A respeito do aqui e do agora
O aqui e o agora revestem-se de grande importância. Há coisas que você não pode nem deve adiar para outro lugar e outro tempo. Pois estão dentro do espaço físico e do espaço de tempo onde você se encontra. É necessário enxergar essas coisas, agarrar-se a elas e consumi-las dentro das limitações de lugar e tempo.
Tudo tem o seu lugar e o seu tempo determinado (Ec 3.1). Você não vai plantar uma horta no jardim público, nem construir um campo de pouso no quintal de sua casa. Você não vai colher antes de plantar, nem morrer antes de nascer. A escolha do lugar e da hora não é simples produto de convenções humanas.
Há certas coisas que não vão acontecer nem aqui nem agora. Não adianta correr atrás delas. Não adianta achar ruim. É preciso esperar outro lugar e outro tempo. Sem irritação. Sem ansiedade. Sem agitação. Sem raiva ou revolta. Sem lamúria. Sem desespero. Sem desânimo. Antes, com paciência, com entusiasmo, com fé e coragem. Em plena certeza.
Quando Paulo se tornou cristão e perguntou ao Senhor o que deveria fazer, este lhe respondeu: “Levanta-te e entra na cidade de Damasco. Ali vão dizer tudo o que Deus quer que você faça” (At 22.10). Em outras palavras, o que Paulo ouviu e o que muitos não gostam nem querem ouvir, por impaciência, é a dupla negativa: “Aqui não; agora, não”.
No caso de Paulo, o lugar seria outro: não a entrada de Damasco, mas em Damasco. No caso de Paulo, o tempo seria outro: não naquele dia, mas três dias depois. Entre um lugar e outro, entre um espaço de tempo e outro, o apóstolo ficou cego, entrou na capital da Síria levado pelas mãos de amigos, não comeu nem bebeu. Pensou.
Deus tem reservado um lugar e um tempo de descanso para o seu povo (Hb 4.9). Não será aqui, “por causa da imundícia que destrói, sim, que destróis dolorosamente” (Mq 2.10). Nem será agora, porque o que é perfeito ainda não veio (1Co 13.10) Portanto, é preciso esperar, e não desanimar. Avançar, e não retroceder.
Texto originalmente publicado na edição de agosto de 1979 de Ultimato, na seção “Quadro de avisos”.