“O mais lindo era que o vestido não parava um só instante. Não parava de faiscar e brilhar, e piscar e furtar-cor, porque os peixinhos não paravam de nadar nele, descrevendo as mais caprichosas curvas por entre as algas boiantes. As algas ondeavam as suas cabeleiras verdes e os peixinhos brincavam de rodear os fios ondulantes sem nunca tocá-los nem com a pontinha do rabo. De modo que tudo aquilo virava e mexia e subia e descia e corria e fugia e nadava e boiava e pulava e dançava que não tinha fim…

A curiosidade de Emília veio interromper aquele êxtase.

– Mas quem é que fabrica esta fazenda, dona Aranha? – perguntou ela, apalpando o tecido sem que Narizinho viesse.

– Este tecido é feito pela fada Miragem – respondeu a costureira.

– E com que a senhora o corta?

– Com a tesoura da Imaginação.

– E com que agulha cose?

– Com a agulha da Fantasia.

– E com que linha?

– Com a linha do Sonho.

– E.. Por quanto vendo o metro?

Narizinho, já mais senhora de si, deu-lhe uma cotovelada.

– Cale-se, Emília. Os peixinhos podem assustar-se com as suas asneiras e fugir do vestido” (Lobato, Narizinho Arrebitado, p. 62-3).

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