Missionária arrecada doações na internet para compra de casa que abriga projeto com crianças pobres na periferia de Belém

Por Luciana Almeida

Hérica e as crianças atendidas

Hérica e as crianças atendidas

Amor, amizade, desejo de ajudar e temor a Deus são alguns dos motivos pelos quais um grupo de cinco amigos se reuniu para ajudar a comprar a casa onde funciona o “Projeto Sorrir” para uma missionária no município de Ananindeua, Região Metropolitana de Belém, no Pará. Hérica Silva, 32 anos, mãe adotiva do pequeno Asafe, de 4 anos, é a responsável pelo Sorrir, organização não-governamental – ainda em processo de oficialização – , que inspirou os amigos a iniciarem uma campanha nas redes sociais, como Facebook e Instagram, para a compra da residência no conjunto chamado PAAR. O conhecido aplicativo para celular, whatsapp, também tem sido uma importante ferramenta para divulgar informações sobre a campanha e o trabalho realizado há mais de um ano na “pequena-grande” casa do Paar.

Há quatro anos morando no local, a “tia” Hérica (como é carinhosamente chamada) decidiu, há pouco mais de 12 meses, formalizar o que já vinha fazendo de maneira esporádica como cultos com crianças e adolescentes do conjunto e visitas às mães do bairro. No dia 12 de setembro de 2013, ela definiu dias e horários em que daria lições sobre a Bíblia para as crianças e os adolescentes, e um período também para alfabetização e reforço escolar para esse público infanto-juvenil, que pouco sabia ler e escrever. Formada no curso de Missões Transculturais pelo Instituto Missionário Palavra da Vida Norte, em 2010, e já muito atuante como professora de Escola Bíblica Dominical de uma igreja local, resolveu fazer algo mais, porém, tinha uma pequena dificuldade: acabara de aceitar o desafio de ser mãe de um filho gerado por outra barriga, a da sobrinha adolescente, que não tinha condições de cuidar da criança.

“Um bebê recém-nascido não podia ser uma barreira, mas me impedia de ir para muito longe, então, resolvi fazer atividades na casa em que moro, cedida por um parente meu. As crianças foram vindo e chamando outras, e mais outras, que por sua vez traziam os irmãos adolescentes, e ainda haviam as adolescentes mais mocinhas que namoravam ‘malandros’ da área, presidiários ou já estavam grávidas desses rapazes, que vinham conversar comigo para pedir conselhos… assim, o meu ‘público’ foi aumentando, e quando me dei conta, já tinha muito mais gente do que eu podia dar conta”.

Junto com o aumento do “serviço”, Hérica explica que também vieram voluntários fixos e outros eventuais, e uma em especial: Thayana Veras, 24 anos, amiga do interior do Estado, que decidiu ir à capital, Belém, para completar seus estudos. “Ela via minha rotina, se identificou com a missão e resolveu ajudar nas tarefas no primeiro semestre deste ano. Dividir o trabalho fica muito mais fácil. Feliz é quem tem amigos”, comemora a missionária. Segundo Thayana, não é ‘trabalho’, mas um prazer, uma realização se envolver com o Projeto Sorrir, que ela vê como um projeto de vida. “No começo, eu achei que tinha vindo apenas para estudar, faço o curso de Pedagogia numa instituição pública, mas como sempre gostei de trabalhar com crianças na minha igreja, me identifiquei com o que a Hérica fazia. Há uns meses, também entrei num curso da Missão Evangélica aos Índios do Brasil (Meib), e já consigo enxergar que meu campo missionário é exatamente aqui no Projeto, onde concilio esta formação com a pedagógica. Ter vindo pra cá foi algo escolhido por Deus pra mim”, avalia.

De segunda a sexta-feira, pela manhã, o Projeto oferece alfabetização para crianças de 3 a 5 anos; de terça a quinta-feira, à tarde, aulas de reforço para o público de 6 a 10 anos; nos mesmos dias, depois do reforço, alternam-se aulas de flauta, artes (desenho e pintura) e contação de histórias. Às noites, culto para adolescentes, outro para adultos, discipulado e ensaios em geral. Aos sábados, culto para as crianças e outras atividades com elas durante o dia. Aos domingos, Hérica e Thayana levam algumas crianças e adolescentes mais próximos a uma igreja local, onde eles têm congregado.

Apesar da falta de estrutura física da casa (que tem poucos pisos lajotados), não possui porta fixada (só um portão na entrada), banheiro mal acabado, paredes sem reboco, telhas antigas e quebradas, nem materiais suficientes para aulas, ou lanches mais completos, a equipe do Projeto Sorrir não se intimida ou paralisa as atividades. Debaixo de chuva (típica no Pará) ou sol escaldante, todos estão lá diariamente para participar do “Ide” do Senhor, prontos para obedecer ao chamado missionário.

Infelizmente, o dono da casa precisou colocar o imóvel à venda até o final do ano, pelo valor de R$ 30 mil. Esperançosos em ajudar a missionária a comprar a casa, para que as atividades continuem a beneficiar as mais de 100 pessoas (60 crianças, 30 adolescentes e cerca de 15 adultos), e motivados por este trabalho que depende exclusivamente de doações de pessoas físicas (não de empresas ou de instituições governamentais, por ainda estar em processo de oficialização), os cinco amigos da tia Hérica começaram, neste mês, a pedir aos próprios amigos, colegas de faculdade, trabalho, igreja e de outros cantos do Estado e do país, contribuições em dinheiro. Cada um ficou responsável por arrecadar R$ 3 mil ou R$ 6 mil, no mínimo, inclusive a própria dupla Hérica e Thayana, até alcançarem o valor total. Através dos compartilhamentos dos amigos de amigos nas redes sociais, a Campanha Projeto Sorrir já arrecadou até agora quase metade do valor. O grupo espera conseguir todo o dinheiro até o dia 15 de dezembro deste ano.

Para uma das amigas da Campanha, Dayanne Fontenele, administradora, acompanhar a situação de perto e não se comover é impossível, porque segundo ela, ver a alegria das crianças mesmo nas condições precárias do lugar, e saber que cada atividade ali vai mudar a realidade daquelas famílias e das futuras gerações gera esperança e motivação. “Deus está à frente, e por isso podemos investir nosso tempo, intelecto e recursos aqui. Além disso, meus pais são amigos da Hérica, e eu a conheço de perto, seu caráter, e sei que este é o estilo de vida que ela decidiu viver. Vejo também que ela faz tudo isso por amor”, declara Dayanne. Da mesma forma, pensa outra amiga empenhada na Campanha, Anna Carolina Pontes, que acredita que é um sonho e projeto de Deus, pelos resultados do trabalho. “Muitos milagres Ele tem realizado ali, e fazer parte disso, como servos humildes, é um privilégio. A campanha para a compra é um grande desafio, que com nossas forças, nossos recursos e aos nossos olhos, jamais seria possível, mas com a força de Deus e com o poder dEle, tudo é possível”, acredita.

Crianças atendidas pelo Projeto Sorrir

Crianças atendidas pelo Projeto Sorrir

Para quem doou, o sentimento é semelhante, como relata o historiador carioca André Cruz, que mesmo sem nunca ter visto a tia Hérica pessoalmente, decidiu com a esposa, Raquel Cruz, fazer a doação direto do Rio de Janeiro, por causa da indicação de uma amiga paraense. “Quando escutei a história do Projeto juntamente com a minha esposa, ficamos empolgados em contribuir com mais uma parte do Reino. Como professores, nós dois sabemos a importância que a fase da infância tem para a formação posterior de uma criança. Se ela tiver a oportunidade de crescer em um ambiente saudável, ouvindo a Palavra de Deus, a possibilidade de formarmos adultos responsáveis é enorme. Sendo assim, não tivemos dúvidas de que o Espírito Santo nos movia estrategicamente para essa linha de batalha e nos dava o privilégio de participar de sua obra em um lugar tão distante de nossa casa”, avalia.

Dorivan Junior, paraense estudante de Direito, também doou por acreditar que aquele simples lugar tem em si uma grandiosidade que só pode vir do próprio Deus. Antes de ser doador e colaborador eventual do Projeto, Dorivan visitou várias vezes o Sorrir e conta que percebeu o potencial do lugar. “Percebi a impressionante capacidade da tia Hérica de viver na completa dependência de Deus, já que com tão poucos recursos, consegue não apenas fazer as crianças serem contagiadas com seu sorriso incessante, mas também mudar a vida delas. Em meio a uma realidade tantas vezes ignorada, aquele pequeno, simples e abençoado local consegue fazer muito mais do que o seu gracioso nome propõe”, analisa.

Cada amigo tem disponibilizado sua própria conta bancária para receber as doações. Quando estiver mais próximo do prazo final de arrecadação, 15/12, o grupo vai transferir o dinheiro para a conta da Hérica Silva. Qualquer pessoa pode doar. Se possível, identifique-se para que a equipe possa agradecer pela contribuição.

 

Doe:
Hérica Ribeiro Silva
Agência 1749 | Operação 013 | Conta Corrente: 24512-4

Endereço do Projeto Sorrir
Conjunto Paar, Rua Rio Negro, Quadra 141, casa 12, bairro Maguari, Ananindeua-PA. Contatos: (91) 98178-6786 E-mail: hericabelem@hotmail.com

Facebook: ProjetoSorrir
Instagram: @psorrir

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Texto: Luciana Almeida , 28 anos, jornalista. Membro da Igreja Batista Sião em Belém-PA. Colaboradora do Projeto Sorrir e do Clubinho da Bíblia.

 

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