Virtudes e mazelas
Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e as intenções do coração. (Hebreus 4:12)
Segundo Frederick R. Karl, autor de uma biografia de George Eliot (1819-1880), publicada no ano passado pela Editora Record (George Eliot — a voz de um século), “hoje podemos ser muito mais abertos e francos a respeito de muitas coisas” quando se escreve a história de alguém, o que não acontecia até trinta anos atrás. Karl lembra que a biografia anterior de George Eliot (pseudônimo literário da romancista inglesa Mary Ann Evans), publicada em 1968, hesitou sobre certos detalhes da vida da autora de Middlemarch.
Se isso acontecia no passado, o que acontece hoje é exatamente o contrário. Para satisfazer a sede de escândalos e para se enriquecer com a venda de literatura sensacionalista, a moda agora é invadir a vida privada de muita gente e contar o que há de mais hediondo e, em alguns casos, acrescentar fatos que jamais aconteceram.
Parte escrita antes de Cristo e parte escrita nos primeiros anos do primeiro século depois de Cristo, a Bíblia é o único livro que conta não só as virtudes, mas também as mazelas do homem. Ela fala sobre a fé de Abraão e sobre suas mentiras. Descreve o nobre caráter de Davi e seu adultério com a mulher de Urias, o homem que ele matou com espada alheia. Narra o entusiasmo de Pedro por Jesus e sua tríplice negação. Conta a história do ministério missionário de Paulo sem omitir o ódio que o apóstolo nutria anteriormente pelos cristãos.
Por não esconder os incestos, os estupros, a poligamia, as chacinas, a violência, as desavenças e a hipocrisia do povo de Deus, as Escrituras impõem respeito. E por contar a piedade, a resignação, a santidade, a submissão, a devoção, o amor e a humildade do povo de Deus, as Escrituras se transformaram no livro mais traduzido, mais vendido e mais lido de toda a história. A Bíblia ensina que as duas coisas são possíveis — o bem e o mal, o amor e o ódio, a obediência e a desobediência. E se põe sempre a favor do bem e contrária ao mal.
Texto originalmente publicado na edição 256 de Ultimato.