar em contato pelo Instagram, pela página do Facebook ou via e-mail novaterra36@gmail.com.

 

Notas
1. Vermi-compostagens: É o sistema de produção de adubo orgânico com a utilização de minhocas.
2. Leiras: um dos formatos de fazer compostagem, ou seja, é um amontoamento de matéria orgânica (cortagem de gramas e matos, restos de legumes, verduras, frutas, cascas de ovos e outros.
3. Chorume: líquido extraído da matéria orgânica (restos de frutas, legumes e verduras), para a produção de fertilizantes líquidos, e utilizados como repelentes para espantar alguns tipos de pragas, chamado também de biofertilizantes.
4. Agrofloresta: é um sistema de produção alimentar agroecológico que reproduz a criação, reconstrói o ecossistema equilibrado, com muita variedade vegetativa, contribuindo com a proteção e recuperação ambiental do solo através da cobertura vegetal, favorecendo a ciclagem de nutrientes e microorganismos, além de fazer a captação da água da chuva para armazenagem subterrânea no lençol freático.

 

Texto: Ricardo H. Vessoni, missionário em JOCUM e Gestor Ambiental.
Edição: Phelipe Reis.

 

Conteúdo publicado originalmente pela campanha Renovar Nosso Mundo. Reproduzido com permissão.

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