Família, temor e obediência

Família, temor e obediência

Texto básico: Isaías 6.1-13

D – Is 7.1-9 – Um-Resto-Volverá
S – 1Pe 3.13-17 – Sempre preparados
T – Is 8.1-8 – Rápido-Despojo-Presa-Segura
Q – Is 54 1-17 – Futuro glorioso
Q – Lc 13.1-5 – Arrependimento essencial
S – Is 56.1-8 – Frutos de arrependimento
S – Is 58.1-14 – O verdadeiro culto

Introdução

Nossa cultura necessita de uma reconciliação com Deus e de restauração à luz das Escrituras. O que torna isso possível é investir na próxima geração. Para isso, precisamos nos comprometer com uma agenda de fidelidade pactual que inclua o ensino da perspectiva cristã da realidade, e sua aplicação na vida como um todo, de modo que nossos jovens possam andar com alegria diante de Deus, como seus fiéis discípulos. O profeta Isaías e seu livro nos apontam a Jesus. Seu encontro com a glória de Deus foi uma trajetória que lançou, a ele e à sua família, em uma vida de justiça, misericórdia e humildade.

I. A visão de Isaías

Em Isaías 6.1-4, no original em hebraico, dois nomes são empregados para Deus. Adonai, que significa soberano. E Yahweh, que é o nome pessoal da fidelidade pactual de Deus. Ligado a “Todo-Poderoso” e “Onipotente”, o nome retrata Deus como o guerreiro divino. A repetição “Santo, santo, santo”, indica sua incomparável santidade.

De acordo com João 12.37-41, Isaías viu Jesus. A resposta de Isaías não causa surpresa: “Ai de mim! Estou perdido! porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios…” (Is 6.5). A resposta de Deus, por sua vez, mostra sua misericórdia aos humildes e arrependidos. Tomar uma brasa do altar simboliza purificação. Quando Deus fez a pergunta seguinte, Isaías nem titubeou: “Eis-me aqui, envia-me a mim” (v.8).

Mas o chamado de Isaías parece um contra-senso. Ele viu o Santo Soberano e, contudo, ouviu que a mensagem desse santo Deus seria rejeitada. Isaías fez mais uma pergunta: “Até quando, Senhor?”. E o Senhor respondeu; “Até que…” (v.11).

Dessa resposta é possível concluir que havia uma esperança, porque haveria um remanescente fiel. De fato, sempre haverá, porque Deus é o guardador do pacto: “Como terebinto e como carvalho, dos quais, depois de derribados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco” (v.13). O remanescente é a santa semente.

II. A família de Isaías

O aparente contra-senso na situação de Isaías não é incomum. Muitas vezes pensamos que as pessoas irão nos amar e amar a mensagem que proclamamos, se vivermos vidas fiéis que reflitam a glória de Deus. Pensamos que, se nossa família refletir a glória de Deus, outras famílias virão perguntar “a razão da esperança que há em nós” (1Pe 3.15). Na verdade, é difícil viver na contracultura do mundo e não é incomum sermos rejeitados.

Isaías sabia desde o começo que ele e sua mensagem seriam rejeitados. Mesmo assim não hesitou. Ele havia  contemplado a glória de Deus. Ele havia visto o Santo Soberano em seu trono. Isaías não foi chamado para ser bem-sucedido. Ele foi chamado para obedecer.

Isaías fez mais. Ele levou sua família junto. De fato, ela tornou-se parte de sua mensagem. Quando Deus mandou Isaías levar sua mensagem ao rei Acaz, o Senhor disse a Isaías: “Agora, sai tu com teu filho, que se chama UM-RESTO-VOLVERÁ, ao encontro de Acaz, que está na outra extremidade do aqueduto do açude superior, junto ao caminho do campo do lavadeiro” (Is 7.3). O nome desse filho, Sear-Jasube (ARC), que significa ‘Um-Resto-Volverá’, é uma declaração da fé que Isaías tinha na promessa pactual de Deus. Acaz era um violador do pacto; ele e o povo que o seguia seriam abandonados. Mas o remanescente sobreviveria para cumprir a promessa pactual de Deus, de salvar um povo para si.

O nome do segundo filho de Isaías também foi parte de sua mensagem. RÁPIDO-DESPOJO-PRESA-SEGURA (Is 8.1), ou Maer-Salal-Has-Baz (ARC), significa a rápida devastação da Síria, de Israel e de Judá, mas também significa a presença de Deus com o remanescente e o cumprimento iminente da palavra proferida por Deus.

Isaías sabia de antemão que teria um ministério difícil. Sua família não deve ter sido muito popular. Teria sido compreensível se ele tivesse preferido protegê-los do perigo e do desdém. Mas Isaías havia visto o Santo Soberano. Ele não teve medo de envolver sua família. Essa era uma família voltada para fora, que enfrentava um mundo hostil com uma mensagem de julgamento e de esperança.

III. A mensagem de Isaías

Após anunciar o juízo de Deus sobre Israel e o iminente exílio na Babilônia, Isaías fala da redenção e do retorno. Isaías 54 e 55 são uma renovação do pacto. Essa mensagem de esperança é também uma chamado ao  arrependimento: “Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55.7,8). A renovação pactual começa com a promessa de Deus e exige nosso arrependimento. O arrependimento é um elemento essencial do evangelho da graça. Jesus deixou isso bem claro: “… se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lc 13.5).

Então, no capítulo 56, Isaías passa a mostrar como é uma vida de arrependimento. Começa com culto e segue em justiça, misericórdia e humildade. Trata-se de uma conversão de mentes e corações, que transborda em frutos de arrependimento. Nesse trecho da mensagem de Isaías, há um contraste entre o verdadeiro e o falso culto. “O culto é a atividade de reconhecer a grandeza de nosso Senhor pactual. … o culto é homenagem, adoração. Não é realizado primordialmente para nós, mas sim para aquele que buscamos honrar. … O culto, pois, precisa ser sempre centrado em Deus e centrado em Cristo. Deve enfocar o Senhor pactual… a redenção é o meio; o culto é o alvo. … É o propósito da história, o alvo de toda a história cristã. O culto não é um segmento da vida cristã entre outros. O culto é toda a vida cristã vista como oferenda sacerdotal a Deus. … é… o fim essencial de nossa existência como corpo de Cristo.”

Nos dias de Isaías, as pessoas estavam fazendo tudo “certinho”, simulando o culto, mas sem pôr nele a alma. O contraste que Isaías faz entre a verdadeira e a falsa adoração nos leva a ver a realidade de que o culto é um estilo de vida; ele culmina na reunião da comunidade pactual no dia do Senhor.

Isaías também identifica três das características do verdadeiro culto:

1. O verdadeiro culto caracteriza-se pela guarda do sábado: “Se desviares o pé de profanar o sábado, e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia, mas se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs” (Is 58.13);

2. O verdadeiro culto caracteriza-se pela humildade: “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15);

3. O verdadeiro culto caracteriza-se por uma vida de justiça e misericórdia: “Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante?” (Is 58.6,7)

Isaías relata os resultados do culto verdadeiro: “Então romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda; então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás por socorro, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo que ameaça, o falar injurioso; se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita, então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia” (Is 58.8-10).

O profeta Miquéias, que foi contemporâneo de Isaías, deu a versão condensada dessa mensagem: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e o que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?” (Mq 6.6-8).

Esse é um texto que trata do equilíbrio bíblico entre devoção e ação, ser e fazer. É uma interação da vida interior e da exterior. O culto e o arrependimento são fonte de uma vida de justiça, misericórdia e humildade. Esse é um estilo de vida e um valor familiar. O coração da família que acolhe esse valor terá paixão pela justiça e amor pela misericórdia, porque ela se curva humildemente diante do Deus soberano.

IV. Ensinando às crianças o mandato espiritual

As crianças devem ser ensinadas a obedecer ao mandato espiritual. As crianças são criadas em aliança com Deus sendo à sua imagem e semelhança. As crianças são parte da família real de Deus e são chamadas a responder ao relacionamento espiritual que Deus colocou entre ele, os pais e os filhos. Quando falamos de relacionamento espiritual estamos falando especialmente do relacionamento pessoal que existe da parte de Deus para com cada pessoa individualmente. É um relacionamento pessoal. É um relacionamento eu-você, e o pai e a mãe dever responder dizendo, “nós o amamos, Senhor”. Os pais devem ensinar as crianças sobre este relacionamento que Deus estabeleceu com eles e como eles devem responder.

Este mandato espiritual foi dado como parte da ordem criacional. Adão e Eva deveriam permanecer em comunhão com Deus, andar com Deus quando ele viesse no final da tarde. Deveria haver um relacionamento pessoal como o que temos em oração hoje. Parte desse mandato espiritual era a obediência a Deus em relação à proibição de comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. O mandato espiritual tinha uma grande promessa implícita nele. Deus, Adão e Eva tinham um lindo relacionamento pessoal, sem nada entre eles. Para que esse relacionamento permanecesse, Adão e Eva deveriam responder positivamente a Deus. Mas Adão e Eva quebraram esse relacionamento espiritual depois que Satanás os tentou e eles cederam à tentação (Gn 3.1-6). Eles se esconderam de Deus. Ficaram temerosos. Não existia mais um amor verdadeiro, espontâneo no relacionamento eu-você. A humanidade havia se desviado, homem e mulher haviam caído. Eles quebraram o mandato espiritual de Deus. Deus, entretanto, não permitiria que aquele relacionamento continuasse quebrado.

Deus disse a Adão e Eva, e por meio deles a seus filhos, que iria manter sua aliança com eles. O relacionamento de amor iria continuar. Ele o faria começando a aliança redentora/restauradora/salvífica. Ele daria a salvação para que Adão e Eva pudessem ouvi-lo, obedecê-lo, e continuar aquilo que Deus esperava deles nesse relacionamento pessoal e amoroso.

O relacionamento espiritual entre o homem e a mulher foi quebrado do ponto de vista humano, mas não do ponto de vista de Deus. O Senhor providenciou imediatamente a restauração do relacionamento do ponto de vista humano para com Deus no intuito de que o homem e a mulher pudessem dizer: “Deus é nosso Deus, nosso Pai, nosso Rei e também nosso Redentor e Salvador.” Ele é aquele que nos restaura e nos ajudará agora que estamos enfraquecidos pelo pecado e pela culpa. Graça a Deus, ele nos afirma que irá nos auxiliar a andar, a falar e a ter comunhão com ele. Ele tirará o pecado que nos separa e a culpa que nos sobrecarrega. Os pais são chamados a compartilhar isso com seus filhos.

Se devemos obedecer o mandato espiritual, vivê-lo, ensiná-lo e demonstrá-lo no lar, a certeza de que Deus existe deve estar presente na família, nos pais e líderes, de que ele é o Senhor soberano sobre tudo e que todos sob o seu reinado, especialmente os da família, são chamados a responder, obedecer, servi-lo alegremente e ter comunhão com ele.

Repetimos, é imperativo que todo membro da família da aliança saiba que todos nasceram sob o pecado original, e estão separados de Deus. Mas que por meio da aliança salvadora e graciosa de Deus e da operação do Espírito Santo, a vida espiritual, a comunhão e o culto são oferecidos a Deus. À medida que os pais e filhos respondem, Deus renova e estabelece com eles um sólido relacionamento espiritual.

Com relação ao pai e à mãe da família da aliança, é certamente necessário um conhecimento bíblico para que possam modelar, ensinar e viver esse relacionamento espiritual. Pois é impossível para os pais ensinarem a seus filhos esse relacionamento espiritual a não ser que Deus, por meio de sua Palavra e seu Espírito, esteja realmente em seus corações e que seus corações tenham sido tomados por Deus. Pais que são chamados a ser reis e rainhas em seu lar, também são chamados a ser sacerdotes representando seus filhos perante Deus. Vocês são profetas em seus lares, falando e ensinando no lugar de Deus.

Isto implica que a Bíblia seja manuseada diariamente. Deve ser lida e discutida. As verdades bíblicas devem estar nos corações dos pais (Dt 6.11-18; Sl 78.1-8; Ef 6.1- 4). Pais, vocês devem conversar com seus filhos e escutá-los. À medida que você fala com seus filhos irá descobrir como eles responderão enquanto você conta mansa e gentilmente as verdades de Deus, o que ele fez por nós por meio de Jesus Cristo e como seu Espírito está presente hoje. Vocês devem mostrar seu amor por Deus enquanto executam suas atividades cotidianas, assim demonstrando esse relacionamento espiritual com Deus.

Mães, vocês devem fazer o mesmo. Lembrem-se do que lemos sobre Timóteo, de como Eunice e Loide o instruíram e ensinaram sobre as verdades de Deus e de como ele foi assim modelado quando era criança.

Conclusão

O conhecimento da soberania, da santidade, da graça e da misericórdia purificadora de Deus motiva a família a adotar esse valor familiar como um estilo de vida. É esse conhecimento que desenvolve a reverência, a humildade e a gratidão que compelem a família a praticar a justiça e a misericórdia.

Aplicação

Como a sua família deve integrar as várias atividades de sua vida (emprego, escola, atividades na igreja, atividades caseiras da família reunida) em torno do propósito de glorificar a Deus?

Que ordens Deus dá em Isaías 58 (especialmente vs. 6,7,9,10), quais são os resultados (especialmente vs. 8,9,11,14) e como eles podem alterar para melhor a vida da sua família?

>> Estudo adaptado de A Família da Aliança, Harriet e Gerard van Groningen. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997, pp.163-166. Usado com permissão.

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3 Comentários para “Família, temor e obediência”

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