Arte_Pito_Parintins (2)“Quanto mais eu estudo, mais eu entendo que a arte não pode vir de outra fonte que não seja Deus”.

A declaração acima é do artista plástico Glebson Oliveira da Silva, 27 anos, que vive em Parintins, cidade do interior do Amazonas. Além de trabalhar com desenho e pintura artística (aerografia), Pito, como é conhecido por muitos, é um expoente da cultura hip-hop na cidade: dança desde os dois anos de idade e também faz grafite.

Estudante do 8° período do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Pito é fundador do grupo “Gravidade Zero”, composto atualmente por 30 pessoas, entre crianças, jovens e adultos.

A visão de que o hip-hop não é apenas dança, música e grafite surgiu em 2005, quando ele participou de um encontro mundial de hip-hop em Caracas, na Venezuela, com pessoas de 148 países. “Fiquei surpreso, pois o evento priorizava palestras e discussões sobre a realidade da periferia, discriminação racial e problemas sociais. Ali, o hip-hop estava unindo pessoas de várias partes do mundo, de diferentes religiões, etnias e culturas. Retornei a Parintins com uma nova visão sobre a cultura hip-hop. Entendendo como uma grande ferramenta de resistência e mobilização”, conta.

Confira a entrevista que Ultimato fez com o artista e algumas de suas obras:

Que tipos de trabalho você desenvolve?

Arte_Pito_Parintins (5)Pito: Trabalho há 12 anos com desenho e pintura artística, especificamente a técnica da aerografia, e também desenvolvo duas das manifestações artísticas da Cultura hip-hop: a dança (há 15 anos) e o grafite, que além de manifestações artísticas, são também importantes movimentos de resistência da periferia.

Como você iniciou no mundo da arte?

Pito: Desde minha infância tenho uma grande relação com a arte, em especial com o desenho, a pintura e o “break”. Iniciei a dançar quando eu tinha apenas dois anos de idade, influenciado pelo meu irmão mais velho. Ele ensaiava em casa todas as tardes com seu grupo, chamado “Irmãos Cobras”. A minha mãe conta que uma vez, após o ensaio deles, quando não havia ninguém na sala onde ensaiavam, eu fiquei tentando imitar os passos de dança que eles faziam. A partir daí meu irmão começou a me treinar junto com seu grupo. Eu participava dos ensaios, viagens e apresentações, mas nem sempre gostava, o que queria mesmo era brincar! Meu irmão, percebendo isso, deixou de exigir que eu ensaiasse e, então, parei de dançar.

Quando eu tinha quatorze anos, fiquei impressionado ao assistir uns vídeos de b-boys. O estilo e a evolução dos passos pareciam humanamente impossíveis de serem executados, mas ao mesmo tempo eu me achava capaz de fazer tudo aquilo. Foi aí que eu voltei a praticar com o máximo de dedicação, assistindo fitas de vídeo cassete.

Já a minha relação com o desenho e pintura foi diferente da dança. Sempre gostei, mesmo quando não sabia exatamente o que significava. Me destacava nos trabalhos artísticos sem ter feito qualquer tipo de curso. Como nunca conseguia vaga nas poucas escolas de artes da cidade, minhas aulas para aprimorar o desenho e a pintura duraram só uma semana. O professor, que era meu cunhado e instrutor em uma das escolas de artes, não pôde dedicar mais tempo, devido outros compromissos. Mas no pouco tempo de aula, meu professor disse que nunca tinha visto alguém aprender tão rápido as técnicas que ele tinha me passado. Lembro que minha mãe, ao ouvi-lo falar isso, disse que era é um talento que DEUS me deu.

Essas palavras marcaram minha vida, principalmente a frase “Deus me deu”. A partir daí entendi a arte como um presente de Deus, algo que ele me deu e que eu precisava aperfeiçoar. Com muita insistência fui aprendendo novas técnicas e comecei a produzir e ganhar uma renda com a venda dos meus trabalhos.

Qual o lugar da arte da na sua vida hoje?

Pito: Em 2011, consegui ingressar na Universidade Federal do Amazonas para fazer o curso de Licenciatura em Artes Visuais. Um ótimo curso! Mas percebi que a maioria das teorias estudadas, se não todas, nega o conceito de que a arte vem de Deus. Contudo, durante esses quatro anos de estudos, nunca deixei de acreditar que o meu talento artístico é um presente de Deus. Na verdade, quanto mais eu estudo mais eu entendo que a arte não pode vim de outra fonte se não dele. Estou buscando me aperfeiçoar na área e futuramente pretendo elaborar projetos e pesquisas voltadas para a arte-educação.

Como cristão, sei que toda arte que faço são presentes da graça de Deus, aliás, como tudo na minha vida, não fazendo nada para merecer. Romanos 12.4-8 é umas das passagens bíblicas que me identifico e me ensina a fazer tudo para honrar e glorificar a Deus.

Você consegue se manter/se sustentar da sua arte?

Pito: Meu sustento vem de Deus, que me presentou com a arte. Faço muitos trabalhos de pintura para pessoas que não são cristãs e desses trabalhos Deus me abençoa com o meu sustento. Todo trabalho que faço eu glorifico a ele. Pois sem Ele nada seria possível. Mas não tem alegria maior que poder devolver para Deus, como oferta de amor, o que Ele confiou a mim. Me alegro em poder ajudar os inúmeros ministérios que me procuram para fazer diversos trabalhos. Agradeço ao Senhor todos os dias por manter minhas mãos saudáveis para louvá-lo e ministrar a sua graça através da arte.

O que você pensa sobre o uso das artes nas igrejas?

A Bíblia nos ensina que Deus, através do seu Espírito Santo, opera por meio de vários dons e talentos, o que não pode ser resumido somente em música, dança e teatro. Acho que é preciso dá mais oportunidades para as pessoas descobrirem seus dons e desenvolverem suas habilidades nas áreas de desenho, pintura, poesia, por exemplo. Acredito que se as igrejas trabalhassem dessa forma, muitas pessoas descobririam seus talentos, seu valor e seu papel no reino de Deus.

 

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Artista: Glebson Silva, “Pito”

Obra: Invisível

Estilo: site specific

Técnica: Grafite

Local: Rua Alberto Mendes, bairro Palmares – Parintins/AM

Descrição: O meio ambiente tem sido um campo de conflitos entre o sistema natureza e sistema sociedade, que surgem a partir do momento em que ignoramos e deixamos de fazer parte desse sistema natural. Dentro do sistema sociedade existe uma realidade que às vezes é ignorada ou não vista, invisível. Este trabalho mostra a realidade urbana: desorganização do lixo, falta de aterros sanitários, fome, miséria e outras mazelas sociais. Através do site specific, a obra se propõe a levar a comunidade local a uma reflexão crítica sobre essa realidade.

 

  1. Nivaldo Silva dos Santos

    Parabenizo a Paralelo 10 pela matéria.

    Sou grato a Deus pela consciência bíblica que “Pito” tem de sua arte. Que Deus o abençoe a fim de que ele possa nos brindar sempre com a beleza de tudo que produz.

    Esse dom pode ser uma ferramenta maravilhosa para mostrar, através da arte, não só as mazelas da cidade, mas, também, o que o evangelho pode fazer para redimi-la.

    Conforme o Apóstolo Paulo:

    “Creio no evangelho de Cristo porque ele é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.”

    Um grande abraço.
    Att.,
    Nivaldo

  2. Antonia Leonora van der Meer

    Parabéns ao Paralelo 10 e parabéns ao Pito; Não só pela consciência de que seus dons artísticos foram dados por Deus, mas também percebendo que a arte é um espaço muito apropriado para o testemunho e ministério cristão.

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