waterlooPassei pelo quebramar da batalha de Waterloo. Capítulo muito rico dos Miseráveis, cheio de reflexões sobre guerra, paz, nações, vida humana e com humor em certas passagens. Victor Hugo faz um curioso comentário sobre a suposta importância da batalha de Waterloo para nações como a Inglaterra e a Alemanha. Ele diz:

… Graças aos céus, os povos são grandes sem precisar das lúgubres aventuras da espada. Nem a Alemanha, nem a Inglaterra, nem a França tiram sua grandeza da bainha de uma espada. Nessa época, em que Waterloo nada mais é que um retinir de sabres, acima de Blücher a Alemanha tem Goethe, e acima de Wellington a Inglaterra tem Byron; um vasto renascer de idéias é a característica de nosso século, e nessa aurora, a Inglaterra e a Alemanha têm brilho magnífico. São majestosas porque sabem pensar. A elevação de nível que trazem à civilização é-lhes intrínseco; vem delas mesmas e não de um acidente. O que elas têm de progresso no século XIX não tem como origem Waterloo.Somente povos bárbaros sentem súbitas indigestões após uma vitória. É a vaidade passageira das torrentes infladas pelo aguaceiro. Os povos civilizados, sobretudo nos tempos atuais, não se levantam nem se abaixam conforme a boa ou má sorte de um capitão. Seu peso específico no gênero humano resulta de algo mais que um simples combate. Sua honra, graças a Deus, sua dignidade, sua luz, seu gênio, não são números que esses jogadores, os heróis e os conquistadores, possam arriscar na loteria das batalhas. Quase sempre, batalha perdida é progresso adquirido. Menos glória e mais liberdade. Os tambores se calam e a razão toma a palavra. É um jogo de perde-ganha. Falemos, pois, de Waterloo friamente, dos dois lados. Demos ao acaso o que lhe pertence e a Deus o que é de Deus. Que foi Waterloo? Uma vitória? Não. Uma partida. Partida ganha pela Europe e paga pela França (Victor Hugo, Os Miseráveis, p. 317-8).

  1. E então? Que ‘esperança’ temos para um país como o nosso, Gladir?

    Não poucas vezes julguei a falta de identidade, orgulho e solidariedade brasileiras como decorrência da falta de defesa armada, falta de guerra de verdade em nossa história.

    Se nações como Alemanha, Inglaterra e França não se tornaram o que são, permitindo Goethe e Byron, devido às conquistas, tréguas e alianças de guerra feitas para que se tornassem um povo – e olhe lá, a que podemos creditar sua grandeza?

    Numa leitura superficial, é possível imaginar que pensadores renovariam nossa nação – pensadores esses que não apareceram até hoje. É isso que o texto coloca?

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