Milagres não solicitados
A lista de milagres estranhamente não solicitados é enorme. Estamos deixando o tempo passar, as coisas se agravarem e a tristeza aumentar, mas não temos coragem de clamar por certos milagres. Somos incentivados a orar pelo milagre da cura de doenças incômodas ou terminais, pelos milagres da prosperidade e por outros milagres sensacionalistas.
Existe um milagre chamado conversão. É quando o coração de carne toma o lugar do coração de pedra. É quando o pecador descobre que é pecador e chora na presença de Deus. É quando a fé no sacrifício vicário de Jesus desponta e se apodera daquele que quer ser perdoado de seus pecados. É quando alguém se despe do velho estilo e adota outro estilo de vida. É quando a pessoa assume compromisso privado e público com Jesus Cristo. É quando alguém é libertado e arrancado do império das trevas e transportado para o reino de Deus (Cl 1.13). Esse é um milagre e tanto. Porque são poucos os que acertam com a porta estreita (Mt 7.14). Enquanto o milagre da cura, que também glorifica a Deus, traz benefícios exclusivamente para a vida terrena, o milagre da conversão diz respeito a esta vida e à vida que há de vir.
Outro milagre não solicitado é o milagre da vitória sobre a natureza pecaminosa. Há cristãos por aí que não conseguem se livrar de sua carga de pecado. Continuam experimentando derrotas, fracassos e vexames. São dominados pelo ciúme, pela inveja, pelo ódio, pela explosão de gênio, pela impudicícia, pela mentira, pela murmuração, pela contenda, pelo mau uso da língua, pela bebedeira, pela soberba, pela injustiça, pela difamação e por outros vícios. Andam na carne e não no Espírito. Pelo tempo decorrido, deveriam ser mestres, mas ainda são crianças em Cristo (Hb 5.11-14). O milagre da vitória sobre o pecado lhes seria muito bom, para eles e para a igreja. Esse milagre é possível. Precisa ser solicitado com muita vontade e com muita insistência.
Há casais que se desentenderam, vivem um verdadeiro inferno no lar. Separados dentro de casa, estão para se separar legalmente. Não se amam mais ou não sabem mais como expressar esse amor. Preocupam-se com a sorte dos filhos, mas não vêem a menor possibilidade de salvar o casamento. Estão arrastando o problema que, a cada dia, mais se agrava. A situação está insuportável e parece irreversível. Só um milagre poderá interromper o processo e trazê-los de volta ao contentamento conjugal. É isso mesmo, existe o milagre da restauração do matrimônio. Se Deus pode curar alguém do câncer de próstata ou um portador do HIV, por que esse mesmo Todo-Poderoso Deus não pode tornar a dar beleza e alegria ao matrimônio?
Precisamos de ousadia para orar pelo milagre da conversão, pelo milagre da vitória sobre o pecado e pelo milagre da reconciliação conjugal, milagres que — para desgraça nossa — geralmente não são solicitados ou são pouco solicitados.
Texto originalmente publicado na edição 257 de Ultimato.
EDUARDO
A linguagem e a abordagem (approach) é a mesma da Igreja Universal: milagre é uma ‘commodity’.