travesseiro de pedra
Hoje pela manhã (terça-feira, 30 de março) dirigi uma hora devocional no 26º Som do Céu, em Belo Horizonte (MG). O encontro reúne músicos, artistas, poetas, pastores e jovens líderes de todo o Brasil. Sotaques nordestinos se misturam a sotaques cariocas, paulistas, goianos, mineiros, baianos, mato grossenses e catarinenses. O catarinense, nesse caso, sou eu.
Convidei os presentes à leitura de Gênesis 28.10-22, trecho que traz a história de Jacó fugindo da região deserta Berseba após enganar seu irmão Esaú e seu pai Isaque. Ameaçado de morte e temendo por sua vida, Jacó põe o pé na estrada. Mais adiante, cansado da viagem e vendo o dia anoitecer, escolhe um canto para passar a noite.
Não tendo outra alternativa, escolhe uma pedra do caminho e a usa como travesseiro. Reclinado sobre a pedra e olhando para o céu, Jacó vê as estrelas, a claridade da lua e a sombra das nuvens que passam ao redor. Absolutamente exausto da caminhada, adormece e sonha.
No seu sonho, vê anjos celestes que descem por uma escada até o chão e depois voltam a subir. De repente o Senhor coloca-se ao seu lado e fala com ele: “Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão e o Deus de Isaque. Darei a você e a seus descendentes a terra na qual você está deitado, seus descendentes serão numerosos como o pó da terra… você será uma bênção para todos os povos da Terra… estarei com você por onde quer que vá… eu o trarei de volta… cumprirei todas as minhas promessas…”
Jacó acorda de repente com uma fortíssima sensação da presença de Deus, uma misto de alegria, temor, emoção e desejo de adorar. Ele diz: “Sem dúvida o Senhor está neste lugar e eu não sabia!”. Então começa a adorar a Deus. E essa adoração vem reação, como resposta à manifestação e Palavra de Deus. A fim de adorar a Deus, é preciso que tomemos consciência de que Ele está presente em nossa vida.
Enquanto estamos ocupados em atos litúrgicos e práticas de culto que funcionam mais ou menos independentemente do saber que Deus está presente, nossa suposta adoração não passa de idolatria e de exercício vazio. Mas quando tomamos consciência de que não estamos sós, de que o Deus criador e salvador está conosco, então nossa adoração ganha profundidade, verdade e integralidade.
Logo depois daquele noite, ao acordar, Jacó toma o travesseiro de pedra e o transforma em altar de adoração ao Senhor. Ele o põe o altar de pé e o unge. Aquele lugar passa a se chamar Betel: Casa de Deus.
Nossa arte, nossas canções de adoração, nossos poemas, nossos textos devocionais e meditativos não passam de pedras tiradas do caminho, sobre as quais repousamos nossos sonhos e que transformamos em altar para o Senhor. Elas são também marco dos lugares por onde passamos e das experiências vividas com Deus. São parte de nossa resposta de fé, são sinais de nossa aliança com o Senhor.
Agora, ao escrever este texto, num quarto do Acampamento da MPC, sentado numa cama e recostado num travesseiro confortável, sinto vergonha da experiência daquele homem que, ao relento e num travesseiro de pedras, conseguiu sonhar os sonhos de Deus. Que imensa graça é essa que me segue. Sonharei e andarei com Ele.