Como assistir “A Árvore da Vida” de Terrence Malick
Guilherme de Carvalho – L’Abri Brasil[1]
“Árvore da Vida” (The Tree of Life, 2011) não é uma unanimidade. Em Cannes foi criticado por metade da plateia e aplaudido pela outra metade. Levou a Palme D’Or em Cannes (2011) e não levou nada no Oscar (2012), a despeito das indicações. Foi assistido quatro, cinco, seis vezes pelos fãs, e abandonado na metade ou antes por quase a metade do publico (ao menos na sala de cinema aonde eu estava). Pelo que ouvi, quase sempre no mesmo ponto (a parte do “dinossauro”).
Pessoalmente, considero este filme como uma das grandes obras-primas da história do cinema, e como uma das maiores peças de arte religiosa desde que a sétima arte foi inventada. E muita gente diria amém, seja pela sua qualidade técnica e artística, seja por sua profundidade espiritual.
Que tipo de filme poderia levar cristãos e não cristãos a “cuspir” sobre ele e ao mesmo tempo em que um ateu professo como o apresentador da Globo Zeca Camargo chega a reconhecer publicamente que seu ateísmo foi abalado pela película? (Veja o seu artigo, “O Cômico e o Cósmico”).
PORQUE MUITA GENTE NÃO ENTENDEU MALICK
Com a licença dos leitores, vou agora ferir nervos sensíveis: exceto, talvez, por uma estreita faixa da assistência que não gostou do filme por razões genuinamente técnicas ou ideológicas, suspeito que a maior parte dos cristãos e não cristãos que viram e não gostaram não souberam ver o filme, devido aos longos anos de condicionamento televisivo e hollywoodiano.
Ou melhor: não sabemos ver cinema como arte. Uma das observações mais duras do cineasta russo Andrei Tarkovski sobre o cinema é exatamente essa: que o cinema deixou de ser uma arte relacionada à imagem e à imagem no tempo e se tornou teatro filmado.
“… os filmes de Lumière foram os primeiros a conter a semente de um novo princípio estético. Logo a seguir, porém, o cinema distanciou-se da arte e empenhou-se em seguir o caminho mais seguro dos interesses medíocres e lucrativos. Nas duas décadas seguintes, filmou-se praticamente toda a literatura mundial, além de um grande número de obras teatrais. O cinema foi explorado com o objetivo direto e sedutor de registrar o desempenho teatral; tomou o caminho errado…”
Andrei Tarkovski, Esculpir o Tempo, Martins Fontes, p. 71.
Não é preciso ser purista nem gostar dos filmes de Tarkovski (o que, na verdade, é difícil) para reconhecer que há algo verdadeiro aí. Se o cinema for apenas teatro filmado, não é uma forma de arte distinta. Se for apenas tecnologia de efeitos especiais, o cinema e o game poderiam ser a mesma coisa.
Não há pecado em assistir a um filme por pura diversão – é para isso que serve o filme “pipoca” – e ninguém tem a obrigação de gostar e de aprender a gozar de cada forma de arte criada pelo homem. Mas não é inteligente utilizar o entretenimento como critério final de julgamento da arte.
Mais do que isso, talvez possamos até dizer que se Blaise Pascal estiver certo, e o entretenimento for uma forma do homem evitar a consciência de sua ruína espiritual e de sua necessidade de Deus, é subecristão considerar o poder de entretenimento um critério final para qualquer coisa, e muito menos para a arte.
A questão é que o último filme de Malick não é, definitivamente, uma peça de entretenimento. Vou aqui tentar interpretá-la como uma obra de arte no sentido Tarkovskiano, que gira em torno do princípio estético próprio do cinema, da criação de “esculturas” temporais; e que evita perder-se no teatro, ou no recurso tecnológico. Não se pode assistir The Tree of Life como se assiste “O Homem Aranha”. Não é que não se possa assistir “O Homem Aranha”, mas que não se pode assistir aos dois filmes com o mesmo espírito.
Assistir “A Árvore da Vida” é mais como ir a um museu de arte, para ter a chance de ver um Rembrandt: prende-se a respiração e gastam se pensamentos e emoções na busca de uma experiência estética intencional. Não se trata de uma “distração”, de buscar algo para “rir um pouco”, nem do estímulo de uma história aventuresca. Se alguém nunca foi a um museu de arte e jamais quis ir a um; se a única música que ele escuta é a do rádio (para não se sentir sozinho em casa) ou aquela música que evoca as sensações da última balada, é evidente que tal pessoa não está preparada para avaliar o cinema de Malick.
Repito: se você sabe ver um filme como arte e não gostou de Tree of Life, isso não se aplica a você. É perfeitamente adequado desaprovar de forma inteligente uma obra de arte. Mas infelizmente isso não se aplica à maioria do público brasileiro; de modo que uma leve e saudável suspeita de si mesmo pode ajudar bastante ao cinéfilo.
Mas há algo mais em jogo. Segundo minha percepção, o filme de Malick não é apenas uma obra de arte, mas uma obra de arte religiosa. E isso acrescenta uma segunda complexidade: é que assistir “A Árvore da Vida” é um pouco como ir à Igreja; ou, para aqueles com uma espiritualidade mais ampla, ter uma visão espiritual de uma paisagem natural grandiosa. De fato “Terry” chega à ousadia de transformar a sala de cinema em uma igreja ao botar o público para ouvir o sermão de um padre, dentro de uma capela, baseado no livro de Jó; e um sermão de arrancar o couro (veja o texto AQUI). Quem, hoje, teria a coragem, a capacidade, e a autoridade para fazer uma coisa dessas? Uns poucos… e Terrence Malick.
E daí a dúvida: a igreja estava em Cannes? Ou será que Cannes foi à igreja? Uma coisa é certa: se você não sentiu essa fusão religiosa ao ver o filme, então você ainda não viu o filme. E essa é a outra razão, creio, porque muita gente não entendeu Malick: é que lhes faltavam categorias espirituais e até mesmo teológicas para assistir ao filme. Posso citar uma: A Árvore da Vida é inacessível sem uma categoria teológica básica, um teosofema que é enunciado explicitamente por Malick no princípio do filme como sua subestrutura fundamental: a distinção de Natureza e Graça, que tem uma longa história no ocidente desde suas raízes bíblicas, passando por Agostinho, Tomás de Aquino, Calvino, Pascal, até o pensamento cristão do século XX (Tillich, Barth, Dooyeweerd, de Lubac, entre outros).
A completa ignorância sobre a profundidade e a importância dessas categorias bloquearam a compreensão do filme para uma miríade de críticos de cinema – alguns até experientes – que tentaram reduzi-lo a uma leitura psicológica edipiana, ou a uma crítica da sociedade americana dos anos 50, ou a um experimento surrealista, ou uma imitação de Kubrick em “2001” (absurdo dos absurdos), ou a mais ridícula de todas: uma coleção sem propósito de imagens e sons na esteira dos documentários da NatGeo. E quando esse secularismo raso se misturava com a falta de educação artística, os resultados só poderiam ser catastróficos. Ao que parece esses críticos simplesmente assumem que as categorias teológicas cristãs (que, a propósito, foram essenciais para a própria constituição das categorias filosóficas modernas) “não podem” ser essenciais para compreender uma obra-prima contemporânea. Não podem porque isso seria anacrônico, porque seria kitsch, porque “ninguém usa isso mais”, porque isso não é coisa de gente “inteligente”, porque seria “propaganda religiosa”… E assim eles prosseguem, arrancando os próprios olhos bem diante da evidência.
De novo, preciso observar que alguns expectadores e críticos realmente entenderam a carga religiosa e existencial do filme, e não gostaram exatamente disso. Ao que se sabe essa foi a motivação de parte das vaias em Cannes; mas não deveríamos esperar algo diferente de um filme que pretende atingir o expectador em sua raiz espiritual. Isso dói tanto quanto tocar na raiz de um dente.
Assim, sugiro àqueles que viram o filme e não o entenderam, ou não gostaram dele, que tentem de novo. Tentem diferente, com outra atitude. Mais do que isso: orem (ou meditem, se não forem cristãos) antes e depois de ver o filme. Não dá pra assistir A Árvore da Vida só com os olhos. Tem que ser com a alma.
MALICK E O FILME
Não temos espaço para uma sinopse aqui, então recomendo a Sinopse da Wikipédia, onde há detalhes sobre o enredo.
Quanto ao diretor, também não faltam websites com informações, embora faltem, efetivamente, informações! Terrence Malick é uma das figuras mais enigmáticas do cinema contemporâneo. Avesso a fotografias, a entrevistas, ausentou-se até mesmo de Cannes para evitar publicidade.
Malick nasceu em Waco, Texas, em 30 de Novembro de 1943, cresceu num contexto rural, estudou filosofia em Harvard (aluno de Stanley Cavell, importante estudioso de Heidegger, Kierkegaard e Wittgenstein, e filósofo do cinema) e no Madgalen College de Oxford (sem completar sua tese). Entre seus maiores interesses, a filosofia de Martin Heidegger, o qual ele conheceu pessoalmente. Tornou-se jornalista freelance e chegou a ensinar filosofia no M.I.T. quando se voltou para estudos de cinema, já em 1969. Desde então realizou poucos filmes que o projetaram como um dos maiores diretores americanos contemporâneos (Lanton Mills, 1969; Badlands, 1973; Dias do Paraíso, 1978; Além da Linha Vermelha, 1988; Novo Mundo, 2005; A Árvore da Vida, 2011).
Vale mencionar que suas origens espirituais são cristãs; o pai era cristão maronita, de origem assíria-libanesa, e o próprio Malick foi educado em uma escola episcopal em Austin, Texas. Atualmente ele frequenta uma Igreja Episcopal em Austin (especula-se que seria a Igreja Episcopal “Good Shepherd”) com sua esposa Ecky Wallace, que é filha de um pastor episcopal, estudou teologia e é descrita como “muito devota” (mais do que o marido, talvez!). Até onde vai a fé pessoal de Malick, no entanto, é difícil dizer já que ele não parece interessado em anuncia-la publicamente. No momento o melhor que temos é, provavelmente, a própria obra de Malick.
TEMA E MÉTODO
O tema do filme é a “árvore da vida”, uma imagem bíblica que representa a Vida Eterna no Éden. Malick associa essa imagem a outro tema bíblico tradicional: a dos “dois caminhos” (de fato o endereço oficial do filme na internet é “dois caminhos através da vida”, http://www.twowaysthroughlife.com). Há dois caminhos possíveis para responder à árvore, segundo se anuncia logo nas primeiras cenas do filme: um é o caminho da Natureza, que rejeita desapegar-se de si e alimentar-se da árvore, que insiste em sua rigidez e por isso se quebra, e o caminho da Graça, que aceita a dor com esperança e que vê na Árvore tanto a fonte última da Natureza como a única capaz de leva-la à Vida Eterna. O símbolo da árvore aparece do início ao fim do filme, e em todos os seus momentos cruciais. Às vezes como uma pequena planta, às vezes como uma árvore frondosa.
O filme é aparentemente irregular, descontínuo, ignorando a demanda intuitiva que todos nós temos pela linearidade temporal e por conexões lógicas de causalidade. Mas não é que elas sejam negadas no filme; é que sua apresentação é organizada em uma estrutura poética. Na poesia as relações entre as coisas são captadas de forma estética, por meio de associações imagéticas, rítmicas, sonoras, e conceituais, mas sem afirmações diretas e rigores silogísticos. Isso é possível em um filme porque poesia não é apenas um gênero, mas “uma consciência do mundo, uma forma específica de relacionamento com a realidade” (Tarkovski, 18) e assim o artista
“… é capaz de perceber as características que regem a organização poética da existência. Ele é capaz de ir além dos limites da lógica linear, para poder exprimir a verdade e a complexidade profundas das ligações imponderáveis e dos fenômenos ocultos da vida.” (Tarkovski, 19).
Para superar o incômodo da ausência de linearidade o expectador precisa saltar da atitude naturalista para uma atitude poética, e explorar as analogias e conexões estéticas entre as partes aparentemente “soltas” do filme, exatamente como na poesia escrita. A diferença é que a poesia agora é feita de imagens e narrativas. E na verdade a vida é muito mais poética do que “naturalista” (Tarkovski, 20); a mesma intuição necessária para ver o sentido das nossas vidas concretas é a atitude necessária para ver esse sentido no filme de Malick; quando ela está ausente em um, estará ausente no outro e vice versa. Nesse sentido o filme se torna uma pedagogia do significado da vida; a imaginação poética que vê o sentido espiritual da vida no universo do filme ganha a capacidade de imaginá-lo em sua própria existência.
Outro ponto importante é que o filme é completamente autoral. Quase sempre, quando vemos um filme, ficamos impressionados (ou não) com a atuação dos atores. Mas em nosso filme a experiência é completamente diferente. Apesar das grandes atuações e dos grandes nomes, o que vem à mente é o diretor, não os atores. Nisso Malick é fiel ao programa Tarkovskiano de “cinema de autor”. O filme não pretende pôr à frente o ator, a atuação, nem ser fiel a uma narrativa escrita anterior, mas exprime a interioridade do diretor, sua experiência do mundo e sua percepção poética das coisas. “Só em presença de sua visão pessoal, quando ele se torna uma espécie de filósofo, é que o diretor emerge como artista – e o cinema como arte” (Tarkovski, 68).
Quem acompanhou as notícias sobre o filme deve ter topado com a crítica de Sean Penn – o “subjecto” principal do filme, embora não o papel principal – a Malick numa entrevista do jornal francês Le Figaro: “eu não encontrei na tela a emoção do roteiro, que é o mais magnificente que jamais li. Uma narrativa mais clara e convencional teria ajudado o filme sem, na minha opinião, reduzir sua beleza e seu impacto … Francamente, ainda estou tentando descobrir o que é que estou fazendo a li e o que eu deveria adicionar naquele contexto … Terry nunca conseguiu me explicar isso claramente”. O filme foi por outro lado defendido incondicionalmente por Brad Pitt, que faz outro papel central.
Na verdade tudo faz sentido quando o filme é visto como um filme completa e radicalmente autoral. Mas além disso, Jack (representado a vida adulta por Penn) tem uma presença múltipla no filme, como criança, adulto, e mente autorreflexiva; ele claramente não poderia estar contido na atuação de Penn. É claro que pode ter havido uma falha de Malick em relação ao seu próprio roteiro (ainda mais grandioso que o filme?), mas o resultado final não diz respeito à atuação de Penn, e sim à poesia de Malick, e é sobre ele que nos perguntamos assim que pisamos fora da sala de cinema: quem é esse poeta, filósofo e – segundo vou alegar ao final do artigo – esse teólogo?
ORGANIZAÇÃO NARRATIVA
Quero sugerir, sem nenhuma prova incontestável (exceto a intuição do próprio expectador, quando assistir ao filme munido dos meus palpites) que temos quatro níveis poéticos/narrativos/temporais no filme, e é de grande ajuda identificar os quatro níveis e o que é contado em cada um deles, pois Malick salta repetidamente de um nível ao outro sem aviso, mas sempre para estabelecer conexões poéticas entre esses diferentes níveis narrativos. E a mesma história é contada em todos os níveis, embora com recursos distintos, de forma que é preciso interpretar um nível temporal a partir do outro, discernindo como a mesma noção é apresentada de um jeito em nível, e de outro em outro nível.
Meus alegados “níveis narrativos” são os seguintes:
(1) O Tempo Interno, que acontece dentro de Jack O’Brian (Sean Penn). É o tempo da autorreflexão de Jack, um homem adulto e “bem sucedido” do ponto de vista secular, trabalhando em Nova Iorque. Toda a história do filme acontece dentro da autorreflexão de Jack, iniciada com a notícia da morte do irmão. No encontro com a família O’Brian (mais para o fim do filme) ele se pergunta como é que a mãe, a senhora O’Brian (Jessica Chastain) suportou a perda do irmão. Essa pergunta reflete o que deixa Jack intrigado: o mistério da graça na vida de sua mãe. Ele encontrará a resposta no final do filme.
(2) O tempo histórico é repassado na memória de Jack, mas é contado de uma forma mais completa, de um ponto de vista narrativamente privilegiado, como um diálogo entre a mãe e Deus. Esse tempo é também iniciado com a perda do filho pela mãe, e pelas perguntas que a mãe faz a Deus (ou seja, a resposta à pergunta de Jack depende da relação entre a mãe e Deus). Essas perguntas introduzem a apresentação do terceiro e do quarto nível temporal, de que falaremos mais adiante.
A perda do filho leva a mãe a uma crise profunda, que a faz perguntar a Deus “por que”. A sogra, numa conversa particular, sugere a ela que não devemos nos prender a nada temporal, e que ela deveria esquecer o filho para evitar a dor. A mãe é submetida à mais terrível tentação quando a sogra diz que o Senhor “envia moscas às feridas que deveria curar” (e a sogra desaparece na cena final do filme). Enquanto ela e Jack fazem essas perguntas, somos levados ao terceiro nível temporal. Mas o fato é que a mãe supera essa tentação; mais ao final do filme ela é representada entre muitas árvores, caminhando e confessando a sua fé em Deus.
Mas voltemos ao segundo nível: o tempo histórico é o tempo da família, no interior da qual o problema da relação entre Natureza e Graça se desdobra. Esse problema é anunciado verbalmente na abertura do filme pela senhora O’Brien, a mãe, ao mesmo tempo em que as imagens revelam como ela foi ensinada sobre isso por seu próprio pai, cuja face não aparece. Com ele ela aprende a recorrer à graça diante da dor na natureza (na cena do contato com uma vaca).
A dualidade de natureza e graça é mostrada no conflito progressivamente revelado entre o patriarca da família O’Brian (Brad Pitt), que existe de forma contraditória e cega, negando a Graça, mas dependendo dela em todos os momentos, e a mãe, que escolheu viver pela Graça e, por assim dizer, “dançar em torno da árvore da vida” (a “dança no ar”, quando a mãe flutua em torno da árvore, é a propósito um tema característico de Andrei Tarkovski). O Pai ensina aos filhos o caminho da Natureza, e a Mãe o da Graça. Por isso eles entram em conflito constante.[2]
Um interessante exemplo da tolice espiritual do pai é o momento do sermão, quando o Padre explica na igreja a mensagem de Jó, de que não existe ponto de estabilidade e garantias de felicidade dentro do tempo, e que ninguém pode impor condições a Deus, nem negar sua presença em razão do sofrimento. Logo depois o pai tenta ensinar aos filhos que a mãe é ingênua, e que o caminho da natureza, em sua busca egoísta por segurança, é o melhor caminho. Mas a mãe também ensina. Ela comunica a necessidade do amor para alcançar a felicidade.[3]
Dentro de si mesmo Jack (representado na infância pela atuação esplêndida de Hunter McCracken) incorpora esse conflito, tendo dificuldades para ser consistente, e sofrendo com grandes dúvidas sobre a existência e a bondade de Deus. Ele passa por momentos de graça e também por momentos de “Queda”, quando se torna perverso e pensa até em matar o pai (na cena em que ele está debaixo do carro consertando-o). Mas ele é “resgatado” através de sua mãe e principalmente de seu irmão, reconciliando-se por causa deles com seu pai[4].
Ao final da narrativa da família o pai, depois de perder o emprego e ver o fracasso de seus projetos temporais, confessa que a glória já estava em torno dele sem que ele o soubesse. E eles precisam deixar a casa onde cresceram num processo de grande luto, encerrando-se assim o relato do tempo histórico.
(3) O tempo cósmico é o tempo do universo natural, de sua origem até o seu fim. Após a pergunta da mãe sobre o porquê da perda de seu filho, Malick nos leva para uma viagem até a origem de todas as coisas, quando Deus criou o universo, desde o Big Bang, passando pela origem das galáxias, do sistema solar, da terra, dos continentes, a evolução biológica, incluindo tanto o sofrimento como a graça como estando presentes desde o princípio. Tudo sendo contextualizado pelas orações da mãe, inspiradas no livro de Jó.
Depois que a narrativa da história da família é encerrada, com a perda da casa, o luto profundo dos irmãos, e a cena da casa se afastando a partir do interior do carro, o tempo cósmico é retomado, contando a história do fim do mundo. O fim do mundo é representado com categorias científicas, como o crescimento do Sol para se tornar uma estrela gigante-vermelha (previsto para alguns bilhões de anos no futuro), o que levará à destruição total da vida na terra, seguido pelo colapso do sol, que se tornará uma estrela anã-branca. Essa parte do filme representa a mortalidade e efetivamente a morte de tudo o que é Natural. Com isso Malick quer dizer que a Natureza, por si só, não tem um futuro. É vaidade.
(4) O quarto nível é o tempo Escatológico, ou seja, o tempo da ação redentiva de Deus, que se consumará no futuro. É o tempo da Fé. Depois do luto da família e do luto do universo, Malick viaja para a realidade além do tempo cósmico atual, e faz Jack imaginar sua própria passagem pela morte (uma pequena porta), enquanto segue uma mulher (um símbolo da Graça?) por um caminho deserto (que possivelmente representa a incerteza e a necessidade de esperança).
Segue-se uma série de metáforas da ressurreição, com corpos mortos no campo, e em seguida com a mulher (a graça?) aproximando-se com a vela acesa e acendendo a vela de outra pessoa (ou seja, ressuscitando-a), uma noiva morta que de repente é vista viva novamente, alguém dentro de um buraco que olha para cima e vê a mão (da graça) estendendo-se para tirá-lo de lá, uma escada para cima, que convida à subida. Mais à frente, a direção da morte e esfriamento do cosmo (com a terra devastada ocultando a luz azul do sol-anã-branca) é revertida com um reaparecimento e um súbito resplandecer do sol – cena que aparece de forma muito rápida e de relance.
Então Jack chega a um lugar na beira do mar (signo do infinito?), onde os seres humanos se encontram, reconciliados. Ali ele vê seus familiares, e vê a sua Mãe (mas os pais de seu pai, o Sr. O’Brian, não aparecem ali, o que possivelmente significa o seu desaparecimento). A própria árvore da vida aparece ali, como a única árvore restante, mas surge como um pequenino arbusto na beira d’agua, plantado na areia.
Acompanhando sua mãe Jack é levado ao passado novamente, embora de forma simbólica, e vê o momento em que ela entrega o irmão que morreu, quando ele ainda era criança, nas mãos de Deus, deixando-o passar por uma porta onde se vê apenas a planície e o Sol atrás dele. Nessa hora a entrega que a mãe faz é representada como uma dança em que a mãe abre suas mãos, enquanto é ajudada por duas outras figuras femininas[5].
A escolha da mãe é a resposta para a pergunta de Jack, sobre como a mãe foi capaz de superar a perda do filho – muito embora a própria mãe não tenha recebido uma resposta clara sobre a razão do seu sofrimento (o que é indicado, inclusive, pela citação de Jó na abertura do filme: “Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? … Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam?”). O “milagre” do filme é, portanto, mostrar como a fé e a vida na Graça tornam-se elas mesmas sinais divinos no mundo; a mãe e o irmão levam Jack de volta para Deus.
Depois disso o filme retorna para o nível 1, com Jack refletindo e sorrindo levemente com a compreensão da Graça, enquanto ao fundo a imagem da árvore se contrapõe à dos edifícios e aparentemente poderosos projetos humanos. Sutilmente se sugere que a árvore pequena e os edifícios enormes não reflete a proporção verdadeira das coisas. É preciso intuição poética e insight religioso para descobrir a verdade sobre o mundo.
(5) Acima de todos os níveis narrativos está o eterno. Ele é representado pela chama. A chama de onde o mundo veio é apresentada no início do filme e no final, e também aparece durante o filme duas vezes, em momentos de mudança de nível narrativo (como Vanessa Belmonte do L’Abri observou). O eterno aparece dentro do temporal principalmente representado pelo Sol, que surge atrás da mãe ou dominando sutilmente a cena em momentos importantes. No Quarto nível temporal (o “escatológico”) há uma espécie de encontro do eterno com o temporal, de modo que o papel do Sol fica bem claro. Ele representa Deus como a fonte da Graça, que existe antes da Natureza, na Natureza, e depois da Natureza. Por isso no final do filme a chama não apaga progressivamente; o filme termina subitamente com a chama ainda acesa, para indicar sua eternidade.
É preciso dar muita atenção aos símbolos visuais. Tenho algumas sugestões sobre os principais e seus possíveis significados: a árvore (vida eterna); as danças/brincadeiras (a pericorese trinitária[6], amor, alegria); a violência e possessividade do pai; a mediação da graça (por exemplo, quando a mãe enrola o filho em uma cortina e o beija através dela, indicando que Deus está presente, embora de forma misteriosamente oculta); a luz do sol e das velas; o vôo da mãe em torno da árvore; o movimento em direção à janela do sótão (em um momento Jack, cheio de dúvidas, para de andar e fica brincando de bicicleta no meio do caminho), o vitral com a imagem de Cristo, num momento crítico do sermão do padre, e as mãos, que se repetem ad infinitum como expressões não apenas afetivas e espirituais. Particularmente bela é a representação simbólica da fecundação e do nascimento de Jack.
Entre todas as metáforas visuais, a que representa mais diretamente o tema do diretor, e minha opinião, são os girassóis. Eles aparecem no início do filme, quando a mãe compreende o caminho da Graça, e no final da narrativa do tempo da Fé, que é encerrada com o campo de girassóis. Os girassóis representam de forma indireta a visão de Deus (pois eles estão sempre virados para o Sol), e o campo de Girassóis simboliza a “Visio Dei”, ou visão beatífica, a visão final da face de Deus profetizada em Apocalipse (o que é exatamente o tema da música de fundo, nessa cena).
A mãe, possivelmente, representa também Maria (o que é bem plausível, considerando as origens espirituais de Malick); ela é o paradigma de como o ser humano deve viver em relação à natureza e à graça, e ao tornar-se paradigma torna-se também veículo de graça e iluminação para os que a observam. Descontando o uso idólatra potencial dessa figuração, é preciso dizer que considerar Maria um paradigma de santidade cristã e incorporação da graça, capaz de desafiar e desmascarar a escolha do caminho da natureza é algo perfeitamente compatível com a fé protestante.
RECURSOS DE CINEMATOGRAFIA E FUNDAMENTAÇÃO CIENTÍFICA
O filme usa a não-linearidade para criar uma instabilidade, forçando uma transcendência em relação ao tempo. Não porque Malick queira desestabilizar num sentido pós-moderno (negar que exista sentido), mas porque deseja sugerir a relatividade do tempo em relação ao eterno. e sua presença não-linear dentro da consciência humana (e não é nesse vai-e-vem que cada um de nós vivencia o tempo?). Essa quebra da linearidade é assim um recurso poético, um modo de comunicação estética que vai além da lógica (embora não esteja em contradição com ela) para nos atingir diretamente na alma.
Malick evita a computação gráfica sempre que possível. Assim, por exemplo, toda a representação inicial da criação do universo é feita usando filmagens em alta definição e reproduções em slow-motion de manipulação de líquidos e substâncias químicas. Aqui ocorreu uma óbvia semelhança com Stanley Kubrick em 2001: A Space Odyssey (1968), até porque Malick recorreu ao amigo Douglas Trumbull, que trabalhou nos efeitos especiais de 2001. Além disso, houve recurso até mesmo a experts da NASA para realizar as simulações sobre a origem do cosmo. A teoria da evolução bem como os estudos mais recentes sobre as origens do altruísmo animal são empregados nas polêmicas sequências com os “dinossauros”. O filme é assim simultaneamente artesanal e cientificamente up-to-date. Isso é, por sinal, uma das muitas evidências contra as interpretações surrealistas ou puramente psicanalíticas: essa figuração precisa e informada da história natural não é meramente simbólica ou para produzir uma impressão visual, mas para colocar a sentido da graça contra o fundo realístico da ciência moderna e vice versa. Que outra razão haveria para introduzir dinossauros no meio do filme?
Cada imagem com seus detalhes é uma obra intencional; o filme é menos produto de acasos interessantes enquanto a captura de imagens era feita[7], e mais uma sequência de pinturas. O cinema de Malick é completamente “autoral”, como observamos antes: cada sequência é quadro, e o diretor aparece mais do que os atores. A imagem é sempre metafórica – não só as coisas que aparecem, mas os diálogos, os eventos, etc.
Um exemplo disso é o movimento ascendente da câmera, que se repete insistentemente. A câmera sobe até mostrar o céu, quase sempre em conexão com a árvore. Com isso Malick quer reproduzir a experiência que a Catedral Gótica pretendia produzir no passado, oferecendo ao fiel uma experiência de grandeza, transcendência e ascensão, apontando para Deus. Isso fica evidente quando a própria mãe diz que Deus mora lá em cima, “no céu”. Outro exemplo é o insistente posicionamento da câmera contra o Sol, que é mostrado atrás da árvore (como que apontando para ela), ou quando Jack retorna à sua mãe, após o roubo do lingerie da vizinha, é mostrado sempre atrás da cabeça da mãe, emulando o halo de santidade que vemos na pintura medieval.
O realismo fantástico de Tarkovski aparece no voo da mãe, na representação metafórica do ato sexual e do nascimento de Jack, e assim por diante. Nisso ele lembra a arte medieval que usava a fantasia para falar da realidade.
TRILHA SONORA
Por último, atenção para a trilha sonora organizada por Alexandre Desplat (pode ser adquirida AQUI). Além de outras peças clássicas, há um emprego intencional do minimalismo sacro (Arvo Part, Gorecki, Tavener, e outros) que talvez revele a paridade entre o projeto de Malick e o desses compositores sacros contemporâneos, de representar o eterno na arte. (Veja um exemplo de Gorecki que aparece no filme AQUI e uma entrevista de Björk com Arvo Part AQUI).
Particularmente significativo é o recurso ao “Requiem”, a missa fúnebre. O texto do Requiem é sempre o mesmo (com origens Medievais), mas cada compositor cria uma música diferente para ele (o mais famoso de todos é, naturalmente, o de Mozart, mas muita gente não sabe que há vários Requiems). De forma absolutamente reveladora, a criação da Natureza já é iniciada com a “Lacrimosa 2” de Zbigniew Preisner (dedicada ao grande cineasta Krzysztof Kieślowski), que é um lamento pela perdição do homem e uma oração pedindo misericórdia. Como isso se sugere que a Natureza está desde o princípio limitada e que o homem que nela se fia está condenado. E no final de tudo, quando chegamos ao tempo da fé e a sequência da “praia”, são executadas as últimas duas peças do Requiem, a primeira (Agnus Dei de Berlioz) dizendo “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, dê a eles descanso” (Agnus Dei qui tollis peccata mundi, dona eis requiem) e a segunda (Communion) sobre o descanso final do servos de Deus, quando eles verão a luz eterna brilhando sobre eles e encontrarão o descanso eterno (Lux aeterna, luceat eis, Domine, cum sanctis tuis in aeternum, quia pius es. Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis). A composição da imagem do campo de girassóis com o tema da Communion representa a Visão Beatífica final.
MINHA INTERPRETAÇÃO…
Quem teve a paciência de ler todo o artigo pode estar pensando agora sobre a fonte dessa interpretação. Plágio? Informação privilegiada? Nonsense absoluto? Nesse ponto preciso lembrar a todos que a despeito da tonalidade de convicção do meu texto, trata-se apenas da minha hipótese sobre o filme. Pode estar certa, meio-certa, ou errada – muito embora eu, naturalmente, defenda que ela está em algum lugar entre “certa” e “meio-certa”!
Mas realmente penso que o centro do filme é a escolha da mãe pela Graça, mesmo diante da confusão do sofrimento, e o impacto revelador que isso tem sobre o sentido do mundo, como evidência divina, como sinal e caminho da Vida Eterna. Isso é a Árvore da Vida.
E Jack, o personagem principal, representa o homem moderno, esquecido de suas origens (cristãs), que mergulhou na “Natureza” e que já não compreende o caminho da Graça. O itinerário autorreflexivo de Jack é o ponto de identificação e de contato pedagógico com o expectador secularizado contemporâneo, para que sua imaginação poética seja reaberta e ele próprio reconsidere o seu caminho.
Certamente Terrence Malick emerge da obra como poeta e filósofo; mas minha hipótese pessoal é que ele emerge também como teólogo natural. Para mim, “A Árvore da Vida” é uma peça de teologia natural, que aponta o sentido divino do mundo para o homem moderno (de fato, ele pergunta e discursa sobre o problema do mal, sobre o bem, sobre a Graça e sobre o destino do mundo), mas o faz transformando a experiência visual-temporal em algo quase sacramental. Deus é incessantemente revelado diante do expectador, de forma consistentemente indireta e sutil; mas você reconhecerá a sua presença, se já tiver escolhido o caminho da Graça.
OBS: NO PRÓXIMO POST SOBRE O FILME VAMOS DISCUTIR CRITICAMENTE A SUA CONCEPÇÃO DE NATUREZA E GRAÇA.
[1] guilherme.religion@gmail.com.
[2] Curiosamente, a mãe aprendeu o caminho da Graça com seu o seu Pai, no princípio do filme; mas os pais da mãe não tem identidade temporal definida, ao contrário dos avós paternos de Jack, que aparecem com identidades humanas, desaparecem na narrativa e nunca mais reaparecem – nem mesmo na cena final da praia. Creio que eles representam a vaidade da natureza e também a perdição de todo o que nela se fixa.
[3] Quando a mãe ensina as primeiras lições a Jack, temos uma interessantíssima sequência na brincadeira com o cavalo de brinquedo em que ela diz três vezes a Jack “jump, jump, jump”, sendo que na terceira vez a palavra é pronunciada no escuro – e no momento seguinte, passamos à cena em que pela primeira vez Jack vê seu irmão, no colo.
[4] Por isso o filme abre com Jack dizendo “mother, brother” e reconhecendo que eles lhe mostraram o caminho.
[5] Talvez Malick tenha se referido à tradição mitológica antiga das “três graças”, sendo a graça central a deusa “charitas” (termo latino, do grego “Charis”, “Graça”). Essa imagem surge na tradição literária e iconográfica medieval, renascentista e barroca das com vários exemplos interessantes. Uma busca de imagens na internet revelará exemplos emblemáticos como as “três graças” de Botticelli. No fundo mitológico, a graça tem a ver com a beleza humana, a criatividade e a fertilidade. Mas Malick as transforma em símbolos teológicos com Mãe tornando-se o novo paradigma do verdadeiro significado e “graça”, relacionando-o com a fé e o amor cristão.
[6] O termo “pericorese” foi empregado pelos pais da igreja para se referir à mútua habitação das pessoas da trindade, unindo-as no que foi descrito por Santo Atanásio como uma “dança”.
[7] Com notáveis exceções como a cena da borboleta pousando nas mãos da senhora O’Brien, que foi não intencional e certamente uma dádiva providencial – eu diria.
Obrigada, obrigada, obrigada por compartilhar tudo isso. Eu já havia gostado muito do filme mas não conseguia explicar ou entender bem porque. Eu só dizia achei “belo” quando me questionavam. Também acho que você está entre o certo e o quase-certo. E depois de tudo que li aqui, com certeza assistirei outra vez entendendo melhor a beleza que vi e senti. Sem me cansar, obrigada!
Estava ansioso por esse texto e não me arrependi.
Obrigado por mais essa, Guilherme (:
Guilherme, parabéns. Você foi o único intérprete que me fez compreender o filme. Percebi que minha incompreensão estava, paradoxalmente ao que você afirmou, exatamente em minhas categorias teológicas. Elas me impediram de atingir o nível simbólico. Sou muito grato a você. No entanto, seria possível ter o mesmo proveito do filme fora da tecnologia da tela de cinema?
Penso que sua reflexão é perfeita. Não que outras não sejam, pois acho que a do Zeca Camargo também o é. Afinal, muito disso tem a arte. Mas, como também o faço diante de tantas outras obras, me pergunto o que diria o autor se perguntássemos o que ele quis dizer?
Às vezes penso que a possibilidade de receber uma resposta longe do que esperamos é muito grande.
Olá João,
sem dúvida essa possibilidade é real. Daí eu dizer que minha interpretação é a minha hipótese sobre o filme. Naturalmente alguns aspectos da minha hipótese são mais certos do que outros. A distinção entre Natureza e Graça, por exemplo, é evidente já que o diretor a introduz de forma explícita no princípio do filme. Outras, como os elementos metafóricos, podem ser mais ou menos ambíguas. Mas na pior das hipóteses, se eu estiver errado, talvez eu ainda ajude fazendo as pessoas continuarem pensando no filme!
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Obrigado por compartilhar seu olhar, Guilherme, e nos ajudar a contemplar esse marco da história do cinema! Deus esteja!
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Gui, seu comentário é tão rico quanto o filme e a descrição do tempo ou dos vários ‘tempos’ é formidável. Parabéns por traduzir belíssimamente a obra à comunidade cristã brasileira, uma vez que sei de cristão que disse não ter entendido o filme. No mínimo estranho, não acha?
Gui, valeu por compartilhar suas impressões! Confesso que ainda preciso exercitar muito o poder de abstração… Abraço
Oi Guilherme, gostei do seu texto. Ele é coerente e elucidativo, realmente ajudou a ver o filme com mais clareza, me lembrou um raio-x.. mas confesso que ao mesmo tempo eu não gostei. Vou me explicar, acho que um pouco da beleza do filme esteja justamente no sentimento. É estranho, mas quando lembro do filme, não vem ideias a minha cabeça, vem um sentimento. Um sentimento de unicidade, de presença poética, sentimento de inteireza. Ai quando você escreve esse texto destrinchando a beleza em tópicos, sinto que quebra um pouco a graça que estava ali.. a gente sentia e não conseguia por palavras, era tão bom!.. Até que você pôs palavras por nós.. é bom também, só que rouba minha inocência. E agora? Agora sou obrigada a ver de novo..
Oi Liz!
Bem, isso é o que toda análise provoca na mente mesmo. Há uns anos atrás eu assisti a uma defesa de dissertação na área de biomecânica, com um físico mostrando seus estudos comparativos sobre a a física da caminhada dos bípedes. É algo engraçado; vc vê um balé com aqueles movimentos graciosos, e não pensa que isso seja analisável; mas então vem o físico e descreve tudo aquilo em temos matemáticos e físicos! No momento da análise, isso dissolve a experiência, como se estivéssemos contemplando um esqueleto.
Acho que por isso é importante separar a atitude teórica e a atitude pré-teórica, comum. Não podemos misturar as duas. Meu texto é um experimento analítico, e por isso necessariamente quebra a unidade e a beleza da experiência concreta. É como uma dissecação: o bicho está morto no momento em que ela começa. Mas diferentemente do bicho, a obra de arte não precisa permanecer morta. Mas se vamos conseguir olhá-la novamente em sua vitalidade precisamos aprender a fazer o movimento de ida e volta, da experiência para a análise e dela de volta à experiência.
Claro, alguem poderia alegar que isso necessariamente destrói a experiência. Mas nesse caso, isso equivaleria à negação de qualquer análise da estrutura de uma obra de arte, seja filme, literatura, música, poesia… Teríamos que acabar com os cursos de letras e de musicologia! 😀 Isso não me parece interessante. A não ser, é claro, que o seu sentimento seja causado, na verdade, pela sensação de que o espírito da obra foi mal interpretado, que na verdade ela não significa o que a análise sugere. Nesse caso, pode ser saudável suspeitar… Simplesmente suspeite de mim. 😀
Enfim, acho que vc deve ter percebido um de meus argumentos: que a estrutura do filme era na verdade poética mesmo. Que é por isso que ele é não-linear. Quando assisti isso, eu simplesmente senti, não fiz análises para descobrir. Foi quando vi que um monte de gente cuspiu no filme e disse que ele não tinha sentido é que me senti obrigado a mostrar em palavras sua estrutura. Mas é claro que isso tem que ser experimentado. Por isso eu disse: o filme tem que ser visto com a alma, não só com os olhos. Não vejo porque vc precisará deixar sua alma de lado quando vê-lo de novo!
Guilherme,
Obrigada pela resposta, acho que estamos em acordo..Eu sei que se esse meu “desgosto” fosse levado ao extremo isso equivaleria à negação de qualquer análise da estrutura de uma obra de arte.. Não é aí que eu quero chegar!
Apenas, no caso de obras subjetivas como essa, eu fico matutando até onde é honesto com a obra, dissecá-la. Porque, de fato, ela ainda vive, e a experiência dela é importante. No fundo temo de que, zelando por entender e explicar as coisas, o essencial (que está justamente na experiência) seja deixado de lado. A intenção do autor está ali.. como um truque de mágica, o sentimento de mistério é importante, explicar a lógica por traz tira o mágico ao mesmo tempo que dá “sentido”/explicação.. Por isso gostei da sua sugestão de manter um movimento “de ida e volta, da experiência para a análise e dela de volta à experiência”. Acho que é por aí tem temos de caminhar.
Agora, como resposta ao “monte de gente cuspiu no filme e disse que ele não tinha sentido” eu não tenho contra-argumento, responde muito bem. E, se posso, quero incentivá-lo a fazer esse tipo de texto mais vezes… Prometo que eu só vou ler depois de ver com a alma.. Abraço viçosense.
Eu tenho que concordar com o que ambos estão dizendo! Eu vi o filme somente porque li parte deste artigo. Gostei muito tudo o que estava sendo falado do filme (tanto neste artigo como no do Zeca) e por isso fui vê-lo.
Percebo que meu conhecimento prévio sobre a maioria das coisas que viriam tirou um pouco da experiência. Mas é verdade também que a experiência continuou viva, os sentimentos que eu ainda sentia.
Caro Guilherme, tomei a liberdade de postar o seu artigo no meu blog:
http://edsongil.wordpress.com/2012/04/03/como-assistir-a-arvore-da-vida-de-terrence-malick/
Curiosamente, apareceram vídeos (de música) no meu blog que não estavam no seu…
Gostaria que você fizesse uma comparação entre a Árvore da vida e Melancolia, outro filme que me impressionou muito.
Grato,
edg
Absoluto…. Vc é um animal!!! Meu guru… Abs!!!!
A primeira vez que assistir esse filme eu sair impactado ele me falou bastante, mas não conseguir abstrair tudo, a minha primeira reação foi pesquisar na internet artigos sobre o filme, mesmo assim faltou riqueza em análises no texto. Resolvemos fazer um cine debate do filme no grupo da ABU e foi bem legal o debate. Parabéns pelo texto bastante rico.
Maravilhosa análise! Parabéns! Excelente!
Escrevi um texto, inspirado no filme…
As bem-aventuranças da desilusão
Bem-aventurados os que se desiludiram a tempo, pois a ilusão tem prazo de validade.
Bem-aventurados os que perseveram na desilusão, pois são firmes e constantes. Sabem que o que se faz para quem se vive não é em vão.
Bem-aventurados os que são disciplinados pela Verdade, pois foram libertos do engano.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça da Verdade, pois foram libertos do cativeiro da justiça própria: o auto-engano.
Bem-aventurados os que não flertam com a sabedoria da terra, pois há quem troque as palavras de vida eterna por conversa pra boi dormir.
Bem-aventurados os que encontram na Graça enigmática poder que se aperfeiçoa em suas fraquezas, pois descobrem que a Graça é melhor que a vida.
Bem-aventurados os des-iludidos, pois estou convencido de que a Graça é escândalo e a Cruz é loucura.
28 de março de 2012, dias antes da Páscoa, em São Gonçalo, debaixo das águas de março…
Alexandre de Sá.
[…] significados: a árvore (vida eterna); as danças/brincadeiras (a pericorese trinitária[6], amor, alegria); a violência epossessividade do pai; a mediação da graça (por exemplo, quando […]
muito interessante! acho que por isso o grande público não gostou do filme, uma vez que ele demanda uma compreensão de aspectos teológicos e filosóficos. A arte “do não entretenimento” não é o arroz com feijão do grande público.
Olá, guilherme, li rapidamente seu artigo e fiquei pensando se assistimos ao mesmo filme, pois ao vê-lo fiquei com a impressão de que o diretor confundiu ou propositadamente brincou com os níveis da compreensão humana.
Possivelmente muitas verdades estejam presentes no filme (como sou pobre, paro no primeiro nível da semiótica… rsrssr), mas o que vi no filme foi um Deus caótico, que gerou filhos confusos (à sua imagem e semelhança) e que deram seqüência à essa desordem. No meio disso tudo, Esse Deus mostra-se bom e permite que o tal reencontro da reconciliação ou graça aconteça num paraíso etéreo e estéril. Claro, nesse paraíso o perdão é abundante, tem velhos, mas não tem pretos.
Não discuto que as informações captadas por você não estejam no filme, mas não são fáceis de serem apreendidas por mortais como eu. E, nesse sentido, senti-me como numa igreja em que existem mais doutores que pastores, quando pregam mais para a Academia e esquecem que na platéia há ovelhas ávidas por saber a vontade do Senhor.
Por isso, quanto à sua pergunta sobre se Cannes foi à igreja ou se a igreja foi à Cannes, se o desejo do diretor foi de fazer uma revelação séria sobre a natureza divina e sua maravilhosa graça, pra mim, ele fez um tremendo desserviço, visto que mais confundiu que esclareceu.
No universo de Terrence as coisas surgiram por um big bang (os astros ficam em latente expansão). Depois, não percebi uma ação pessoal no ato de criação dos répteis e mamíferos, pois tudo simplesmente surge… mas quando ele vai tratar do nascimento de uma criança precede com um coração pulsando, um peixe esquisito e, pimpa, lá vem o rebento. Ao meu ver, isso traduziu mais um processo evolutivo que criativo.
Depois, ao espectador comum como eu, a figura paterna representada pelo Brad Pitt remeteu automaticamente a um pai-Deus autoritário e frustrado por não ter sido o que gostaria de ser. Frustrado porque seus inventos não dão certo (estranha metáfora, não?), massacra os filhos e quando larga estes para fazer uma viagem os deixa à mercê de sua face animalesca. Não vou nem entrar nas razões que propiciaram o filho mais velho a se transformar num tipo de Caim.
Enfim, repito, é possível que todas as boas coisas estejam nesse filme, mas, se existirem, apenas o catedráticos poderão percebe-las. Não creio que a arte se preste a ser popularesca, mas quando uma obra nada comunica nada é estabelecido além de uma conversa entre o cérebro e o umbigo do autor. Espero que vc não se ofenda, mas nessas situações quase sempre quem vence é o intestino.
No caso do filme, depois vou vê-lo novamente, não fiquei com a sensação de que era um crente filósofo querendo mostrar Deus por meio da filosofia, como bem fez o Shaeffer e tantos outros. Antes, agora sabendo pelo artigo que ele foi estudioso de Heidegger, Kierkegaard e Wittgenstein, fiquei com mais impressão de que sabia bem o que queria mostrar: “Venham ver Deus e como Ele é caótico e impõe sua graça goela abaixo. Mas não esperem muito, pois no final vai dar em nada do que vc pensava encontrar” … tal qual cantou Gilberto Gil.
E olhe que nem analisei que inexiste em toda graça discutida nesse filme a figura de Jesus ou qualquer ser que sacrifique incondicionalmente a vida em favor do outro. Pelo contrário, o Pai autoritário chega por filho animalzinho e diz “perdão, fui muito duro porque queria acertar”.
Vamos seguindo…
Caro João,
realmente temos visões completamente opostas do filme… o Pai, por exemplo, não representa um “pai divino autoritário”, mas a Natureza – isso é claro como o dia. E a existência de um processo evolucionário não implica a ausência de ação criativa por Deus (vide os trabalhos de Alister McGrath sobre o tema). E o reconhecimento de fatos aparentemente irracionais na criação não indica um Deus caótico, de forma alguma! O livro de Jó mostra claramente que Deus faz coisas incompreensíveis para o homem, e Malick não focalizou o livro de Jó por acaso. Enfim, trata-se de uma obra poética e indireta, na qual referências explicitas ao evangelho cristão caberiam de forma alguma. O filme teria se tornado algo absolutamente kitsch e desproporcional.
Mas a despeito da divergência, a única coisa que “desaprovo” em seu comentário é a sua ironia sobre o filme não ser acessível a “pobres mortais como eu”. O filme é acessível sim, como outras peças de high art no teatro, na literatura, na música, na pintura, etc. Basta aprender a interpretar e interagir com cada tipo de arte. Não devemos nos irritar nem desanimar tão rapidamente, apenas porque a coisa não fez sentido de cara, como se a culpa fosse necessariamente do artista e não nossa – especialmente quando a obra é valorizada por tanta gente. Creio que o melhor caminho é investir em uma relação mais madura com a arte e desintoxicar-se da cultura do entretenimento.
Guilherme, seu texto é brilhante e profundo. Obrigado.
Na minha opinião “A Árvore da Vida” é uma bela representação para a tese de António Damásio quando afirma que Descartes estava errado. Os que assistem ao filme buscando racionalizar sua narrativa são esbofeteados por uma linguagem própria da alma.
Malick nos presenteou com uma obra sincrética que, em vários momentos, materializa a GRAÇA por meio da FOTOGRAFIA.
obrigado pelo excelente comentário. Me ajudou a entender e apreciar o filme.
Olá Guilherme.
Acabei de assistir o filme em minha casa e, como sempre faço assim que acabo de ver um filme que me intriga, vim buscar críticas sobre ele. Naturalmente caí em vários sites com “críticas” horrendas, apenas comentários gratuitos de quem não gostou ou não entendeu o filme, e que não acrescentam em nada à sua compreensão… Felizmente através do google caí no seu site e na sua crítica.
Eu não sou cristã e nem religiosa, mas me interesso muito por religião e teologia, e fiquei feliz em cair num site que a discute, pois também achei o filme uma lição de teologia! Achei incrível como o diretor consegue tocar o mais íntimo do ser, mesmo daqueles que não escolheram o caminho da Graça dita por ele, como eu. Me emocionei muito com a devoção e a fé da mãe, por exemplo, e com os dilemas do filho. E a sua crítica me ajudou muito, pois me fez ver várias outros aspectos que eu ainda não havia notado. Confesso que o que mais me incomodou no filme foi a questão da redenção, representada pela cena final. Eu tendo a não gostar desse tipo de desfecho. Mas, a partir de vários pontos em que vc tocou aqui, vejo que sim, esse final faz todo o “sentido” na obra do diretor. Do ponto de vista visual, eu achei o filme um deslumbre, poderia ficar horas só vendo aquelas imagens (talvez o fato de eu estudar artes plásticas ajude….rs). Fico muito chateada com o fato de diversas pessoas terem levantado e saído do filme nesse ponto…. Isso só mostra como a essência do filme não alcançou a sensibilidade dessas pessoas, e como, talvez, grande parte da sociedade não esteja ainda preparada para desligar-se por alguns minutos da vida cotidiana, linear, corrida, mastigada, para dar-se a oportunidade de simplesmente VER, apreciar, pensar, sentir e se emocionar com o simples fato de estar vivo, e como é incomodo pensar no imponderável que é a existencia humana. Eu, com certeza, posso dizer que tive essa experiência assistindo a esse filme, e que ele ficará na minha cabeça por um bom tempo, até o momento de assistí-lo novamente. Obrigada por compartilhar e espero que aceite minha opinião, mesmo não sendo da mesma religião do que a sua.
Ah, e MUITO obrigada por compartilhar também os links de algumas músicas. A trilha sonora eu achei sublime, casando com as imagens de maneira perfeita.
Oi Ana,
que jóia o artigo ter sido últil para você. E claro, fiquei feliz com sua percepção da natureza da obra. Infelizmente, devido ao preconceito secularista contemporâneo, muita gente não consegue se abrir para uma obra de arte que tenha implicações religiosas. Acho que isso é possível, independentemente da sua posição sobre a fé do autor. Realmente o filme é arte para todos, e você sacou isso!
um, abração!
Guilherme
Olá, Guilherme, primeiramente desculpe-me a ironia, mas estava referindo-me principalmente à minha limitação de compreender algumas coisas. Pois bem, “coloquei os óculos da sua interpretação” e dessa vez vi algumas coisas bem interessantes, assim como também vi outras que corroboraram com a visão que já tinha pela primeira leitura do filme. Enfim, acho que o filme tem aspectos interessantes e outros bem preocupante sob a ótica cristão, mas não convém ficar explicando essas coisas aqui, pois certamente não estou em qualquer tipo de disputa com você. E pra mim, o que fica de tudo o que compartilhamos? Fica a alegria de ver um irmão que consegue com profundidade fazer análises de uma área tão complexa quanto é a sétima arte. Deus o abençoe e obrigado por tudo. Com Carinho. João Inácio
Guilherme,
gostei muito da sua leitura do filme! Não conhecia o seu blog e estou muito contente de ver gente como vc., preocupado em ressaltar a verdade que provém de nenhum outro lugar a não ser de Deus 🙂
Estou escrevendo recentemente em um blog e fiz algo parecido com o que vc. fez – mas fui muito menos profundo, é claro, analisando o filme Piratas do Caribe – Navegando em Águas Misteriosas. Se tiver um tempinho passa lá pra dar uma olhada 😉
http://ninhodandorinha.blogspot.com.br/
Um abraço!
Quando assisti esse filme com minha esposa, ela comentou que esse filme era na verdade uma constelação familiar do personagem principal e seu grupo familiar (implica também em nossos ancestrais), achei interessante, e estou compartilhando…
Olá Guilherme!
Sou estudante de Psicologia, cristã praticante, curiosa, cinéfila e fã do Brad Pitt.
Baixei esse filme sem ler as críticas anteriores, pois penso que a minha subjetividade tem que estar à frente para compreender a mensagem do filme para depois haver críticas.
Eu chorei em alguns momentos do filme, eu me vi no Jack várias vezes, eu tive reações diversas.
No início do filme fiquei intrigada com as imagens, no decorrer do filme eu pude compreendê-las. Não me lembro de ter assistido um filme parecido.
Corri para o google para buscar algo rico, eu queria comparar a minha visão com a de um crítico, ir além de meus conceitos, a primeira frase que li foi: Como assistir A árvore da vida. Eu pensei, é isso que quero saber!
É um filme profundo, que nos faz ir além…
Fui dormir pensando em tantas coisas, eu gosto daquilo que “provoca”, que desfaz limites, que “incomoda”.
Você construiu algo completo, passando pelo filme por inteiro, e foi muito intenso. É um filme “complexo”, não em relação às dificuldades, mas pela profundidade, pela intencionalidade.
A vida é um fenômeno para uns, uma metáfora para outros e uma lição para todos.
Parabéns, abraços!
Guilherme, bom dia.
Tb sou cristão, estudo engenharia, e sou muito curioso pela arte da psicologia e filosofia.
Conheci seu site através do blog:
http://dlgrubba.blogspot.com.br/
Parabéns pela explanação sobre a “Arvore da Vida”, acho que conseguiu agradar mais do que pelo próprio filme, por isso vou te seguir daqui em diante.
Gostaria de uma dica para assistir ao filme, já que estou ciente de muitas criticas negativas.
Abçs,
SDG
Oi Breno,
acho que pode ser legal vc assistir a outros trabalhos do Malick. Mas não entendi sobre a “dica”…
Risos…
Talvez tenha me expressado errado.
Bem, acho que já respondeu, mas acredito que nenhum filme de de Malick chegue perto obra que foi a “Arvore da Vida”.
Obrigado pela “dica” rs… até.
Otima analise, mas nao concordo que o filme tenha insinuado que a retomada da visao poetica passe necessariamente pela religiosidade. Entendo que o filme expoe o conflito e ao mesmo tempo complementa a interacao humana com a natureza que a cerca. Pode-se, a partir dai, tomar uma visao religiosa ou nao.
Acho que se um filme precisa de tantas explicações, incomoda, e muito. Brad está feio, o filme é chato, eu não gostei e… não tenho medo de afirmar isso. Pensem o que quiserem, mas é isso aí… chato, chatíssimo.
Oi Maria,
olha, como eu disse, ninguém é obrigado a gostar. Mas a diferença está em seu histórico de cultivo da percepção artística. Se você já treinou sua sensibilidade estética e não gostou do filme, seu julgamento pode ter grande valor; pode até valer a pena escrever a respeito. Se você nunca fez isso, seu julgamento terá, naturalmente, pouco alcance.
Oi…
Seu modo de se expressar me encanta e fica então um prazer ler o que você escreve.
Creio que eu me senti incomodada com o filme por ter perdido, assim como o casal, um filho querido e junto com isso, a minha fé. Creio que busco nos filmes agora, apesar da minha sensibilidade estética, o entretenimento.
Percebo que meu comentário foi feito de uma forma infantil e egoísta.
Até outro dia, foi bom conhecê-lo.
MC
Oi Maria!
tudo bem. Parafraseando Agostinho, o mesmo cheiro de café que nos puxa da cama pode dar enjôo não estamos muito bem… Pense que talvez você volte a gostar do café; não jogue fora os pacotes da sua dispensa.
O que achei interessante é que realmente consegui perceber isso… tudo isso que você disse. Há, porém, certas metáforas que continuam “incertas” e dificíl de dizer se é realmente isso.
Mas enfim o que mais me interessou no filme foi esse diálogo entre a graça e natureza… e como tenho vivido, realmente tem me ajudado até mesmo a ler a Bíblia sob outro olhar; não o olhar da natureza, mas sim o da graça. Parecem serem olhares que mudam completamente o mundo ( a forma como o percebemos) e acaba por mudar as nossas ações.
Muito obrigado, mais por me convidar a ver o filme do que explicá-lo (já que fui explicado sobre o filme antes de o vê-lo)
Certo James…
de fato, acho que vou ter que me desculpar com todos os que leram o texto antes de ver o filme!
nice review…
Como assistir “A Árvore da Vida” de Terrence Malick…
Jovem, que tocante tudo que escreveu. Acho que nem eu conseguiria definir para mim mesma como você fez nesta frase:
“Mas realmente penso que o centro do filme é a escolha da mãe pela Graça, mesmo diante da confusão do sofrimento, e o impacto revelador que isso tem sobre o sentido do mundo, como evidência divina, como sinal e caminho da Vida Eterna. Isso é a Árvore da Vida.”
Realmente achei o filme uma obra-prima. Discordo de quem diz que os que não gostaram do filme não tiveram paciência ou conhecimento de filosofia, teologia, psicologia, …. Acho que apenas AINDA não houve identificação. Mas fico com suas palavras aí de cima para qualquer comentário sobre o filme.
Obrigada!
Guilherme, demais isso.
Eu adorei esse filme quando o vi. Fui cativado logo no início, com o questionamento “Onde estavas tu quando, quando eu fundava a terra?”.
Fiquei sem fôlego enquanto assistia, refletindo sobre a minha relação com o caminho da natureza e o caminho da graça, embora esses fossem conceitos novos para mim, que pensei serem originais do roteiro.
Obrigado por compartilhar sua visão. Eu interpretei a maior parte do que você apontou da mesma forma. Mas não apresentaria tudo com tanta inteligência, de forma que foi sensacional ler o que você escreveu. Ainda mais considerando todo o conhecimento que você tem sobre os pensamentos filosóficos e teológicos que fundamentam o filme e eu nem sabia.
Muito obrigado! Deus te abençoe! Um abraço!
Guilherme,
nasci e cresci em um ambiente cristão e tenho embasamento teológico considerável e algum conhecimento de filosofia.
Apesar de minhas convicções terem mudado ao longo da vida, não tenho nenhum motivo pessoal para tomar partido do Deísmo, Teísmo, agnosticismo ou ateísmo (de I a V), sendo esse último a verdade na qual acredito.
Porém, acho que deve ser considerada fortemente a possibilidade de Terrence Malik compartilhar da mesma crença que eu.
Sinceramente, você em nenhum momento considerou isso?
Um abraço.
Caro Gilson,
bem, é possível que Malick seja um artista mais enigmático até do que parece, e que tenha pregado uma peça em todos nós! Eu não seria dogmático a ponto de afirmar que isso é impossível. Mas sinceramente, acho quase impossível… Depois de ver o filme várias vezes, e conhecendo algo do background do diretor inclusive, sinto-me relativamente seguro da minha interpretação. A força do filme é a teodiceia que ele apresenta, e se não fosse uma teodicéia seria uma ironia. Mas faltam sinais para a leitura irônica, que fica então gratuita, infalsificável. Mas o mundo é mais estranho do que parece; estou aberto a encontrar uma interpretação que conecte o simbolismo e os teosofemas do filme e que não seja teísta. Eu apenas não encontrei nada convincente ainda.
abraço também!
Guilherme,
Obrigado pela postagem!
Achei o seu texto muito preciso e pontual sobre todos os aspectos do filme.
Quando assisti ao filme, me senti ouvindo uma composição de BACH, e tive uma experiência muito parecida com aqueles momentos maravilhosos que temos com Deus no íntimo de nosso quarto.
Não consegui me desvencilhar do filme e me deixei ser completamente tomado pela emoção que ele me trouxe.
Além da referência de Jó, há muitos versículos “paulinos” nos diálogos.
Claramente a película teve por objetivo expressar um sentimento ou uma convicção do Terrence Malick, que, para mim é um cineasta-filósofo-teólogo de cunho existencialista, como já havia demonstrada em seus outros “quadros” como “Além da Linha Vermelha”.
Gostei das suas referências a livros, filósofos e teólogos durante a postagem, que para mim, vai ser uma fonte de referência.
Depois de assistir a esse filme só podemos dizer: soli deo gloria!
Caro Guilherme,
agradeço por compartilhar seu olhar (maravilhoso) do filme. Fiz questão de assistir primeiro, por isso só hoje li o texto. Eu gostei muito do filme, e para quem é familiarizado com o universo teológico-cristão é impossível não estabelecer certas conexões.
Mas, como toda obra de arte – obra prima -, há múltiplos olhares, e muito por falar ainda sobre este. Notei por exemplo, que vc não falou sobre as imagens de água-mar-oceano (como na cena do quarto de Jack submerso, entre outras), claro simbolismo do mergulho nas profundezas da alma humana, assim como, no final do filme, a fantástica cena da máscara afundando nas águas. Mas, haja texto, né rsrs.
Parabéns pela análise, e mais uma vez, obrigado por dedicar tempo a compartilhá-la conosco.
PS: muito boa suas observações sobre a trilha sonora, e grande perspicácia em notar a ausência dos avós de Jack na “praia final”.
não gostei!
se um filme precisa de tanta explicação, não é bom, ao menos para mim.
e não gosto só de homem-aranha.
Faz tempo que foi postado, mas tenho que deixar registrado aqui… MAGNÍFICA a sua análise.
Foi o melhor filme que vi esse ano e nunca tinha lido um texto tão completo, bem embasado e com uma pitada da sua intuição, o que deixou tudo melhor ainda.
Não te conhecia antes, o que é uma pena.
Meus sinceros parabéns!
Brilhante sua dissecação da “Árvore da Vida”.
Concordo com tudo o o que você escreveu. Eu vi esse filme no cinema, sozinho, e ele me tocou de uma maneira incomum. Eu chorei, fiquei hipnotizado, sorri… Saí da sala de cinema refletindo e querendo conversar com alguém sobre o filme, mas como fui sozinho e vi muita gente saindo reclamando do mesmo, acabei “conversando” comigo mesmo.
Enfim, o que eu compreendi do filme também foi que a comparação da história do universo com a da família, mostra a grandeza de tudo o que foi feito, mudado, evoluído no universo e na Terra para chegarmos até esse ponto.
Em contrapartida, os fatos envolvendo a família, embora comoventes e que comumente se passam com todos, são pequenos e até irrelevantes diante desse projeto colossal e infinito que é o universo. Pode ser esse também o propósito da Graça.
É isso! Parabéns pelo texto e compartilho também da sua opinião de que esse é um dos melhores filmes já feito.
Antes de tudo, obrigada pelo seu texto. Ele foi ótimo para confirmar o que eu tinha pensado do filme (de forma bem menos profunda)! Mas eu ainda estou um pouco apegada com a relação de personagens…
Acabei de assistir pela primeira vez e ainda preciso de mais um tempo para assistir novamente, então fico com uma coisa martelando na cabeça: quem é o menino com uma falha imensa na cabeça? É o que morreu? O que morreu é o do meio ou o caçula?
Ao fazer essas perguntas me sinto numa vibe totalmente mundana, mas tenho que fazê-las!
Outra, no Filmow eles colocam o nome de um ator que faria o filho do Jack. Jura??? Aparece isso? Acho que meu olhar foi mais superficial do que pensei… rs
Mais uma vez obrigada!
Havia gostado desse filme desde o ínicio. Porquê? Porque me fez sentir. Não sei se sou cinéfalo, apenas sensível ou comum mas gostei do filme por sua essência intrínseca (pleonasmo?). Adorei ver sua análise téorica e principalmente o modo como viu as metáforas. Jogou mais uma beleza sobre o que já me era belo. Obrigado!
Prezado Guilherme, parabéns pela profundidade da abordagem.
A escolha entre a Graça e a Natureza, no entanto, pode ser também a indicação de que vivemos alimentados por essa ilusão: a de que podemos escolher entre uma dessas duas (a trajetória da ‘Graça’, -Cultura? -, ou a da Natureza). No final, percebemos que ambas as trajetórias e heranças são indissociàveis e resultam no humano, que, como já disse alguém, é 100% natureza, 100% ‘cultura’ (ou ‘Graça’…) e 100%… (o que mais?). Estranha matemática essa, que a complexidade humana comporta! O filme é belo e também lida muito bem com essa conta que aparentemente ‘não’ fecha, mas cujos resultados são extremamente reais.
Com a dor natural que a vida em sua amplitude e complexidade carrega, fica-nos a dúvida (seja ela profunda ou não) se há essencialmente uma razão para tudo o que vivemos e sentimos, se há em verdade um distanciamento do homem contemporâneo quanto suas raízes de comunhão externa, se há uma intenção bela por trás das coisas ou se tudo por fim é resultado de um vazio ensurdecedor que nos empurra quando em vez a necessitar de milagres como esse filme para nos refugiar do desespero transcendente da existência.
Assisti o filme essa semana, pois não me sentia preparado das outras vezes. Ligava e desligava o dvd sempre depois da reflexão sobre as escolhas da vida. Condesso que me emocionei em duas partes do filme de maneira como nunca antes. E seu post acima foi muito bem absorvido por mim, elucidativo… precisamos estar diante de opostos (o que nos é raro e proibido muitas vezes) para abalar nossa metafísica e provocar a catarse que com o passar do tempo parece cada vez mais inacessível.
Obrigado.
Guilherme, parabéns pelas palavras muito bem colocadas.
Não me atrevo a expor minha opinião, mas gostaria muito de acrescentar que esse filme, assim como uma obra de arte ou uma sinfonia, me fez acima de tudo, sentir. Não me preocupei com razões ou definições.
O seu artigo foi ótimo para pensar e interpretar mais essa obra prima.
Abraço.
Em vários aspectos da crítica, concordei porque havia chegado às mesmas conclusões, sobretudo no que diz respeito à teologia. Mas não achei o filme tão maravilhoso, não é nem de longe um dos meus “filmes inesquecíveis”. Só filosofia não resulta em grande cinema. E não, não gosto de “Homem-Aranha”, gosto mais de Tarkovsky mesmo. Um dia ainda quero compreender essa estranha mania humana de classificar quem não aprecia os mesmos filmes, livros, etc., como gente de “sensibilidade inferior”. É realmente curiosa tamanha pretensão. Não fosse essa derrapada, seria uma análise crítica até perfeita. Uma pena.
Ctítica perfeita no desenvolvimento da sua lógica interna, vale dizer. Eu particularmente concordo mais, na substância da crítica (a “falsa profundidade” de Malick, que já havia me chamado a atenção em “Além da Linha Vermelha”), com este texto: http://desconcertos.wordpress.com/2011/09/23/%E2%80%98arvore-da-vida%E2%80%99-fala-sobre-tudo-ou-sobre-nada-ou-talvez-pelo-contrario/
Guilherme, tenho o DVD deste maravilhoso filme! Gostaria de lhe dizer que esta, sem dúvidas, foi a melhor crítica já lida por mim a respeito deste filme. Através de sua explicação muitas lacunas foram fechadas e a obra de MALICK ficou muito mais evidente para mim. Obrigado por compartilhar sua visão e seu conhecimento conosco e, em particular, por me fazer compreender melhor o tão desejado “estado de graça”! Forte abraço e vida longa!
Caro Luis,
jóia que minha crítica ajudou um pouco. Não deixe de assistir ao novo filme do Malick (To the Wonder)! Vai enriquecer muito sua visão do cineasta. Abraços!
Guilherme, se não for nenhum abuso, poderia te pedir para comentar um pouco mais sobre a cena do dinossauro. Mesmo com suas pinceladas, não consegui captar a ideia que o autor tentou passar nela.
Meus parabéns pelo texto. Após assistir ao filme, li inúmeras resenhas, tanto brasileiras quanto americanas e posso te garantir, nenhuma conseguiu expor as coisas na mesma dimensão que você.
Espero que um dia arrume tempo para fazer o mesmo tipo de trabalho com outros filmes do Malick, como Amor Pleno e Além da Linha Vermelha.
Grande abraço.
Que texto incrível, me esclareceu algumas dúvidas, muito muito incrível, parabéns e obrigada!
Olá Guilherme, desde que assisti o filme fiquei extremamente intrigado, e apesar de buscar mais informações e analises sempre sentia que algo estava faltando, mesmo nas análises em inglês (que normalmente são mais completas devido a escassez de material em português) não fiquei satisfeito. Ainda intrigado assisti mais vezes, e depois esqueci… E agora por acaso trombei com a sua análise e tenho que aplaudir de pé. É a primeira análise em que eu sinto que o autor tem consciência da amplitude da obra do Malick, e não somente isso, você foi capaz de desconstruir essa obra prima. Meus Parabéns, foi genial !!! Depois que vi a Arvore da Vida, vi todos os filmes do Malick, e ele está claramente fazendo algo importantíssimo, parecem que todos os filmes dele são parte de um “sermão”. Você tem algo sobre o filme mais recente To The Wonder?
Muito Obrigado pelo privilégio de ler essa análise.
Oi Diego, obrigado pelos parabéns. Ainda não tenho nada sobre o “To the Wonder”, mas está nos planos. Abraço!
Eu estava um bom tempo para ver esse filme e finalmente o vi hoje. Eu sabia que ia ser um ótimo filme em se tratando de fotografia, que é algo que mais me chama atenção em um filme depois da narrativa, mas não imaginava que seria um filme tão intenso. Apesar de ter achado um filme bem bonito e cheio de metáforas e lindas imagens eu sabia que não compreenderia tudo por conta do meu pouco conhecimento religioso, eu só consegui fazer algumas comparações com a teoria espírita que é a que eu conheço, embora não tanto, mas o pouco que eu li de Ubaldi em seu no livro da síntese do universo. Então eu vim buscar uma crítica que me ajudasse a compreender mais esse filme belíssimo.
Você tem um vasto conhecimento religioso que foi o que fez a diferença para essa crítica, mas também tem um vasto conhecimento de cinema e uma sensibilidade também, o que tornou sua crítica melhor ainda. Senti que possui a compreensão que me faltou ao ver o filme.
Interessante a analise, mas se realmente a intenção do Malick é nos passar uma experiência religiosa, uma missa, acho que ele se equivocou ao tentar misturar coisas muito diferentes, pois ai cairíamos em todas aquelas questões básicas e primordiais sobre religião, o que é deus, de que deus estamos falando… todo povo tem um mito da criação e assim por diante.
Quer dizer que pra um hindu ou um cristão, aquela luz é uma divindade, qual? Ah, fica a vontade do freguês?
Quer dizer então que agora o universo foi criado por Deus usando o Big Bang? Que coisa interessante…. mas afinal qual deus criou o universo, temos tantos nesse planeta.
Ao assistir o filme até fiquei intrigado com essa luz e supostas questões religiosas, mas deixei de lado essas supostas intenções do diretor, pois preferi me concentrar na experiência de origem do universo e os questionamentos que estão presentes ali quanto à posição da humanidade em relação ao universo. Acho que isso não foi chute do Malick não é?
É intrigante ver o quanto o sofrimento humano é insignificante em comparação com a vastidão do tempo e espaço (o que importa a dor daquela mãe para o universo?) e essa é pra mim a principal mensagem desse filme, o quanto somos insignificantes e especiais ao mesmo tempo. É tudo uma questão de projeção. E tudo uma questão de entendermos nossa posição no universo e pelo jeito ela não é especial.
Se realmente o Malick quis misturar evidências cientificas com textos religiosos, ele caiu muito no meu conceito (o que não muda o universo claro), pois esse pensamento é tão absurdo nos dias de hoje, que é impossível alguém querer misturar um criador e logo depois mostrar a sopa primordial, os dinossauros…algo totalmente contraditório, principalmente com a visão cristã de origem da vida.
O diretor coloca sua câmera como um ser que observa o universo, e as vezes essa câmera da um zoom e volta e fica nesse vai e vem….mas ele só pode fazer isso por causa do conhecimento cientifico que temos sobre o universo, inclusive ao mostrar a Terra sendo torrada pela expansão do Sol.
Ao assistir A Arvore da Vida tive uma experiência que em 99% dos momentos das cenas do Big Bang a formação do sistema solar e possível origem da vida, esteve alinhado com as evidências e hipóteses cientificas e em vários momentos o filme conseguiu replicar o sentimento de assistir um 2001 Uma Odisseia no Espaço, que também consegue passar o mistério do universo sem apelar pra mensagens metafísicas.
Toda essa questão religiosa e sua simbologia presentes no filme se mostra exatamente como são as coisas, desejos humanos de que algo explique o porquê uma mãe tem que passar pela dor da perda de um filho e essa resposta pelo jeito nunca será respondida. Pelo menos como a maioria das pessoas desejam.
Eu acho que aquela frase do Sagan serve bem pra esse filme:
“O universo não foi feito à medida do ser humano, mas tampouco lhe é adverso: é-lhe indiferente”.
Esse texto é brilhante. Nunca li algo tão próximo das minhas reflexões a respeito do filme. Foi a primeira vez que vi minhas sensações verbalizadas, pois eu mesma nunca consegui colocar no papel o que eu senti e vivi nessa experiência que “Árvore da Vida” me proporcionou. Finalmente alguém foi além da fotografia e da trilha. Buscou um sentido para tudo, afinal.
O filme é uma releitura do mundo, da sua origem ao fim. Ciência e fé. Não excludentes e sim elementos que agem de forma coordenada.
E este texto supre uma gama de questionamentos que pairam a respeito deste trabalho. Parabéns!
Que maravilha de texto, muito obrigado por essas observações catárticas.
Li todo seu texto e assisti ao filme. Sabe o que acho, você é mais um desses pseudointelectuais que se dispõem a explicar aos outros “como assistir ao filme”, anulando a subjetividade do próprio telespectador que não gostou do filme. Cada um assiste ao filme do jeito que quiser, não acho que quem vê o homem aranha e a A árvore da vida de forma igual esteja errado. Mas, você é da categoria dos que buscam embasar a religião com filósofos e intelectuais porque tem inteligência suficiente para admitir que o cristianismo é só mais uma religião, não é verdade absoluta, Deus pode existir ou não e foda-se o resto!
Esse filme é impressionante e especial. Parabéns pela reflexão!
Caro Guilherme, somente hoje assisti ao filme. E como vários outros filmes, livros, músicas que foram fundamentais em minha vida, esse filme doou-se a mim no momento em que eu mais precisava.
E o seu artigo – como esse filme – é uma obra de arte, na medida em q arte nos diz o que não conseguimos traduzir mas q já habita em nós. Como canta o Milton :”Certas canções que ouço cabem tão dentro de mim, que perguntar carece: como não fui eu que fiz? Certa emoção me alcança
Corta-me a alma sem dor
Certas canções me chegam
Como se fosse o amor”.
Sou rala ao que diz respeito a teorias. Por isso seria incapaz de debater sobre o filme. No entanto, não concordo quanto à sua interpretação estar “entre certa e meio certa”. Essa é a Sua interpretação e isso é o que faz uma obra ser ” de arte” : as infinitas interpretações, intuições, sensações que ela pode evocar. O que o autor quis dizer? Isso não importa, importa é o que sua obra diz pra cada um de nós – por mais “errada” q seja nossa interpretação. Creio que o que conta para o artista é o q ela foi capaz de fazer por cada um de nós – para o bem ou para o “mal” (?). Além de que, após lançar a obra, ela deixa de pertencer ao autor.
XLVIII
Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade
E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.
Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.
Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?
Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.
Ide, ide, de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo.” ( Alberto Caeiro)
Obrigada, Guilherme. E não repare nesse texto confuso, despido de teoria, razão.
Pra terminar vou me citar – meu Deus que chique! Este poema está em meu livro q será lançado mês q vem e do qual gostaria (com audácia) de te enviar um exemplar :
ÉDEN
Quando brotam belezas
entre a matéria esgarçada da vida,
quase perdôo a existência.
[…] não entendeu.Encontrei algo maravilhoso, uma informação nova e muito bem fornecida através deste texto que tenta explicar como assistir o filme citado aqui.Descubro então, que cinema é uma arte de […]
[…] a teologia e, agora, por que não dizer as artes? Você pode ler seu artigo sobre o filme aqui). Já outros escreveram sobre como o filme mudou suas percepções sobre a fé (como foi o caso do […]
Simplesmente fantástico! Assisti ontem. Um poema, uma obra de arte, muitas vezes uma profunda oração.
Gui,
Achei seu artigo show de bola e extremamente detalhista, o que me obriga a assistir novamente ao filme. “Atrás da linha vermelha” é também um filme poético do Malik. Embora sobre a guerra, imagens, natureza exuberante, trilha sonora e a dramaticidade poética do olhar de Jim Caviezel na cena em que é morto (tanto que foi por esta cena que Mel Gibson o convidou para interpretar Jesus) indicam uma sensação de paz incomum para um filme sobre este tema. Abração!
Prezado Guilherme,
Que prazer ler uma crítica inteligente e sensível sobre “A árvore da vida”. Assistimos, eu e minha esposa, o filme desprovidos de informações sobre a obra. Ao final, tivemos que esperar o fim dos créditos para sairmos da sala. Eu sabia que havíamos passado por um estranho sentimento de arrebatamento, semelhante ao que senti quando assisti “O sacrifício”, de Tarkovski. Acho fundamental pensarmos a obra como uma rica imersão em uma experiência estética, no sentido filosófico na qual deve ser compreendida. Para tanto – concordo com você – o espectador deve se despir de suas verdades e certezas, o que inclui uma nova relação com o tempo cinematográfico. Ao final dessa “experiência”, fica a sensação de que passamos por algo genial. Não seria exagero dizer que “A árvore da vida” já figura como uma das obras-primas do século XXI.
estudar
Escrevi, escrevi, mas quero apenas registrar meu respeito a sua fiel narração, explicação do filme. Pela primeira vez acessei sua página, e confesso que não ficarei somente nesta página, navegarei mais.
Parabéns pelo nível crítico e fiel ao que assiste.
Nossas visões fecharam!!
Namastê!
Guilherme de Carvalho,
Somente hoje , conheci essa obra prima de filme. Estou impactada com tudo que assisti.
Ler sua belíssima reflexão sobre o filme , realmente fechou com chaves de outro.
Obrigada e parabéns
[…] dá bastante material pra refletir. Ao terminar de assistir, talvez seja bom dar uma olhada na análise do Guilherme de Carvalho, que me ajudou bastante. […]