A nostalgia do paraíso perdido é a dor mais secreta do ser humano
A saudade coletiva e universal não é só da criação original, não danificada, não poluída, mas também e especialmente do Criador. A reconciliação é com a criação e com o Criador.
O brasileiro que está ganhando dinheiro nos Estados Unidos, na Espanha ou no Japão tem saudade do Brasil. O soldado americano que está lutando no Iraque tem saudade dos Estados Unidos. O boliviano que trabalha em São Paulo tem saudade da Bolívia.
Eles também têm outra saudade, mais misteriosa, mais inquieta, mais arraigada. Essa segunda saudade, todo ser humano tem, tanto o pobre como o rico, tanto o analfabeto como o doutor, tanto o índio como o não índio, tanto o crente como o não crente. Em todo lugar e em todo tempo. Trata-se daquilo que o ensaísta francês Albert Camus (1913-1960) chama de nostalgia do paraíso perdido.
Mas não será a despoluição do planeta que vai nos curar dessa nostalgia do paraíso perdido, como sugeriu outro dia o jornalista Carlos Heitor Cony: “Sem eletricidade, sem plásticos, sem fábricas despejando detritos industriais nos rios, sem fumantes e sem predadores de florestas, o planeta vencerá a ameaça do aquecimento global, as geleiras continuarão geladas, sem derreter, e os oceanos permanecerão no mesmo nível dos primeiros dias da Criação”.
A saudade coletiva e universal não é só da criação original, não danificada, não poluída, mas também e especialmente do Criador. A reconciliação é com a criação e com o Criador. Quando se fala no paraíso perdido e no paraíso recuperado na perspectiva cristã, estamos falando mais da beleza e perfeição de Deus do que da beleza e perfeição da natureza. O último livro da Bíblia mostra que o paraíso recuperado será paraíso recuperado porque “a morada de Deus está entre os seres humanos”. E acrescenta: “O próprio Deus estará com eles e será o Deus deles. Ele enxugará dos olhos todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. As coisas velhas [especialmente a nostalgia de um paraíso perdido] já passaram” (Ap 21.3-4, NTLH).
Texto originalmente publicado na edição 310 de Ultimato.
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