Por Pr. Rogério Souza

Certo dia comprei uma retro-escavadeira para meu filho de 07 aninhos… ela era grande e cheia de alavancas para operar as conchas e também tinha uma articulação no meio que permitia movimentos especiais… Um presente que o deixou muito contente. Não muito depois, resolvemos ter um dia de praia em família. Planejamos tudo um dia antes, roupas de banho, sombreiro, lanches… E no dia seguinte era visível minha empolgação, maior do que a comum!
Não esqueça seu trator filho! Disse eu repetidamente. Não é que ele ia esquecendo!? Essas crianças de hoje são assim… despreocupadas da vida!
Então, não muito depois, estávamos todos no morninho das areias brancas da Costa baiana. Esposa ao sol, filho na beira das águas azuis e eu… (risos) lá estava com ruídos de compressores e roncos de motor, totalmente imerso num mundo de fantasia operando a grande e magnífica retro-escavadeira. Cavando de um lado e amontoando do outro… não havia espaço/tempo definidos, passado e presente não mais faziam sentido, assim como os 07 e 40 anos fundidos numa realidade atemporal estabelecida naquele mágico instante.
Então, captei, como que de bem de longe, uma voz materna que perguntava: Tudo bem, amor?
Alí me dei por conta de que era minha esposa, que há muito contemplava aquela cena mista de tolice e ternura.
E com doçura, fitando meus olhos ingênuos e um tanto constrangidos, constatou o óbvio para quem é minimamente sensível e razoável: “O quanto deve doer a sua alma por não poder ter brincado em sua infância.”
Olhos lacrimejantes me fizeram lentes que transpassaram o presente e desaguaram-me no passado do menino pobre da feira livre da cidade, que cedinho separava legumes na barraca de frutas do tio, depois servia as mesas na barraca de almoços da mãe, corria para escola municipal… Sempre atrasado e desatento, segundo a “pró” dizia na reunião de pais, as quais os dele nunca iam, o que evitava algumas boas “cintadas”. Para findar seu curto dia, ajudava seu velho e gordo pai na mercearia ao cair da tarde para que os pés achatados e rachados descansassem as sandálias gastas de um dia todo de labuta de prateleira em prateleira. Enfim, chega a noite em preta cor… num piscar acabou e mais um dia sem cores recomeçou. A psicóloga vai dizer que uma fase da vida quando não vivida adequadamente, tende, vez por outra, retornar e dar os seus sinais de imperfeição e dor. Pode ser algo simples como brincar no parque de carrinho, bike, drone… ou nos processos de descontrole, na frustração, egocentrismo, egoísmo, sexualidade, autoridade, violência e perpetuação de violência.
Repetimos cada fase, seus atores e suas dores… Criança é para ser criança e fazer criancice… É para ser protegida, educada e amada. Não para ser lançada ao Tripalion (instrumento de tortura de onde origina a palavra trabalho), e sim, brincar de triciclo, parquinho, carrinho, barquinho, pipa, bicicleta, boneca… e retro-escavadeira.

 

  1. Penso que falta conexão com a realidade. Nem todas as crianças que trabalham o fazem de maneira terrível. Ao contrário, responsabilidade e labor moldam o caráter, entre outros benefícios. Tenho a impressão de que o indivíduo que escreveu esse texto tem como objetivo atingir colocações recentes do chefe do executivo, e o faz de maneira arbitrária e maldosa, generalizando de maneira extremamente covarde. Felizmente, palavras tocantes não representam a realidade e muitos brasileiros já conseguem perceber.

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