Tenho pensado muito sobre a felicidade nos últimos dias. Primeiro foi a leitura em oração dos Salmo 112. Compartilhei essa leitura com meus irmãos da Igreja Presbiteriana de Criciúma e com meus queridos parentes em Blumenau. Em minha compreensão, entendi a felicidade como fruto da graça de Deus.

Em minhas reflexões, lembrava-me sempre da canção do querido amigo Jorge Camargo: “A Felicidade”, uma das coisas mais belas que já ouvi sobre o tema. Uma bela reflexão a partir de uma frase de Kierkegaard: “A porta da felicidade abre só para o exterior; quem a força em sentido contrário acaba por fechá-la ainda mais”. A mensagem é muito clara e forte: a essência da felicidade é compartilhar.  E isso me faz lembrar de outro amigo, Gerson Borges, cujo moto é: “A glória de Deus é compartilhar”. Mas isso é tema para outro post.

Pare um pouco e assista ao belo vídeo do Jorge:

A Felicidade

Na semana, enquanto aguardava minha consulta no cardiologista, li um texto do Frederick Buechner que mudou minha concepção um pouco. Eu que sempre colocava a felicidade acima da alegria. Para mim, a alegria sempre me pareceu menor, mais cotidiana, prosaica, enquanto a felicidade tinha ares de eternidade. A visão de Buechner é um pouco diferente, talvez mais próxima da de C.S. Lewis quando escreveu o Surpreendido pela Alegria. Diz Frederick Buechner:

Não há ninguém que já não tenha sido tocado em algum lugar pela alegria, de modo que, para torná-la real para nós, para mostrá-la, seria suficiente para Jesus simplesmente lembrar-nos dela, lembrar-nos dos momentos de alegria em nossas próprias vidas. Mesmo assim, não é fácil, pois ironicamente esses momentos são os que geralmente não associamos com religião. Tendemos a pensar que a alegria não é propriamente religiosa, mas até mesmo oposta à religião. Tendemos a pensar que a experiência religiosa consiste em sentar-se imóvel e antisséptico e um pouco entediados e que alegria é riso e liberdade e braços estendidos para abraçar a Terra enorme e impressionante e que é tão bela que às vezes parece quase explodir os nossos corações. Precisamos ser lembrados que em sua âmago o Cristianismo é alegria e que o riso e  a liberdade e o abraço são a sua essência. Precisamos ser lembrados também que a alegria não é o mesmo que felicidade. Felicidade é construída pelo ser humano — um lar feliz, um casamento feliz, relacionamentos felizes com nossos amigos e em nosso lugar de trabalho. Isso exige esforço e, se formos cuidadosos e sábios e se tivermos sorte, podemos conseguir. A felicidade é uma das mais nobres realizações a que somos capazes, e quando a conseguimos, recebemos o crédito por ela, de modo até apropriado. Mas nós jamais podemos receber crédito por nossos momentos de alegria, pois sabemos que eles não são realizados humanamente e jamais seremos realmente responsáveis por eles. Eles vêm quando vêm. São sempre repentinos e breves e irrepetíveis. Às vezes a alegria inexplicável de apenas estar vivo. O milagre às vezes de sermos apenas quem somos debaixo do céu azul e sobre a grama verdejante, os rostos dos nossos amigos e as ondas do mar, sendo apenas o que eles são. A alegria de relaxar, de sentir-se bem repentinamente quando havíamos estado doentes, de ser perdoado quando antes nos sentíamos envergonhados e com medo, de nos sabermos amados quando antes estávamos perdidos e sozinhos. A alegria de amar, que é uma alegria tanto da carne quanto do espírito. Entretanto, cada um de nós pode prover-se de seus próprios momentos, pelo menos em duas coisas mais. Um é que a alegria é sempre abrangente; não há nada mais em nós para ser odiado ou temido, para sentir-se culpado ou ser egoísta. A alegria é onde o ser inteiro aponta para uma só direção, e é algo que por sua natureza o homem jamais pode acumular, mas sempre repartir. Segundo, a alegria é um mistério porque ela pode acontecer em qualquer lugar, em qualquer tempo, mesmo sob as circunstâncias mais complicadas, mesmo no meio do sofrimento, com lágrimas nos olhos. Mesmo pendurado a uma cruz” (Frederick Buechner, Listening to Your Life, p. 286-7).

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