A seção “Arte e cultura” da edição de janeiro/fevereiro de Ultimato convidou Marcelo Bittencourt para falar sobre “ilustração”. No artigo O imaginário materializado, ele chama a atenção para a história da ilustração e para a sua importância em nossos dias: “Quem é vocacionado para a ilustração precisa ter a consciência de estar em um mundo que precisa de esclarecimento e ter respeito por isso, executando a melhor maneira possível um trabalho que contribua para a humanidade, seja pela estética, pela informação, pela reflexão ou pela transcendência”.

Em 2014, em entrevista dada a Ultimato, Marcelo falou do encontro pessoal com Cristo, de como a arte entrou em sua vida e de seu trabalho como ilustrador. Vale a pena ler de novo.

Fé e arte se misturam?

A fé e a arte são parte do ser humano, são duas características dentre outras que diferenciam os seres racionais dos irracionais. Apesar de serem características do coletivo, são características de singularidade. A arte expressa o âmago do indivíduo, mostra o universo que há dentro de si, universo que o difere de seus pares. A arte expressa convicções e a fé é convicção pessoal. Historicamente vemos em diversas culturas que a arte era usada para diversos fins relacionados à fé: sejam pinturas para explicar o transcendente, músicas para se conectar com o espiritual, literatura para difundir determinados conceitos e morais religiosos.

Pessoalmente, dificilmente separo a arte da fé, já que uso a arte para exprimir, e a fé está dentro de mim. Se eu elaborar uma arte que tenha cunho social, algum tipo de denúncia à sociedade, como a pobreza ou injustiça, por exemplo, isso está atrelado com a fé que possuo em um Deus que se importa com o próximo e que quer que a justiça seja estabelecida. Se estou pintando algum elemento da Criação, como um pássaro, estou exaltando a criatividade de Deus. Ou então, posso simplesmente extrair algum sentimento de dor, desespero, cansaço e aí poderia falar sobre a condição de vida em um mundo que sofreu pela queda do homem.

Não consigo encontrar o limiar entre arte e fé; enxergo tudo misturado no balaio do ser humano.

Por que você resolveu fazer arte?

Lembro-me de uma história que minha mãe sempre conta. Quando eu tinha dois anos de idade eu peguei um giz de cera preto e fiz um risco na parede atrás da cortina do meu quarto. Minha mãe achava que o quarto já precisava de uma nova pintura e assim o fez. No dia seguinte ela viu outro risco igual no mesmo lugar – eu fiz novamente, então ela percebeu que não ia ter jeito e deixou ali.

Eu acho que tento fazer arte para expressar, muitas vezes algumas coisas que estão engasgadas dentro do peito, quando eu pinto ou ilustro com tema livre, eu tiro essa mistura de ansiedade e empolgação de mim. É um jeito, também, que sem querer, encontrei para tocar de alguma forma às pessoas. Temas como música e brasilidade acabam sempre aparecendo nas minhas obras. É algo que também entendi que Deus deu para mim, um talento ou dom, não sei, mas que tenho que desenvolver a cada dia para engrandece-Lo.

Conte sua história pessoal de fé com Cristo.

Eu nasci num lar cristão e confessei a Cristo quando aprendi a falar. Não tenho nenhum testemunho impressionante. Conforme fui crescendo, fui aprendendo a entender o amor de Cristo e a cada dia procuro entender um pouco mais.

Na minha rotina sempre esteve presente participar da igreja local e conforme fui amadurecendo, fui entendendo que um seguidor de Jesus deve trabalhar para a sociedade e não apenas para a igreja em si.

Não posso dizer qual foi o dia da minha conversão, em diversos momentos quando criança eu levantei a mão e fiz a oração de confissão a Cristo, e acredito que todas as vezes foram sinceras. Graças a Deus, meus pais me orientaram no caminho de Jesus e, apesar dos deslizes – que me fizeram entender minha condição como pecador – sempre procurei estar perto de Deus.

Hoje trabalho com crianças da comunidade, ensinando a desenhar, grafitar (coisa que estou aprendendo) e me conectando com elas para falar do amor de Deus.

Quais os traços característicos das suas obras. Como você faz arte?

Gosto de trabalhar com tinta aguada, porque de certa forma lido com o que o acaso me proporciona, nem tudo controlo. Controlo que cor trabalho e mais ou menos a área em que a tinta vai estar, mas ela foge do meu controle e tenho que lidar com isso, fazer do erro algo parte do trabalho e transformá-lo em um acerto. Na vida é assim. Podemos controlar nossas decisões, mas os imprevistos acontecem. Não podemos controlar a chuva ou o sol, e quando erramos, não podemos jogar nosso passado fora. Temos que lidar com tudo isso e aceitar que faz parte da nossa obra.

Eu utilizo tinta acrílica, canetas esferográficas e canetas de tinta acrílica sobre papel ou tela.

Que projetos você desenvolve atualmente?

Atualmente estou tendo o prazer de desenvolver o projeto gráfico do CD de Carlinhos Veiga e Banda, pois admiro muito o trabalho dele, além de fazer algo novo para mim: poder trabalhar inteiramente nesse estilo que venho estudando e desenvolvendo.

Também estou fazendo algumas ilustrações para a Lorena Chaves, representando as músicas dela.

Estou trabalhando para preparar alguma exposição para esse ano, se Deus quiser e finalizando um livro infantil que leva o título de “O Deus do Inimaginável” – que pretende ser um livro para ser lido com pais e filhos, avós e netos, sobre o Deus que nos surpreende com um plano que ninguém imaginava que poderia acontecer.  Além de trabalhar com diversos livros didáticos do Ensino Infantil ao Ensino Médio.


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