Porque Stott era um seguidor de Jesus

Admiro-me da integralidade de seu entendimento do Evangelho: ele incentivou uma contracultura cristã, falou sobre meio ambiente, sobre trabalho, sobre sexualidade – como vivências da fé cristã”.

Entristeci-me com a morte de John Stott. Sendo leitora dele desde os meus 20 anos de idade e, posteriormente, participando da divulgação de seus livros publicados pela Editora Ultimato e acompanhando notícias sobre seu ministério, desenvolvi admiração e apego por ele.

No dia 31 de julho de 2011, três dias depois de seu falecimento, registrei: “Que edificante saber que John Stott morreu entre amigos e familiares, lendo a Bíblia e ouvindo O Messias, de Handel. Ele sabia que chegava a sua hora, e tinha certeza de que em breve estaria com Jesus, o que ele desejava. Em sua despedida, no seu último livro (O Discípulo Radical), ele declarou esse desejo. Embora seja simples a mensagem de que ser cristão é ser um seguidor de Jesus, não é toda hora que conseguimos identificar pessoas parecidas com ele, portanto, fico feliz por ter ‘conhecido’ John Stott. Entendo que ele foi um seguidor, um imitador de Cristo. Manso, defensor da verdade, com uma missão muito clara (tornar Cristo conhecido), contemplativo e, ao mesmo tempo, militante. (Onde ele arranjava tempo para participar de tantas frentes e, além disso, para observar os pássaros?!) Admiro-me da integralidade de seu entendimento do Evangelho: ele incentivou uma contracultura cristã, falou sobre meio ambiente, sobre trabalho, sobre sexualidade – como vivências da fé cristã”.

Nos dias seguintes à morte de Stott, acompanhamos os testemunhos sobre ele. Muitos atestaram sua coerência [agia como pregava], sua dedicação às pessoas [sempre dispensando um tratamento cordial e amigo], sua simplicidade e desapego a bens materiais, seu entusiasmo por Jesus. Coisas de discípulo. Claro que muitos honraram, também, seus conhecimentos, sua oratória, sua influência, sua liderança.

Ele não abria mão do diálogo e persistia em esforços em prol da unidade. Ao tratar de assuntos “contemporâneos”, conseguia aliar mansidão com firmeza, respeitando seus oponentes. Sua simplicidade na escrita também foi elogiada por muitos. Ele não escreveu para os grandes, dispensou a sofisticação em seus textos. John Stott tratou de muitos assuntos que são prementes hoje. E o seu ensino está calcado nas Escrituras, a cujo estudo dedicava horas a fio – mais uma marca de um seguidor de Jesus.

Claro que ele não era perfeito. Ele estava bem ciente de suas debilidades, sabia que era dependente de Deus. E, certamente, nem tudo que escreveu tem a chancela de todos. Mas, sim, Stott deixou pegadas de seguidor de Cristo.

Desejo que a seleção de frases abaixo, pinçadas do livro A Bíblia Toda, o Ano Todo, no qual ele escreve de forma devocional e breve sobre vários assuntos que estão em outros livros, seja uma boa amostra de Stott, seguidor que aponta para Cristo.

“A cruz é um diamante multifacetado.”

“A cruz ainda é uma pedra de tropeço para o orgulho humano.”

“O pecado é como uma mancha que não pode ser erradicada, como pigmentação da pele que não pode ser mudada, como uma gravação que não pode ser removida, e como uma doença que não tem cura. Só Deus pode mudar o coração humano.”

“Graças a Deus por sua palavra revelada! Sim, sem ela estaríamos tateando no escuro.”

“Só Jesus pode abrir os olhos dos cegos, destapar o ouvido dos surdos e dar uma vida aos mortos, e assim acrescentar pessoas à igreja.”

“Não havia derrotismo nos cristãos primitivos. Vitória, conquista, triunfo e superação – esse era o vocabulário dos primeiros seguidores de Cristo. E eles atribuíam essa vitória à cruz.”

“Somente a ressurreição poderia transformar dúvida em fé, covardia em coragem, tristeza em alegria.”

“Devemos constantemente nos lembrar de quem somos. Precisamos aprender a perguntar a nós mesmos: Você sabe quem você é? Não sabe que está unido a Cristo e que se tornou escravo de Deus?”

“A mente cristã reconhece Deus como a realidade suprema e última por trás de todas as coisas […] A mente cristã é uma mente devota.”

“Deus promete nos guiar […]. Ele normalmente nos dirige através de processos racionais, e não a despeito deles.”

“Às vezes, quando estamos adorando a Deus no culto público, […] somos transportados para além de nós mesmos e nos unimos aos anjos, arcanjos e a todo exército celestial ao redor do trono de Deus.”

“Comunhão autêntica é uma comunhão trinitariana, nossa participação comum na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”

“Justiça e paz, eternidade e universalidade são as principais características do reino messiânico introduzido por Jesus. Essas qualidades podem ser facilmente detectadas nos quatro nomes do rei menino [Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz].”

“O reino de Deus é a implantação de seu governo sobre o seu povo. Ele é propagado por meio de testemunhas, não de soldados, através do evangelho da paz, não de uma declaração de guerra.”

“Toda missão autêntica é missão encarnacional, ou seja, implica necessariamente entrar no mundo das pessoas.”

“Missão sem o Espírito Santo é impossível. É ele quem nos equipa e capacita para o evangelismo.”

“É assim que o livro de Apocalipse termina. Ele deixa a igreja aguardando, esperançosa, crendo e desejando – a noiva procurando avidamente pelo noivo, clamando por ele.”

“A esperança cristã diz respeito […] também ao nosso futuro cósmico (a restauração do universo).”

“Os cristãos têm uma reputação muito negativa ou puritana em relação ao sexo. O Cântico dos Cânticos, entretanto, desmente isto, mostrando o sexo como uma bela celebração do amor conjugal.”

“Todas as culturas, por serem obras de homens, são uma mistura de coisas boas e coisas más, de verdades e mentiras, de beleza e feiura.”

“Aqueles que desfrutam de abundância devem simplificar seu estilo de vida, não por imaginar que isso irá resolver os grandes problemas do mundo, mas por solidariedade aos pobres.”

“Deus governa sobre toda a criação. Ele está vivo e ativo no mundo que ele criou, e dependemos dele para nos dar “vida, fôlego e as demais coisas”.”

“O mal, pelo menos a curto prazo, muitas vezes triunfa, enquanto o bem por vezes fracassa.”

• Klênia Fassoni é diretora administrativa da Editora Ultimato.

 

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