Medo de ver Deus
Passeando entre as interpretações do filme “A Árvore da Vida” de Malick topei com essa (no “Uol Entretenimento”):
“Se há um perigo a respeito de “A Árvore da Vida” é ser interpretado como um filme religioso, o que não é – muito embora Malick situe-se em território bem mais espiritualista do que Lars Von Trier e seu “Melancolia”.”
Perigo? Como assim “Perigo”? Que tipo de “perigo”?
“Sem dúvida, a religião faz parte da própria formação dos personagens – e não se esqueça que Waco foi o palco de uma tragédia de fundo religioso em 1993, culminando com a morte de 76 integrantes de uma seita fundamentalista cristã liderada por David Koresh.”
Ah, sim. Perigo porque religião lembra fundamentalismo, que lembra terrorismo. Waco = fundamentalismo cristão = religião = interpretação religiosa do filme.
“Entretanto, se o filme de Malick tem algum fundo espiritual, ou seja, anseia explorar além da matéria, é muito mais filosofia do que religião. Mas sempre haverá quem pense o contrário, especialmente numa sequência em que Sean Penn revê os personagens de seu passado numa praia. Aí, porém, a psicanálise parece uma referência melhor.”
Psicanálise. Tinha que ser a psicanálise. A melhor forma de um secularista desviar a atenção de sua sede de Deus.
Agora me digam: com a mente tão “poluída” assim contra a religião, tem jeito de um secularista entender Malick?
Acho que o medo de ver Deus na beleza da arte é tão grande que alguns críticos acabam arrancando os próprios olhos. Mas eu entendo: é tentação demais para uma pobre alma secular.
Bem diante da referencia a psicánalise, gostaria de pedir uma reflexão sobre ” um método perigoso” ( A Dangerous Method, Inglaterra/Alemanha/Canadá / Suíça,2011).
Guilherme boa noite!!!!
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que sua análise do filme foi a mais profunda e competende dentre as muitas que li. Compartilho com você o deslumbramento com que viu o filme e entendi a chave de interpretação, a graça e a natureza, embora tenha ficado um pouco confudo da forma com que elas foram representadas no filme, no que sua resenha ajudou muito a esclarecer. Mas isso se deve mais a minha própria incapacidade do que a falta de brilhantismo do filme, que aliás, é perfeito.
De todo modo, parece que nem todos parecem ter capitado essa mensagem religiosa do filme e quere, a qualquer custo, fazer dele um filme “humanista secular”. Veja por exemplo a análise do Pablo Villaça, que diz ser a graça o “altruísmo humanista”. Acredito que falte a ele uma leitura de Agostinho para entender melhor o que a Graça significa.
Segue o link da resenha: http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=2147
A paz!