Religiosas apontam os desafios no combate ao tráfico no Amazonas
(Adital) Dos 13 Postos Avançados para o Enfrentamento do Tráfico de Seres Humanos somente dois, atualmente, estão em funcionamento no Estado do Amazonas. Com zona de fronteira, esse fato mostra a debilidade pública em lidar com o tema. A informação foi dada pelas religiosas Rosana Marchette e Maria de Fátima Barbosa durante exposição do quinto encontro da Rede Um Grito pela Vida, que acontece até o dia 15, em Goiânia, Goiás.
Além disso, um novo problema começa a dar outro contorno à questão, que não está necessariamente ligado ao TSH, mas acrescenta outras preocupações para quem já trabalha na área no estado amazônico, que é a migração de haitianos e haitianas. As irmãs informam que já havia uma migração forte como a peruana e a colombiana. “È preciso ter uma atenção especial para estes casos. E, no momento, quem está na frente desta acolhida somos nós, da Igreja Católica”, afirmou irmã Fátima.
No que diz respeito aos Postos Avançados, elas afirmaram que os dois pontos funcionam nos Portos, ainda assim em horários considerados insuficientes para atender demandas, pois estão abertos somente das 8h às 14h. “Ou seja, há uma movimentação intensa nos portos durante todo o dia, se alguém precisar do serviço depois das 14h não tem atendimento”, disse irmã Rosana.
Questionadas sobre os outros Postos, elas explicaram que por conta da burocracia, na prática, eles não existem. “São nessas questões em que ficamos pensando. Há uma participação do Poder Público mas essa participação ainda é muito lenta, é muito tímida. Quer dizer temos 13 postos funcionando, mas a maioria está só no papel. As autoridades participam das reuniões, mas as ações ainda são muito lentas”, afirmou Rosana.
Voltando a falar na questão da fronteira, elas explicam que há uma extensão muito grande, que não se tem controle – o que facilita o delito do tráfico de pessoas. Além do mais, completam, é característica deste crime ser muito sutil e o público alvo que costuma ser a população mais vulnerável financeiramente.
Se por um lado há um esforço das organizações religiosas, por outro trata-se de uma luta contra o que ainda não se sabe, uma vez que não há dados concretos sobre o tráfico de pessoas. No Amazonas – e nos outros estados a situação também não é diferente – não se tem uma pesquisa recente. “Seria necessário mais comunicação e partilha de dados concretos”, disseram.
Conhecer a realidade no interior do estado também é outro obstáculo, uma vez que o transporte precisa ser feito pelos rios e alguns lugares têm difícil acesso. Dessa forma, não é possível conhecer as rotas de tráfico existentes no Amazonas e, assim, não há como atingir totalmente o interior.
Infelizmente é necessário destacar ainda o histórico de exploração de mulheres e meninas na região amazônica, de forma geral. Só no Amazonas, segundo pesquisa de 2007, da Secretaria de Estado de Ação Social, a exploração e o turismo sexual estavam presente em 62 municípios.
Haitianos e Hatianas
Desde o terremoto de janeiro de 2010, haitianos e haitianos estão procurando outros países em busca de oportunidade de vida. O Amazonas vem recebendo levas consideráveis de haitianos e haitianas que procuram emprego. São homens, mulheres e crianças que são acolhidos nas cidades fronteiriças por grupos religiosos, sobretudo pela Igreja Católica.
Chamou a atenção das religiosas o fato de muitas mulheres estarem grávidas. O assunto, dizem, é bastante delicado. Elas acrescentaram que estão acompanhando os casos e que estão buscando apoio junto às organizações e instituições que trabalham com o tema da migração para tratar do tema.
“Não sabemos como estão sendo essas gravidezes. Se elas estão engravidando para terem filhos brasileiros”, disse.