O velho normal
Covid-19 – Arte para não esquecer
Por Douglas Lucas
Douglas Lucas é designer e criador de capas de livros e, como outros artistas amigos da Ultimato, aceitou o convite para participar da série “Covid-19 – Arte para não esquecer”. A respeito de sua obra ele escreveu:
Quando pensamos em ilustrar o tema “pandemia”, imediatamente nos vem à mente imagens já integradas ao nosso cotidiano: distanciamento social, máscaras, comércio fechado, álcool em gel, sepultamentos em massa, UTIs lotadas. Tristeza, desespero, angústia. Retratos cruéis da Covid-19.
Mas em meio a tanta aflição, reflexos de um velho conhecido sobressaem em meio ao caos – a desigualdade social, apresentando-se agora de forma ainda mais escancarada e constrangedora. Como se o som de uma sirene ativada pelas campanhas de prevenção e controle do coronavírus tentasse nos despertar do sono monstro da indiferença. Sim, sempre soubemos disso, sempre esteve ali. Mais um fator socioeconômico negativo do nosso país. E já nos acostumamos a isso também.
Recomendações a prevenção da Covid-19 do tipo “fique em casa”, “faça home office”, “lave as mãos” parecem racionais e práticas para a maioria de nós, mas utópicas para milhares de outros que vivem em extrema pobreza e em situação de rua, por exemplo. Pessoas sem acesso a suprir suas necessidades mais básicas. Sem acesso a moradia, trabalho, saneamento, alimentação regular, higiene, saúde. Sem acesso a dignidade.
Mais do que conscientizar e incitar a prática do amor e da solidariedade, esse manifesto quer reabilitar a compaixão. Para não sermos apenas expectadores críticos, mas agentes transformadores desta triste realidade. Para não esperarmos mais que outros tomem uma atitude em nosso lugar. Para não continuarmos vivendo o “velho normal” quando a pandemia passar.
Bárbara F. Matias Bianch
Excelente! Obras com sensibilidade atenta aos muitas vezes ignorados. Sensacional!