C.S Lewis tinha alguma orientação religiosa? Era ele cristão?
Sim, um dos mais autênticos que já “conheci”, o que é corroborado por pessoas que o conheceram pessoalmente. Mas não é preciso ser cristão para curtir os seus livros, muito menos, ter medo de que ele faça alguma “lavagem cerebral” contigo. A tese de que um autor consegue passar mensagens subliminares em livros, filmes ou na música já foi refutada faz tempo. O nosso relacionamento com livros e seus autores é semelhante ao que acontece no relacionamento com pessoas: todas elas acabam nos influenciando de uma forma ou de outra, ao mesmo tempo em que são influenciadas.
No caso dos livros, tudo gira em torno da interpretação da história, que sempre tem um toque pessoal do leitor. Conheço pessoas que curtem as Crônicas de Nárnia e muito mais ainda, O Senhor dos Anéis, sem nunca terem pensado mais a sério sobre o cristianismo.
Por outro lado, quem buscar, achará os conteúdos religiosos em dois tempos. Para bom entendedor, já sabem…
Cabe a nós separar o joio do trigo, ou seja, discernir a que tipo de influência queremos nos deixar submeter e a qual não. Jamais poderemos acusar um autor, principalmente de ficção por ter “feito a nossa cabeça” em termos religiosos ou em outras áreas, sem que tenhamos dado nossa permissão para isso.
A história do longo e surpreendente processo de conversão de Lewis do ateísmo até o anglicanismo está descrita na sua auto-biografia: Surpreendido pela Alegria (Mundo Cristão).
A excelente biografia O mais Relutante dos Convertidos (Ed. Vida) de David Downing complementa bem o auto-retrato do autor. Infelizmente há diversos leitores dos dois extremos, cristãos fundamentalistas e ateus radicais (ou democratas liberais, que aplicam a filosofia liberal à religião) criticam Lewis por seu cristianismo explícito, considerando-o um pecado capital contra as suas respectivas filosofias religiosas.
Muitos críticos que acusam autores de passaram “mensagens subliminares” em suas obras, em especial, no que tange a religão (mas o mesmo vale também para a política e outros campos) esquecem-se de que a liberdade religiosa é um direito garantido pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, bem como pelas Constituições Nacionais da maior parte dos países democráticos de hoje (inclusive a brasileira), e isso se aplica também a autores (e professores, etc).