Aquele pensamento que vê o missionário como um “detentor da verdade” que vai a algum lugar apenas para ensinar, parece cada vez mais não ter muito sentido. Quem vai para qualquer campo missionário com esta postura, na verdade tem muito a aprender. Hoje, dia 3 de maio, quando comemoramos o Dia do Sertanejo, publicamos breves testemunhos de missionários com experiência no sertão nordestino que aprenderam e aprendem muitas lições convivendo e servindo entre esse povo.

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O sertanejo valoriza a encarnação da gente e convive com ele

O sertanejo é um grande exemplo para mim. Ele se adapta a qualquer circunstância difícil e não perde a sua fé em Deus, mesmo ele não sendo crente. Sua tradição religiosa, muitas vezes impedimento para receber o evangelho da graça, é também uma demonstração de firmeza e fidelidade. Tornando-se seguidor de Cristo, ele se firma com a mesma convicção na nova fé. Ele vive no calor, sem água, com outras carências, pela fé. Com eles, aprendi a viver no calor, na poeira, sem água, sem conforto, etc.

Aprendi da sua hospitalidade, sempre portas abertas, sempre oferecendo comida, sempre tendo tempo para os seus visitantes. Ele fica super contente com a visita que vem das cidades, das metropolitanas, do exterior. Ele se sente honrado e disponibiliza tudo para receber os visitantes da melhor forma possível. Nós vivemos sem tempo, mas com um tanto de dinheiro. Ele vive com pouco dinheiro, mas com muito tempo que ele partilha com familiares, vizinhos e visitantes e constrói relacionamentos.

Beat Roggensinger, 1959, suíço, deste 1990 servindo no nordeste do Brasil

Quero aprender cada vez mais com eles, investindo tempo em relacionamentos, como Jesus também nos demonstrou. Dinheiro é frio e problemático. Relacionamentos, através de tempo investido, nos enriquece de qualidade. E pessoas aceitam também o evangelho muito mais quando investimos tempo em suas vidas.

Aprendi ter perseverança e descobri que o sertanejo valoriza a encarnação da gente e convive com ele. A leitura do evangelho ele faz por nossa vida. Ele escuta dia após dia “evangelhos”. Mas o que marca a vida e chama atenção dele e desperta mais curiosidade é nossa vivência no meio deles.

Aprendi também que quando eu não for pra determinados povoados, pode ser que ainda demore por anos que este povo querido e sofrido tenha a oportunidade para ouvir o evangelho.

• Beat Roggensinger, 1959, suíço, deste 1990 servindo no nordeste do Brasil. Atualmente morando no estado do Piaui, em Demerval Lobão – www.ranchodalua.org. É fundador da PróSERTÃO, junto com outros missionários e pastores. Fundador de várias igrejas e escolas evangélicas; professor e por muitos anos diretor de um seminário sertanejo que formou pastores e missionários sertanejos

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Vindo a chuva ou a seca, o sertanejo acredita que Deus está no controle

Tenho certeza que Deus me agraciou em permitir morar e servir o povo sertanejo. Na verdade, me sinto muito mais servido por eles do que o contrario. Com o sertanejo aprendi a ser receptivo, a sempre ter a porta aberta para uma visita, respeitar e honrar meus pais e seja vindo a chuva ou a seca, acreditar que Deus esta no controle de tudo.

 • José Carlos Brito Filho vive há cinco anos em Betânia (PI), onde trabalha com plantação de igreja e com a ONG Novo Sertão.

 

Eles cantam os momentos difíceis como forma de superação, mas também cantam a fé e a vida

Vivendo entre eles [sertanejos] há quatro anos, aprendemos que o sertanejo é tão feliz quanto ou mais que alguém em qualquer lugar do mundo. O que para mim parecia triste e insuperável, nos sequentes anos de perca na lavoura, vi que o homem sertanejo é forte, resistente e esperançoso, cheio de fé em Deus e na vida. Todos os anos ele não deixa de plantar com essa fé. Um povo de um canto próprio e alegre. Um canto cheio de rimas e versos que não se repete a cada toque da viola. Uma poesia nova. Eles cantam os momentos difíceis como forma de superação, mas também cantam a fé e a vida. Com esse canto forte contraditam o fenômeno da seca do sertão e as circunstâncias de suas vidas. O sertão, para mim, é o lugar melhor e mais feliz do mundo, pois aqui apreendi e vivi o amor de Deus ao sertanejo. E eu os amo também.

• Francisco Reis Aquino Filho, casado com Noélia de Sousa Rodrigues Aquino. Atuam como missionários há quatro anos servindo no povoado EMA, zona rural do município de José de Freitas (PI). Têm dois filhos, gêmeos: Levi e Davi.

Aprendi que os sertanejos, além de viverem em situação de exclusão social, são também excluídos espirituais e por isso carentes da pregação do Evangelho, que não dispensa os seus ouvintes no final da tarde, mas também distribui pão e peixe, tal qual vemos em Lucas 9:12-13. 

Marcos André Fernandes, Garanhuns (PE), há 22 anos atuando no sertão nordestino, nos últimos anos aos pequenos aglomerados rurais, sítios, distritos, povoados, assentamentos. É membro da Quarta Igreja Presbiteriana de Garanhuns e integrante da Missão Sal da Terra.

 

  1. Antonia Leonora van der Meer

    Graças a iDeus pelo povo sertanejo e graças a Deus por aqueles que se dedicam a viver entre eles, encarnar-se naquelas situações e lutas, e descobrir a riqueza da cultura sertaneja. Que possam continuar a ser fiéis servidores de Jesus, e compartilhar o evangelho de forma simples e relevante, como Jesus fazia.

  2. Aline Kathleen de Magalhães Amorim

    É maravilhoso ler comentários enriquecedores como desses missionários. Os sertanejos são pessoas fortes, mas de muita fé em Deus, eles creem no Criador (ainda que por meio do catolicismo) como a única solução para os problemas que enfrentam… Eles plantam suas lavouras com fé em Deus de que tudo vai dar certo naquele ano, mas quando acontecem perdas, pedem a Deus uma saída. o Evangelho de Cristo deve ser levado, levar o pão aos famintos, como diz em Sua palavra… Uma frase marcante foi a do Beat Roggensinger :”Aprendi também que quando eu não for pra determinados povoados, pode ser que ainda demore por anos que este povo querido e sofrido tenha a oportunidade para ouvir o evangelho.” Quão maravilhoso seria se todos entendessem verdadeiramente o por quê do “Ide” do Senhor!

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