Engana-se quem pensa que a viola nasceu no Brasil. Ela chegou por aqui trazida pelos religiosos no início da colonização, por volta de 1549 – data da chegada do primeiro grupo de seis jesuítas, sob o comando do padre Manoel da Nóbrega. Chegou como viola de arame, uma prima da guitarra portuguesa. Era, inicialmente utilizada nos serviços religiosos dos padres empenhados na catequização e educação dos indígenas.

Com o passar do tempo a viola adquiriu nuances próprias nessas terras. Nas mãos de artesãos locais foram introduzidas pequenas alterações na sua construção.

viola

Um modelo contemporâneo baseado na viola de Queluz

“Nascia assim um dos mais importantes instrumentos da música brasileira: viola de dez cordas, viola de arame, viola de pinho, viola cantadeira, viola pantaneira, viola cabocla, viola sertaneja, viola nordestina, viola tropeira, viola campeira, viola caipira ou, simplesmente, viola brasileira” (Angelim, no livro “Uma viola rio abaixo”, Thesaurus Editora).

Na verdade não podemos dizer que exista apenas um tipo de viola no Brasil. São vários. Mudam desde o formato do corpo, à disposição do número de cordas (agrupadas em ordens de duas cordas ou não), e especialmente na diversidade de afinações. Por exemplo, a chamada viola caipira, derivada da viola de Queluz (antiga cidade de Minas Gerais, hoje Conselheiro Lafaiete), comumente agrega cinco ordens de duas cordas. No nordeste encontramos com dois pares de ordens e mais três cordas: é um dos modelos da chamada viola nordestina, adaptada por alguns repentistas a partir do violão. Existem ainda instrumentos com 6 ordens de duas cordas, e outros, encontrados no sul do país, com “um pequeno cravelhal – com apenas uma cravelha – ao lado do tampo, afixado entre este e a lateral do braço” (Roberto Corrêa, no livro “Tocadores – homem, terra, música e cordas”, Olaria Projetos de Arte e Educação). Isso sem contar a viola de cocho, encontrada no pantanal mato-grossense, a viola de cabaça, a viola de bambu, entre outras.

A viola caipira se popularizou através do rádio, a partir dos anos 50, por meio de famosas duplas como Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho. Adentrou por outras linhas da música popular brasileira sendo utilizada nos festivais dos anos 60 e, depois, por artistas que mesclavam o regionalismo em suas canções.

Hoje é possível ver a viola caipira presente inclusive em trabalhos de artistas cristãos que difundem sua fé por meio das artes. Quem acompanha minha trajetória musical sabe da importância da viola caipira para mim. Ela é um instrumento presente em toda a minha produção.

Marco Neves, um grande instrumentista, incentivado pela Comunidade de Jesus, no interior de São Paulo, gravou dois volumes do “Viola Louvadeira”, causando uma grande repercussão nacional. Neles, interpretava hinos e conhecidos cânticos ao som das dez cordas, acompanhado por percussões, rabecas e violões. Segundo me confidenciou, disse que certa feita iria dirigir a música no culto de sua igreja, mas, confundido, esqueceu o violão. O que tinha ficado no porta-malas do carro, após a gravação num estúdio, era o case com a viola. Sem saída, resolveu arriscar e dirigiu todos os cânticos no estilo caipira. Não deu outra! A comunidade amou e decidiram gravar os CDs.

Nessa lista de artistas da viola ainda encontramos Silvestre Kuhlmann, Roberto Diamanso (com uma linguagem violeira mais nordestina que caipira), o casal Wesley e Marlene, Vavá Rodrigues, que inclusive está com um maravilhoso CD caipira às portas de ser lançado, entre alguns outros.

Percebo que uma nova geração começa a se interessar pela viola e por outros instrumentos característicos de ritmos brasileiros regionalistas. O uso do acordeom, ou sanfona, tem crescido bastante nas produções atuais. Esses dias conheci uma moça em São Paulo que está estudando a rabeca. Aulas de pandeiro, de zabumba e de percussão em geral conquistam cada vez mais adeptos.

Aos que se interessam no aprendizado e aprofundamento da viola caipira tenho uma boa notícia. O violeiro Roberto Corrêa acaba de lançar um material de estudo de muita qualidade. É o DVD “A Arte de Pontear Viola”, que vem na linha do livro de mesmo nome.

Considero o Roberto Corrêa como uma das pessoas que mais contribuiu e ainda contribui para o aprimoramento do estudo da viola caipira no Brasil e no mundo. Descendente de violeiro, ele buscou conhecimento na fonte, entre os que vivem no sertão. Mesclou esse saber popular com a técnica do violão erudito que já possuía. Sistematizou práticas, registrou-as em partituras e tablaturas e gravou estudos, compartilhando seus conhecimentos. E não parou por aí: juntamente com admirados construtores de instrumentos de cordas trabalhou no aperfeiçoamento de escalas, pontes, braços etc. Em contato com representantes de fábricas de encordoamentos nos EUA, pesquisou jogos de cordas que se adaptassem bem às violas, o que culminou com o lançamento de marcas importadas voltadas para esse instrumento. Percebeu que a afinação cebolão em Ré poderia somar na melhoria da sonoridade e na popularização do instrumento entre outros estilos musicais, passando a utilizá-la e difundi-la. Repartiu tudo isso com inúmeros alunos que hoje se tornaram igualmente mestres e instrumentistas reconhecidos. O DVD “A arte de pontear viola” é praticamente o coroamento de todo esse trabalho ímpar. Segundo Roberto, “creio que com este trabalho finalizo minha contribuição no repasse do que aprendi com violeiros da tradição e violeiros da duplas caipiras. Agora vou cuidar de facilitar, expandir e difundir o repertório da viola caipira”.

Fica a dica aos interessados. Vamos tornar a viola cada vez mais conhecida e utilizada. É realmente um instrumento fantástico!

  1. “Engana-se quem pensa que a viola nasceu no Brasil.”

    A propósito, tem alguma coisa que tenha nascido aqui? Até o tão decantado tubérculo, mais conhecido como mandioca ou macaxeira, é de origem africana!

  2. Salve,

    Corrigindo o Eduardo, a Mandioca tem sua origem entre os povos indígenas, não se sabe 100% de certeza mas teve origem entre os povos da América do Sul e Central, provavelmente da região da Amazônia.

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