SimeaQuando conversava com Elsie sobre as últimas notícias de minha vida e ministério, jamais pensei que seria convidada para escrever este artigo. Mas, durante a conversa eu fui levada a refletir também, sobre o tempo que precisamos enfrentar no ministério com crianças e adolescentes que também um dia saem do cenário de nossas vidas e ministério. Principalmente agora que estou vivendo um novo momento; o conhecido como a síndrome do “Ninho Vazio”. Ian e eu temos três filhos e agora, estamos sozinhos em casa, desde janeiro, quando o mais novo casou. E agora estamos nos adaptando a uma casa vazia.

Sempre achei que estava preparada para este momento, consciente desde que eles nasceram, mas essa separação física e diária, traz sentimentos novos que por mais madura ou preparada, nos sentimos estranhas ou vazias. E, o mais estranho é que ao mesmo tempo, aconteceram alguns esvaziamentos no meu ministério, pois aquelas primeiras crianças que iniciamos a discipular na igreja próximo ao Lixão de Olinda, cresceram, foram capacitados para a vida, para o ministério e para enfrentar o mundo. Assim, estou enfrentando uma dose dupla de ninho vazio. E nesta série de artigos, espero refletir com vocês e contribuir para novos tempos na trajetória de quem precisa enfrentar estes momentos quando vamos enfrentar a realidade que aquela criança ou adolescente que tanto oramos, trabalhamos e corremos atrás de seu crescimento saudável e, que um dia chegou a hora de irem embora e, parece que levam um pedaço do nosso coração.

Como pais ou obreiros, precisamos estar preparados para este TEMPO, de deixarem partir.

 

 

Tudo tem um TEMPO! (Ec 3:1-8)

Para Deus não existe passado nem futuro, porque Ele não está preso dentro deste período. Deus é Deus, e somos nós que vivemos dentro de um limite. Nós estamos dentro do tempo cronológico, mas Deus está fora destes limites.

Quando refletimos sobre o nosso tempo e o tempo de Deus, percebemos que não podemos limitar o que Deus está fazendo, pois está agindo no seu tempo. O rei Salomão escreveu este livro que é um sermão sobre a vida humana, destinado a mostrar que a natureza dos prazeres deste mundo e a realização deles não dão satisfação, a não ser que Deus governe o coração e a vida. A grande lição é que a verdadeira sabedoria do ser humano está em temer a Deus e estar sempre atento a vontade de Deus.

Mas, nós sabemos que o ser humano se apega muito ao tempo, as coisas e as pessoas. Muitas pessoas vivem do passado, ou do presente ou de sonhos. Mesmo sabendo que tudo isso nos leva a frustração, e podemos de repente nos desiludir com as coisas, com as pessoas e com o tempo. Por isso, precisamos focar no que Deus esta fazendo através do tempo cronológico, das coisas que nos entregou e das pessoas que Deus nos confiou. –Seja na família ou no ministério.

 

Tempos difíceis

Estamos vivendo um tempo de busca de prazeres; varias formas de prazeres, e nestes prazeres as pessoas constroem suas vidas, suas expectativas e projetos. Vemos verdadeiros impérios humanos com placas de igrejas ou de organizações. Líderes construindo projetos como se nunca fossem se aposentar ou morrer. E, poucos conseguem dar o exemplo de repassar o bastão; de fechar seus ciclos; de deixar sucessores e bênçãos para futuras gerações. E quando lemos o livro de Salomão, vemos o autor tentando equacionar o “como alcançar a verdadeira felicidade.”

Desapegar-se é uma virtude que adquirimos quando estamos a serviço do Rei. Jesus mesmo disse: João 18:36.  “Meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas, agora, meu Reino não é daqui.” 

E antes disso Jesus também disse: “ As raposas têm covis, e as aves do céu ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. “ Mateus 8:18-22.

 

Tempo para Cuidar de Si Mesmo

Cuidar de nós mesmos é um esforço constante. Não podemos acordar sem primeiro pensar em nós mesmos. Porque todas as nossas decisões serão dirigidas por aquilo que pensamos de nós mesmos. Sabemos quem somos? Para que existimos? Para onde vamos?

Teoricamente, creio que sim. Mas, será que estamos vivendo sobre as respostas que damos?

Guimarães Rosa disse: “Na medida em que vamos vivendo e sofrendo, lentamente desvendamos quem somos.” Será que funciona ? Ou podemos economizar tempo e esforços usando o tesouro que Deus deixou para nos preencher nestes dias vazios? A comunhão diária com o Senhor Jesus Cristo.

 

Alinhando aptidões com motivações

O cuidado de si exige saber combinar as aptidões com as motivações. Não basta termos aptidão para cuidar de crianças em situação de risco social, ou ensinar na Escola Dominical, ou dirigir uma Organização Cristã que trabalha com Proteção de Crianças e Adolescentes … se não sentimos motivação para servir nesta área, com base solida que nos dá animo de levantar todos os dias e saber o que Deus esta fazendo e te chamou para fazer parte deste grande empreendimento do Reino. Da mesma forma, não nos ajudam as motivações para sermos cuidadores / obreiros se não tivermos a aptidão para isso. Desperdiçamos energias e colhemos frustrações. Ficamos medíocres, o que não  engrandece o Deus da Obra que estamos envolvidos.

Jesus é nosso maior e único exemplo. Ele disse sobre si mesmo e sobre sua motivação:

“Em verdade, em verdade vos asseguro, que o Filho nada pode fazer de si mesmo, mas somente pode fazer o que vê o Pai fazer, pois o que este fizer, o Filho semelhantemente o faz.

Porque o Pai ama o Filho, e lhe mostra todas as coisas que realiza. E maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis. …”  João 5: 19-20.

 

Insistindo na comunhão íntima e diária

A base desta preparação constante esta na comunhão intima e diária com o Senhor Jesus. Muitas pessoas perdem suas forças e motivação, porque investem menos tempo na leitura da Bíblia, na oração e no silêncio para escutar a voz do Senhor Jesus.

O apostolo Paulo também escreveu a segunda carta a Timóteo Cap. 4: 15 – 16.  “Dedica-te plenamente ao cumprimento dessas responsabilidades, para que todos possam testemunhar o teu progresso. Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino; persevera nesses deveres, pois agindo assim, salvarás tanto a tua própria vida quanto a todos que te derem ouvidos.”

O cuidado diário de si mesmo, nos leva a saber conviver com os desafios do tempo, das coisas e das pessoas. Pois todas as coisas existem por Ele e para Ele, Jesus de Nazaré. Aprendemos a enfrentar nossas contradições com a sabedoria que vem do Alto, e essas contradições serão iluminadas para se tornarem nossos mestres que nos ensinam e nos transformam em pessoas parecidas com Jesus. Nos passamos a nos amar de verdade, porque estamos aprendendo com Jesus, crescendo e sendo usados para um proposito que glorifica somente a Deus.

Claro que devemos cuidar do corpo, da mente e do espirito, pois desse conjunto de cuidados depende nossa saúde integral. Porém o carro chefe de nossa motivação para viver nossa vocação e ministérios, esta em diariamente reconhecermos nossa vulnerabilidade e incapacidade, e acordamos para viver mais um dia na dependência da Palavra de Deus e do Espirito Santo, para aprender a chorar com sabor de estar sendo consolado, perdoamos para abrir caminhos para a resiliência e para ter mais da direção de Deus. Cuidar de nós mesmos é buscar viver como Jesus viveu, enfrentando cada ciclo de sua vida sob a direção do Pai e na força que só temos quando aprendemos a olhar o que Ele esta fazendo.

 

Pra. Siméa de Souza Meldrum.
Adjunta na Paróquia Anglicana Água Viva.
Assessora de Compromisso Cristão na Visão Mundial.

  1. Já passei pela ‘síndrome do ninho vazio’. Agora estou na fase do ‘restos a pagar’. Esse é aquele momento em que depois que se dobra o ‘Cabo da Esperança’, augura-se mais alguns anos de vida ou quiçá, umas duas décadas.

    Pode-se preparando! Mesmo porque netos não são cópia dos pais, nem para melhor ou pior.

Leave a Reply to EDUARDO Cancel Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *