NOSSO MUNDO MUTÁVEL:
O ENVOLVIMENTO CRISTÃO É NECESSÁRIO?
Série: Cristo em nós e Nós no Mundo – uma igreja cidadã e serva
Texto básico: Lucas 12.54-56
Introdução
Jesus fala nesse texto sobre o sentido e a urgência da conjuntura histórica. No correr do tempo uniforme há estações agrárias que o lavrador distingue. No decorrer do tempo histórico há ocasiões e conjunturas prenhes de consequências. O mais importante é saber distingui-las para vigilantemente e cheios de sensibilidade sabermos agir.
Rápido giro pelo nosso tempo
No início do século 21, somos confrontados com uma enorme gama de desafios, os quais nunca poderíamos ter imaginado há 50 anos. O ritmo das mudanças tecnológicas confirma a inteligência da humanidade, mas a persistência da pobreza mundial continua sendo um desafio ao nosso senso de justiça. Cada vez mais somos interdependentes globalmente e as oportunidades de negócios são abundantes, no entanto ricos e pobres nunca estiveram tão distantes.
Somos tratados como consumidores, e não como cidadãos, em uma sociedade materialista de grande sofisticação, mas de pouco propósito. As consequências involuntárias das nossas ações causaram problemas ambientais que ameaçam seriamente nosso futuro juntos. Apesar da ameaça de uma guerra nuclear ter regredido, temos de lidar com o aumento do terrorismo global, com o surgimento de homens-bomba e com o ressurgimento da violência inspirada na religião.
O colapso da família, principalmente no Ocidente, tem colocado cargas pesadas sobre pais solteiros, ameaçado a coesão da comunidade e, em muitos casos, levado a um senso de alienação entre pessoas jovens.
Estamos confusos no que diz respeito à natureza da identidade humana e essa confusão pode ser vista tanto na destruição da vida, por meio do aborto e da eutanásia, quanto em nossa intenção de criar vida, por intermédio da genética e da clonagem.
Perguntas para discussão em grupo
1. Qual sinal do tempo hoje que mais o deixa apreensivo? Por quê?
2. Para onde o discernir dos nossos dias nos leva? Qual é a importância de tal discernimento?
Em épocas passadas, os cristãos desempenharam papel significativo para entender onde nos encontrávamos no mapa filosófico e histórico, como também contribuíram com as ideias e atuações que redesenharam o mapa. Exemplo: Três dias antes de sua morte, em 1791, John Wesley, diante da cruel situação dos escravos africanos escreveu a Wilberforce para assegurá-lo de que Deus o havia levantado para o seu empreendimento glorioso e para estimulá-lo a não se cansar de fazer o bem.
3. Por que nos envolvermos em tal mundo?
É evidente na Bíblia que muitas das ações de Jesus foram motivadas pelo seu olhar pastoral e compassivo dos sinais dos seus dias. “Quando Jesus viu aquelas multidões…, começou a ensiná-los.” (Mt 5.1,2); “Quando Jesus viu a multidão, ficou com muita compaixão daquela gente…” (Mt 9.36).
Podemos dizer, então, que isso levou Jesus ao seu ministério público: “percorria […] ensinando […], pregando” (Mt 4.23; 9.35) e “fazendo o bem e curando” (At 10.38).
Como consequência, o evangelismo e o interesse social estão intimamente relacionados por toda a história da Igreja. O povo cristão frequentemente se envolvia em ambas as atividades voluntariamente, sem necessidade alguma de definir o que eles estavam fazendo ou o porquê.
Nosso Deus é um Deus amoroso, que perdoa aqueles que se voltam para ele arrependidos, mas também é um Deus que deseja justiça e nos chama, como seu povo, não somente para vivermos de forma justa, mas para advogarmos a causa do pobre e do fraco.
4. Que opções os cristãos têm ao discernir os sinais do nosso tempo?
No fim, existem apenas duas atitudes possíveis que os cristãos podem adotar em relação ao mundo. Uma é a fuga e a outra é o envolvimento. (Você poderia dizer que existe uma terceira opção, ou seja, a acomodação. Mas, nesse caso, os cristãos se tornam indistinguíveis do mundo e por causa disso não são mais capazes de desenvolver uma atitude distinta para com ele. Eles simplesmente se tornam parte dele.) Acomodação significa virar as costas para o mundo, em rejeição, lavando as mãos (apesar de descobrirmos com Pôncio Pilatos que a responsabilidade não sai com a lavagem) e cobrindo o coração com aço contra seus gritos agonizantes de pedido de ajuda. Em contrapartida, envolvimento significa voltar a face para o mundo, em compaixão, sujando nossas mãos, machucando-as e usando-as em serviço deste, e sentindo no mais profundo de nosso íntimo o agir do amor de Deus, que não pode ser contido. Muitos de nós evangélicos já fomos ou ainda somos acomodados irresponsáveis. A comunhão mútua na igreja é muito mais cômoda do que o serviço em um ambiente indiferente e hostil lá fora. É claro que fazemos incursões evangelísticas casuais no território inimigo (essa é a nossa especialidade evangélica); mas depois nos retraímos novamente, do outro lado do fosso, em nosso castelo cristão, na segurança da nossa própria comunhão evangélica; puxamos nossa ponte levadiça e até tampamos os ouvidos para os clamores daqueles que batem no portão.
Conclusão:
Robert Linthicum, conhecido missiólogo urbano, diz que uma das mais eficientes maneiras de perceber os sinais dos dias atuais de nossa cidade é simplesmente andar por ela:
Dedique um dia inteiro a andar com Jesus por sua cidade, com Ele mostrando aquilo que realmente aprecia nela. Sugiro que faça esta turnê a pé, pois andando, você vai interagir face a face com pessoas e lugares de sua cidade… Você descobrirá que, ao fazer este exercício espiritual, obterá uma visão inteiramente nova de como Deus descreve sua cidade e como você também a descreve. (LINTHICUM, Robert. A Transformação da Cidade. Belo Horizonte: Missão Editora, 1990. p. 11-12.)
O que acha da proposta? Vamos conversar sobre isso?
>> Autor da Lição: Jony Wagner de Almeida
Leitura indicada: Os Cristãos e os Desafios Contemporâneos, John Stott. Editora Ultimato, 2014.