Por Aline Davi

A vida inteira passei dentro de um lar cristão, mas eu ia para a igreja mais porque minha mãe me levava e pela questão social. Mas, confesso que sempre me senti meio fora do lugar. Algumas coisas não faziam sentido para mim, doutrinariamente falando, e sempre tive tendência a obedecer ao que tinha boa base bíblica. Aos 17 anos, eu tive uma crise com a estrutura da igreja.

Jesus nunca deixou de fazer sentido para mim, mas a estrutura de igreja, como eu conhecia até então, tinha me causado mais danos, naquela época. Hoje eu sei que me trouxe muitos benefícios e que foi essencial para a formação do meu caráter, mas na revolta de adolescente não enxergamos essas coisas.

Quando entrei na faculdade, para estudar administração, eu me afastei. Eu vivia um pouco oprimida, porque tudo era errado e havia a questão da meritocracia: “Você precisa cumprir estes protocolos aqui para ser aceito por Deus”. Como eu nunca conseguia agradar a Deus, porque eu não conseguia cumprir todos aqueles protocolos, eu desisti. Foi quando eu rompi com a igreja.

Não houve um rompimento drástico e quando percebi já estava imersa além do pescoço, quase não dava mais para respirar. O pecado tem essa tendência de ir comendo pelas bordas. Tive uma vida muito baseada em prazer momentâneo. Com abuso de substâncias, me joguei para o mundo e fui viver tudo o que a galera estava vivendo. Perdi totalmente a referência de quem eu era.

Vivi cerca de quatro anos na busca pela minha identidade. Havia a necessidade de ser aceita pelo grupo. Eu não me sentia aceita pela igreja, no entanto, mesmo fora dela era constante essa sensação “outside”, de estar deslocada. Quem sou eu?

O engraçado é que durante esse tempo, eu sempre tive uma rejeição muito grande a qualquer coisa que não fosse Cristo. Meu problema não era com Deus, mas minha dificuldade em me relacionar com Ele, porque eu não conhecia o Deus do amor. Apesar disso, eu sabia que era n’Ele estava a minha resposta. Nos momentos de desespero eu sabia aonde tinha que ir.

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Minha mãe começou a ir em uma outra igreja. Ela sempre orou muito por mim e um dia me disse: “Na igreja que eu tô indo tem um mocinho tão bonitinho”. E eu falei para ela: “Você acha que é por esse motivo que eu vou à igreja?”. Um dia fui com ela e Deus falou comigo diretamente. Eu pedi perdão para o Senhor e me reconciliei. Com o tempo, vi que o mocinho que minha mãe falava, chamado Angelo, era apaixonante. Nos casamos e estou com ele até hoje, vinte anos depois.

Essa igreja teve um problema e fechou. Angelo e eu ficamos cerca de três anos buscando outra. Na época, em 2010, ele estava pesquisando sobre igreja emergente e leu um artigo do Sandro Baggio, e descobriu que ele era pastor do Projeto 242. Resolvemos visitá-la e nunca mais deixamos de ir.

Dois meses depois, participamos da primeira turma da Compacta, a escola de missão da Steiger International. O Angelo sempre trabalhou na área da comunicação e do cinema, e eu tinha um emprego fixo, na área administrativa e fiscal de uma empresa. Viemos nessa escola e o nosso coração começou a queimar. Tinha muita relação com o que vivíamos. A missão se propunha a falar e conversar com a galera jovem de uma maneira relevante por meio da arte. Pela primeira vez, encontrei um lugar em que fazia sentido para mim servir o reino.

Nessa escola, o Senhor falou assim: “É aqui que eu vou te colocar. É nessa missão que você vai ser e que vou te usar”. Em seguida, aconteceu a primeira edição do Festival Manifeste como um evento de expressão artística (que até então era um fórum para discutir arte). A gente assumiu o desafio de produzi-lo e esse foi o meu primeiro trabalho na missão.

Ficamos servindo parte do tempo, conciliando com nossos trabalhos. Eu nunca tinha pensado em servir como missionária integral. Mas, ao final de 2014, alguma coisa começou a ferver no meu coração. “E se?”.

Em janeiro de 2015, o Luke Greenwood, que coordenava a Steiger no Brasil, nos visitou em nossa casa com a esposa Ania, e disse que estavam indo embora do país e que queriam nos encorajar a servir integralmente a missão. Senti que Deus estava confirmando por meio dele e então fomos orar. Pedi as contas do emprego e me pagaram tudo, como se tivessem me mandado embora.

Semanas antes de irmos para a escola de missão da Steiger mulna Alemanha, o Ângelo recebeu uma proposta de emprego para ganhar um valor absurdo, em uma coisa que a gente sempre sonhou, e nós falamos “não”, pois já sabíamos que Deus tinha nos chamado. Mas, na escola eu fiquei triste, pensando no sustento. Então, Deus me trouxe uma visão de todas as vezes, desde que eu era criança, que falava para o Senhor que queria servir como missionária. Ele me lembrou de orações que fiz e havia esquecido completamente. O Senhor falou “É agora”. Desde então, eu estou participando do crescimento e desenvolvimento da missão.

Primeiro, Ele me libertou das mentiras que eu tinha construído sobre Ele e sua suposta tirania. Na minha cabeça, eu separava Cristo e Deus, como se fossem diferentes e não fossem um único Deus, Triuno. Meu esposo foi quem me desafiou um dia: “Fala para Deus que você não consegue amar a Ele e peça para Ele se revelar a você”. E isso aconteceu. Quando eu entendi esse Deus do amor tudo mudou, porque eu compreendi a Graça.

Só estou no lugar por causa do tratamento que Deus fez na minha vida. Eu dependo dele para isso. Entendo que algumas lutas são necessárias, mas até a luta tem que ser no amor, de conscientização do outro. Se não, ficamos numa guerra de mostrar valor um para o outro. Hoje sou respeitada na função que exerço como mulher, como missionária e futura teóloga, por causa desse processo que vivi com Deus.

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Me chama atenção como é difícil você ver uma garota que quer ser teóloga. Na minha faculdade, há 30 homens para três mulheres em uma sala. Fui estudar teologia para ter conhecimento e profundidade do estudo da Bíblia e converter tudo o que aprender para o meu trabalho na missão. O mesmo Deus que se revela para um homem, se revela para uma mulher. Precisamos de teólogas na academia. Ainda temos poucas e é o corpo de Cristo que perde quando a mulher não está realizando o que ela poderia realizar.

Hoje, estou no meu lugar. E isso tem a ver com identidade. Quando eu foquei em Cristo, em quem Ele é e qual o meu valor a partir do que Ele fez por mim, acabou a minha questão de querer ser aceita. Eu já sou aceita por Ele, sou parte do plano d’Ele e todas essas coisas me trazem segurança. Eu sou uma parte importante, como todos os outros que compõem a missão.

• Aline Davi, 41, é missionária e líder de Administração e Infraestrutura da Missão Steiger Brasil, que se dedica a alcançar e discipular a cultura jovem global para Jesus Cristo. Participante do seu desenvolvimento no Brasil desde o início, ela atua também como produtora de eventos e treinamentos da missão, festivais, shows e turnês evangelísticos. Vive em São Bernardo do Campo, SP, estuda teologia na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, é casada com Angelo Davi e quer ser mãe.

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