Cochabamba

Por Cenira Russeff Viana*

Andar com Deus enquanto estamos neste mundo, sendo fiel a Ele e servindo a nossa própria geração (conforme fez Davi) é um grande privilégio, além de um grande desafio! Estamos na Bolívia nesse propósito e sem dúvida alguma tem sido um dos campos mais desafiadores (é o oitavo país em que trabalhamos), depois de Espanha. Digo isso porque aparentemente sendo um país alcançado, com várias igrejas, tem fortes traços sincretistas, misticismo e, entre os cristãos, grande apatia espiritual – em especial e particularmente Cochabamba, que é nosso campo de atuação.

Cochabamba possui diversidade cultural e grandes contrastes (forte influência indígena dos povos Quéchua e Aymara, em sua maioria) mas também com muitos descendentes de espanhóis na cidade. Viemos para cá com o projeto inicial de restaurar uma igreja que esteve fechada por mais de cinco anos e nos deparamos com a triste realidade da igreja em ruínas espiritualmente. Logo, tornou-se a necessidade de implantar a igreja, pois não havia condições de restaurar! Quando chegamos em 2018, havia dez adultos e duas crianças, sem local para reuniões. Antes da pandemia, estávamos com um grupo crescente de crianças e adolescentes bem expressivo (em torno de 40), alguns poucos adultos (por volta de 8) e começando os contatos com as famílias das crianças . Também estávamos iniciando a Capelania Hospitalar em Quillacollo (a 13 km).

Entretanto, tudo mudou drasticamente. Nossa realidade hoje é “virtual”, e de tempos muito maus! Temos realizado online cultos, reuniões de oração, reunião de mulheres e de crianças. Temos também feito aconselhamentos e orações por aplicativos de mensagens, incluindo abraços, lágrimas, solidariedade, empatia, apoio e ajuda! Não tem sido nada fácil! Creio que essa tem sido a realidade em muitos lugares e muitos obreiros tem experimentado bem de perto esse tempo tão difícil, e nos cabe, como cooperadores de Cristo, reinventarmo-nos, de maneira resiliente, para ajustar a mensagem do evangelho neste contexto de não presença física e de muita dor, e, acrescentando ao nosso contexto de Cochabamba, sentimentos como medo, insegurança, impotência (devido aos hospitais colapsados, falta de oxigênio e aumento significativo de casos, mais que em outras regiões de Bolívia).

Estamos lidando com nossos próprios sentimentos e conceitos ao mesmo tempo em que novas situações se apresentam. Nada é definitivo, e traçar planos deve ser a curtíssimo prazo. Temos orado e acompanhado várias pessoas em processo de luto, algumas crianças também. Também acompanhado a irmãos ansiosos e com medo do contágio, e isto implica em dar ênfase no cuidado amoroso do Pai, ainda passando por aflições, tal como o apóstolo Paulo estava instruindo os irmãos de Tessalônica que passavam por muitas tribulações a permanecer firmes na fé, olhando sempre para Jesus, sem perdê-lo de vista. Lembro-me muito do Rev. Elben César que nos ensinava e falava sempre “não podemos perder a Jesus de vista”. Isso aí – não podemos tirar os olhos de Jesus, senão podemos afundar em meio a tantas circunstâncias contrárias e adversas.

Precisamos de oração! Pelos muitos enlutados. Pelas crianças. E por nós, os obreiros, que tenhamos muito claro quem somos, quem é o Senhor e que nos estendamos em amor e misericórdia, atuantes, sendo consolados pelo Senhor para consolar a outros!

* Cenira e o reverendo Elnatan são missionários desde 1984, atualmente pela APMT. Foram alunos do CEM (Centro Evangélico de Missões). Rev Elnatan formou-se no JMC. Serviram na Espanha, Portugal e EUA.

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