Taxa entre crianças na zona rural é mais alto que de locais na África e Ásia. Levantamento foi feito analisando altura, peso e estatura de 478 crianças.

Os índices de desnutrição entre crianças indígenas no município de Jordão, no Acre, estão entre os mais altos do mundo, aponta o pesquisador Thiago Santos de Araújo em sua tese de mestrado, finalizada recentemente. A falta de acesso a serviços básicos de saúde e o hábito cultural ajudam a explicar as taxas.

Os casos mais emblemáticos estão entre indígenas de áreas rurais, onde a taxa de desnutrição avaliada foi de 59,4%. Para se ter uma ideia, esses índices chegam a 38% na África subsaariana e a 45% em algumas regiões no sudeste da Ásia, de acordo com Araújo. A taxa média é de 7% no Brasil e de 14,8% no Norte.

As medições para crianças indígenas vivendo na zona urbana apontaram taxas de desnutrição de 33,8%. Não indígenas de áreas rurais tiveram índice de 29,1% e, na zona urbana, a taxa foi de 19,3%, segundo o estudo.

O levantamento foi feito analisando altura, peso e estatura de 478 crianças no município de Jordão, das quais 193 eram indígenas, a maior parte da etnia kaxinawá. Todos os avaliados tinham até 5 anos de idade, diz Araújo, também professor na Universidade Federal do Acre (UFAC). “É o período mais crítico para o crescimento e a nutrição tem influência marcante no restante da vida”.

A dificuldade de acesso a serviços de saúde ajuda a explicar os índices, segundo o pesquisador. “Na zona urbana, a maior parte da população tem água encanada. Mas na zona rural, toma-se água direto do rio”. A ausência de saneamento básico em áreas rurais também intensifica os casos de desnutrição, lembra Araújo. “Isso facilita a propagação de doenças”.

O padrão alimentar na zona rural também é específico, sobretudo entre os indígenas. “Jordão é isolado e não tem acesso por estrada, todos os alimentos chegam de barco ou avião. Na zona rural, as pessoas vivem do que plantam. A mandioca é o principal alimento, além do feijão, amendoim e da colheita de frutas e sementes, da caça de animais silvestres e da pesca”, diz ele.

“Também não podemos descartar hipóteses de diferença genética de crescimento entre os indígenas”, diz Araújo, segundo quem o hábito cultural do aleitamento materno também pode influenciar as taxas de desnutrição. “A média de aleitamento exclusivo é muito baixa na zona rural, são menos de 15 dias”.

Para fazer a pesquisa, Araújo começou a colher dados em 2005, em um projeto que desenvolvia com o professor Pascoal Torres Muniz, da UFAC. Sua tese de mestrado buscou referências reais para provar a estimativa defendida pela pesquisadora Mariana Helena de Aquino Benício de que Jordão teria os mais altos índices de desnutrição do país.

Fonte: Globo Amazônia

Enviado por Rede Mãos Dadas

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