O Meu Lugar no Mundo
Por Yoneh

 

Estimulada a estudar pelos pais imigrantes sul-coreanos, que deixaram a terra natal pela oportunidade de garantir bons estudos aos filhos no Brasil, ser uma boa aluna para a minha mãe era o meu objetivo de vida.

Uma semana antes de começar as aulas do terceiro colegial [atual terceiro ano do ensino médio] minha mãe faleceu. Perdi o motivo de estudar e de viver. Estudava por estudar, no embalo dos amigos, porque era a única coisa que sabia fazer e prometi a mim mesma que prestaria vestibular uma única vez e só o fiz por obrigação, para ingressar em duas faculdades. Orava para que Deus fizesse o que quisesse com o meu futuro. Estava desolada e nada importava mais.

Mas Deus tinha planos para mim. Apesar de não ter me dedicado aos estudos no terceiro colegial, fui a nonagésima oitava classificada para oitenta vagas e, mesmo assim, fui convocada na primeira chamada para o curso de odontologia da Fuvest e da Unicamp.

A partir dessa experiência, comecei a procurar o motivo de Deus me ter colocado na faculdade. Desde o primeiro semestre do curso, comecei a fazer estágios em postos de saúde e, em todas as férias, junto com os jovens da igreja, planejava dar assistência odontológica nas escolas de férias em campos de missionários no Norte e no Nordeste do Brasil.

Nunca dependi da odontologia para sobreviver. Tinha outras rendas. Mesmo assim, me direcionou para uma especialização em endodontia pela Universidade de São Paulo (USP) e, com o currículo ampliado, ao oferecer colaboração, fui nomeada professora convidada na Universidade de Yonsei na Coreia do Sul por três anos e tive oportunidade de traduzir um livro da área de odontologia do português para o coreano, o que me proporcionou mais conhecimento.

Toda esta experiência acumulada me deu oportunidade de trabalhar por 17 anos na Coreia como endodontista. Algo que nunca quis ou planejei. Estava vivendo por meio da odontologia na Coreia. Eu e minha família fomos abençoados com uma igreja que nos proporcionou amadurecimento espiritual por meio de estudos bíblicos, trabalho dominical e encontros com dentistas missionários que utilizavam a experiência e especialidade para serem testemunhas de Jesus Cristo em terras onde não é possível/há visto oficial religioso.

Trabalhamos testemunhando em uma área de ponta da odontologia, através de aulas e tratamentos em vários países mostrando que o cristão aprende para dar e dividir todas as dádivas que recebeu de Deus, com e pelo amor de Jesus Cristo.

Com esta bênção, meu marido e eu começamos a orar para que toda a nossa família pudesse ofertar o verdadeiro dízimo de nossas vidas: o melhor da minha experiência odontológica, na melhor época das nossas vidas e na nossa melhor condição de saúde.

Então, recebemos um chamado urgente de uma clínica odontológica missionária que estava sendo aberta no Oriente Médio e não tivemos dúvida, começamos a orar e partirmos quando Deus me deu novamente a aprovação na prova de equivalência como cirurgiã dentista.

Ao chegarmos no novo país, comecei a providenciar toda a papelada necessária – que ficou pronta em cinco dias. Ficamos ali por dois anos e toda a nossa família pôde testemunhar muitas bênçãos na clínica odontológica e nos estudos de nossos filhos. O trabalho do Senhor é sempre certeiro e dirigido. Com a clínica estabelecida começamos a orar por uma agência missionária internacional que pudesse apoiar nosso trabalho e a nossa adaptação no país.

Após muita oração e perseverança de toda a família, no final de 2020 conseguimos ingressar em uma organização missionária internacional e interdenominacional que envia profissionais com vocação missionária para servir a povos do mundo árabe e Ásia, tendo como foco a missão integral e, atualmente, estamos no meio do processo de treinamento. A nossa condição financeira piorou pois não tivemos renda durante mais de três anos e bancamos somente com as economias a sobrevivência e os estudos das crianças. Com a inexperiência e por termos nos ausentado da Coreia, perdemos a casa que tínhamos conseguido por meio de financiamento.

Estamos sem casa e dinheiro, mas com discernimento de que tudo que temos foi Deus que nos proporcionou. A alegria e a esperança pelas bênçãos do Espírito Santo não cessam na nossa família, o clamor para podermos voltar para ao Oriente Médio e poder dividir com aquele povo as dádivas e as boas novas de Jesus Cristo ficam mais ardentes e a gratidão pela bênção de cada dia com saúde e paz na conjuntura pandêmica não cessa.

Com o processo de treinamento, Deus nos deu a percepção de que como uma família com formação multicultural poderemos receber mais uma família nos nossos corações e permitiu a certeza de voltarmos para o Oriente Médio com planos de longo prazo não apenas para clinicar, mas também para aprender a língua, a cultura, procurar saber como o amor de Deus pode ser demonstrado ao povo necessitado desta região por meio da nossa família e poder colaborar academicamente com a única faculdade de odontologia do país.

 

  • Yoneh, 52 anos, casada, mãe de quatro filhos, natural da Seul, Coreia do Sul. Mudou-se para São Paulo com a família aos 2 anos. É cirurgiã-dentista e endodontista pela Universidade de São Paulo (USP). Educadora por vocação e missionária.

 

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» Sobre aprender com a “meia idade”
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  1. Que Deus continue lhe abençoando cada vez mais, não somente você mas toda sua família. Passo por um processo em que vim para uma empresa que até agora não entendo e oro a Deus pra saber o porque de estar aqui.

  2. Antonia Leonora van der Meer

    Graças a Deus por esse lindo testemunho. Que Deus possa dirigir a vida de Yoneh e sua família, para que continuem dedicando todos os seus dons, talentos, formação e amor ao povo que querem servir, e que Deus possa prover o sustento.

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