Conteúdo extra oferecido como Mais na Internet na revista Ultimato, edição #367.

As reações à crise dos refugiados diferem ao redor do mundo. Alguns países têm aberto suas portas para eles, outros os veem como ameaças em potencial. Há unanimidade quanto à complexidade do fenômeno.

A igreja cristã global tem – na maior parte das vezes – buscado a via do acolhimento. Mas também há vozes discordantes e alarmistas, principalmente em torno da suposta ameaça do islamismo.

Além de dar visibilidade a essa questão tão atual, Ultimato destaca algumas das iniciativas cristãs. Abaixo seis organizações que estão atuando no Brasil falam sobre o que fazem em favor dos refugiados.

Mais no Mundo

Uma obra com começo, meio e longe do fim. Esta é a definição do programa de Acolhimento à Refugiados na Base da Missão MAIS. Dentre os mais de 200 refugiados que recebemos em nosso projeto desde 2013, algumas histórias nos marcaram, como a de um irmão Paquistanês chamado *Peter, (*nome fictício) que chegou no final do ano passado, e  nos constrangeu com uma frase ao ir conosco à um culto pela primeira vez no Brasil; “Estou acordado e pronto desde as 5:30h porque hoje é meu primeiro dia de ir à igreja em um país livre”; São sentimentos tão distantes de nossa realidade que nos confrontam e nos motivam a lutar pela Igreja Sofredora no mundo. Eu te convido a unir-se a este privilégio de alguma forma acessando  www.maisnomundo.org; existe uma Igreja que sofre todos os dias, ouse ser a resposta!

Por Luiz Renato Maia

Junta de Missões Nacionais

Há mais de 10 anos, a Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira trabalha entre imigrantes e refugiados no estado de São Paulo. Os missionários, que atuam na plantação de igrejas em cada contexto étnico, assistem os recém-chegados nas necessidades de documentos, alimentação, emprego e aprendizado da língua com objetivo de tentar proporcionar melhores condições de vida para cada um deles. Atualmente, é do continente africano, de países como Congo, Togo, Costa do Marfim, Angola e Camarões, que vem o maior número de refugiados políticos ou religiosos, cerca de 90% entre os imigrantes alcançados pelos missionários da JMN. Através do trabalho feito por Missões Nacionais eles têm não só assistência para um recomeço, mas encontram acolhimento na comunidade cristã formada por outras pessoas de seu próprio povo que também estão no país.

Para saber mais pode acessar o site ou entrar em contato pelo e-mail falecom@missoesnacionais.org.br. Para doação direta para o missionário, clique aqui.

Por Jeremias Pereira

Compassiva

A Associação Compassiva é uma Organização Social que serve pessoas em situação de vulnerabilidade na cidade de São Paulo. Acreditamos que auxiliando e criando relacionamentos, contribuímos para amenizar as situações injustas e proporcionamos chances de mudanças significativas em suas vidas. Entre os grupos que atendemos estão os refugiados sírios, para os quais oferecemos curso de português; auxílio transporte para frequentarem as aulas; orientação jurídica e trabalhista; e amparo social em diferentes âmbitos. Além disso, graças à parceria que temos com o Alto Comissariado das Nações Unidas (ACNUR), temos alcançado refugiados de diferentes nacionalidades através do serviço de revalidação de diplomas, no qual cuidamos de toda burocracia e custo até que tenham suas formações reconhecidas. Saiba mais sobre nós: www.facebook.com/compassiva

Por Cássia Ramos

Congregação Presbiteriana dos Imigrantes – Igreja Presbiteriana de São Paulo

O Missionário Moussa é o responsável pelo trabalho que atende imigrantes e refugiados da África, Haiti e Síria. Originário do Mali no continente Africano, foi convertido do Islamismo quando encontrou-se com um primo cristão com a intenção de matá-lo. Ao ouvir seu testemunho se rendeu a Cristo e passou a ser perseguido pela própria família que o jurou de morte. Vivendo nas ruas encontrou um missionário brasileiro que o trouxe para sua casa no Brasil e desde então está em nosso país como refugiado.

Um evangelista carismático e arrojado, fluente em 6 línguas, tem feito um trabalho de cuidado e evangelização com muitas famílias e jovens imigrantes que vivem em situações difíceis. Moussa está plantando uma igreja com sede temporária logo abaixo do viaduto do Glicério em São Paulo, onde dezenas de refugiados e imigrantes se reúnem para adorar a Deus em sua respectiva língua. Moussa também está fundando uma associação chamada Bom Samaritano, que também inclui o projeto de um restaurante com culinária de vários países, bem como treinamento de empreendedorismo para os imigrantes em parceria com Bluefields e Bab Sharki.

Por Moussa Diabate

Bab Sharki & Bluefields Development

Imagine agora se você fosse obrigado a deixar seu trabalho, casa e família. Em outras palavras, deixar uma vida inteira construída para viver numa outra cultura, outro país. É um caminho que você percorre e permanece nele por seis meses a um ano, então você aprende a fazer tudo de um jeito diferente. Já me perguntei muitas vezes, na verdade mais de dez vezes, sobre a razão dos refugiados sírios recusarem as ofertas de emprego. E é aqui também que nasce a Bab Sharki como uma solução. Questionei-me sobre minha vocação e chamado para o reino de Deus. Sou um refugiado que expressa o desejo de trabalhar para o reino de Deus. A primeira dúvida veio a respeito da minha família: como ajudá-los? Se eu for para uma escola missionária e terei de deixar minha avó de 80 anos e uma tia na dependência de Deus, não que isso seja errado, mas é inaceitável para as pessoas e até para mim mesmo.

Tenho dito que se algo tem nome, então é porque está vivo. Mas também tenho dito que o nome de Jesus está acima de todo nome. O que quero dizer é que este projeto tem um nome, entretanto também acredito que este está debaixo de Seu controle. Dizem que quanto maior a dor, maior o amor e Bab Sharki é uma das coisas que representam essa vontade de amar novamente e, mesmo que pareça impossível, transformar vidas através da esperança. É a segunda oportunidade que todos nós desejamos. É uma porta aberta para ajudar uma variedade de outras pessoas.

Bab Sharki é a porta do oriente que existe no lado oriental da cidade velha de Damasco a qual também é conhecida na narrativa bíblica pois foi por ela que o apóstolo Paulo deixou Damasco indo em direção ao mundo nas suas viagens missionárias. Ela também significa porta do sol. A porta é usada para sair do muro de Damasco, assim como refugiados de seus países, levando o mercado do oriente médio para o mundo. A meta do Bab Sharki é impactar 10 milhões de refugiados ao redor do mundo ao promover uma plataforma online colaborativa que ajude os refugiados a empreender em seu novo país. Uma vez que os refugiados possuem habilidades e alto potencial a ser usado. Historicamente, iniciativas focadas em doações têm resolvido a dor no curto prazo, mas não se provam sustentáveis com o passar do tempo. Bab Sharki é uma plataforma que os refugiados podem encontrar em um ambiente propício e serem equipados para reconstruir suas vidas com dignidade por meio do empreendedorismo. No Bab Sharki, o empreendedorismo é a forma de resolver a crise dos refugiados. Bab Sharki está saindo da fase de incubação e entrando na fase de aceleração. A partir de agosto esse projeto estará no programa de aceleração da Bluefields Development.

Fanpage Bab Sharki

Por Joanna Ibrahim

ANAJURE

Buscando uma forma mais especializada de ajuda humanitária e desenvolvimento de projetos em cooperação com setores governamentais e instituições cristãs e outras que trabalham com direitos humanos, nacionais e internacionais, a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE), que reúne associados de 23 estados, tem atuado em defesa dos refugiados como uma de suas principais bandeiras de trabalho. A ANAJURE tem recebido muitos pedidos internacionais de seus parceiros para tentar negociar com o governo brasileiro o reassentamento de refugiados cristãos no Brasil, por causa da perseguição religiosa em países do Oriente Médio, Ásia Central e África. Em resposta aos pedidos, ANAJURE criou o ANAJURE Refugees em 2014, como um programa destinado a receber e integrar os refugiados no Brasil, bem como desenvolver e apoiar projetos de ajuda humanitária em países que são vulneráveis. Um dos mais importantes parceiros da ANAJURE neste sentido é a agência da ONU para refugiados, o ACNUR, com quem a entidade tem firmado um termo de cooperação.

A ANAJURE já trouxe para o Brasil famílias de refugiados que foram vítimas de perseguição religiosa e também deu suporte a cristãos que não podiam se deslocar. Além disso, realizou uma série de visitas a campos de refugiados na Jordânia e no Líbano, entre 2014 e 2016, para oferecer assistência humanitária, com o apoio das embaixadas do Brasil em Beirute, Damasco e Amã. Atualmente, a ANAJURE também trabalha em conjunto com a embaixada do Brasil em Amã em um projeto que promove o ensino da língua portuguesa para refugiados sírios que vivem na Jordânia, mas buscam refúgio no Brasil. Em outubro de 2017, o staff do ANAJURE Refugees tem viagem programada para a Síria, visando a criação de projetos de recuperação de bairros dos cristãos que estão voltando para o país.

Como parte de suas atividades na esfera pública, enquanto representante da sociedade civil, a ANAJURE foi responsável pela criação da Frente Parlamentar Mista para Refugiados e Ajuda Humanitária (FPMRAH), e por meio dela tem emitido notas públicas e realizado discursos para que a causa dos refugiados seja discutida no Congresso Nacional. Em todas essas ações, a ANAJURE tem contado com o apoio do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) e do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados no Brasil (ACNUR/Brasil). Isso tem possibilitado também que a entidade tenha sucesso nos diálogos com embaixadores do Oriente Médio e norte da África (MENA – sigla em inglês) no Brasil, visando estabelecer contato para trabalhos em cooperação institucional. A ANAJURE, além disso, tem buscado estabelecer parcerias para a implementação de projetos de ajuda humanitária no Brasil e no exterior com o apoio do Ministério das Relações Exteriores (MRE).

Na esfera acadêmica, a ANAJURE tem trabalhado em cooperação com entidades educacionais confessionais para a criação da Cátedra Sergio Vieira de Mello (CSVM), e um dos exemplos de concretização dessa atuação é a UniEVANGÉLICA, em Anápolis, GO. Criada pelo ACNUR em 2003, a CSVM recebeu este nome em homenagem ao diplomata brasileiro morto em atentado terrorista no Iraque, e tem como objetivo envolver universidades na divulgação do direito dos refugiados, discutindo formas de protegê-los e integrá-los social e economicamente ao país de acolhimento.

Junto à Organização dos Estados Americanos (OEA), a ANAJURE conta com uma equipe de advogados e internacionalistas especializados, que, entre outros fatores, também abordam o papel que pode ser desenvolvido pela América na pauta da ajuda humanitária e liberdade religiosa, em especial de perseguidos cristãos, sendo o cristianismo reconhecidamente a religião mais perseguida do mundo na atualidade.

A ANAJURE tem buscado ainda fortalecer os laços com as organizações governamentais e não governamentais para criar um centro de excelência para acolhimento de refugiados do Brasil. Como presidente da ANAJURE, coordeno praticamente todas as ações do ANAJURE Refugees. Um pouco deste trabalho pode ser visto no site www.anajure.org.br e no livro Refugiados no Brasil, da ANAJURE Publicações.

Por Uziel Santana

PMI – Uma missão na Mesa e no Caminho

Compartilhar a história da organização missionária Povos Muçulmanos Internacional (PMI) é reconhecer a fidelidade de Deus e a beleza da sua graça que se revela na fragilidade da entrega de homens e mulheres que escutaram ao seu chamado e obedeceram. É render tributo de gratidão a tantas pessoas que nos receberam e compartilharam suas vidas, suas histórias e até mesmo suas casas conosco. É celebrar com alegria e gratidão sinais maravilhosos do reino de Deus que se espalham por nações e povos por onde o vento do espírito nos tem levado a servir.

A vocação da PMI é compartilhar as boas notícias do evangelho, por meio de uma missão integral, em contextos islâmicos. E, com profunda gratidão, queremos compartilhar um pouco dessa caminhada com vocês. Foi nos anos 80 que Deus colocou essa visão no coração de Pablo Carrillo, um mexicano que estava em uma viagem missionária no norte da África. Depois de um período de perguntas, oração, conversas e encontros, Deus moveu outras pessoas a se unirem ao mesmo propósito. Ali estava um grupo de latinos apaixonados por missões, obedientes ao chamado, dando início à organização, que naquele momento se chamava Projeto Magreb; entre eles estavam os primeiros obreiros brasileiros da missão: Talita, Rosangela e Marcos Amado.

O primeiro país onde a PMI “armou sua tenda” foi o Marrocos. No meio de medinas (parte antiga da cidade), cheias de encanto e de sua gente hospitaleira, um grupo de obreiros começou a viver o seu chamado, aprendendo e vivendo com o povo daquela nação. Desde o início, a PMI foi desafiada a entender que missão é encontro, é uma forma de viver e se doar, de construir vínculos e amizade, de ver Jesus se revelando no partir do pão, no compartilhar do chá, no saborear do cuscuz, no partilhar da vida.

Como parte da preparação, cada missionário da PMI é exposto ao aprendizado do idioma e da cultura e busca dar sentido à sua vida na nova cultura construindo vínculos de amor e espaços de amizade onde o evangelho pode ser compartilhado.

Depois de um tempo no sul da Espanha e no Marrocos, a visão se ampliou e a PMI abraçou outras regiões: África Subsaariana, Oriente Médio, Península Arábica, Ásia Central e Sudoeste Asiático, assim como outros cantos da Europa, nessa preciosa geografia da vontade de Deus, do movimento do seu espírito, da simplicidade dos seus planos.

Hoje a PMI celebra quase trinta anos de serviço, onde, a partir da sua vulnerabilidade, como semente pequena e fermento misterioso do reino, tem visto e experimentado milagres maravilhosos de transformação e generosidade gestados pelo Espírito Santo, que faz oásis saltar do deserto e rios da terra seca para a glória do nosso Deus!

A PMI continua sendo expressão de serviço da Igreja, que a partir da América Latina serve ao mundo muçulmano por meio de uma ação missionária integral. A sua visão é ver a glória de Deus revelada por meio de igrejas autóctones, que, sendo e fazendo discípulos, buscam ser sinais vivos do reino de Deus, comprometidos com restauração e transformação em todas as dimensões da sociedade.

No exercício da sua vocação, mais do que uma agência de missões, a PMI busca ser uma comunidade espiritual que encarna seus valores de amor e devoção a Deus, de serviço, sacrifício, compaixão, integridade e transparência, gratidão, generosidade e celebração. É uma missão pequena com sonhos grandes, que conta as estrelas do céu e acredita nas promessas de Deus para essas nações que ele mesmo nos ensinou a amar. São muitos os desafios e barreiras que enfrentamos a cada dia, mas Deus é fiel, e ele já chegou aos lugares onde tem levado a PMI a servir.

Os obreiros da PMI estão comprometidos em servir com excelência por meio das suas profissões e ofícios nas mais distintas áreas: saúde, desenvolvimento rural, inclusão escolar e profissional de pessoas com dificuldades especiais, esporte adaptado, negócios transformadores, oficinas de costura e de culinária, ensino de idiomas e inclusão de pessoas marginalizadas e excluídas em diferentes aspectos, sempre afirmando a dignidade da imagem de Deus presente em cada pessoa e comunidade. Para a PMI é um privilégio caminhar ao lado de igrejas e comunidades emergentes e colaborar com a plantação de novas igrejas e discipulado de novos cristãos nesses países em um compromisso de perseverança ao chamado de Deus.

Nos últimos anos a PMI sentiu a necessidade e o clamor das pessoas refugiadas em diferentes países. Não foi uma decisão programada, mas uma resposta de compaixão que nasceu dos próprios campos: Jordânia, Líbano, Egito, Sudão, Tunísia, Marrocos, Espanha e Itália, onde multidões de refugiados chegam a cada dia da Síria, do Iraque, do Sudão, do Afeganistão e de tantos outros lugares.

Somo chamados a servir e a encarnar o amor de Deus e não podemos desviar os olhos dessas pessoas sofridas nem fechar os nossos ouvidos ao seu grito de dor. Como missão comprometida a servir nessas regiões, agradecemos a Deus pelas iniciativas e projetos que tem nascido como abraço da graça de Deus. Lutamos para conseguir os recursos necessários e, sobretudo, clamamos para que o Senhor da missão nos envie mais obreiros, pois as necessidades são imensas.

O mundo está sangrando, o sofrimento é grande e os conflitos aumentam a cada dia; e nesse contexto queremos ser instrumentos de paz e de reconciliação que revela a bondade do coração de Deus e o anúncio do seu reino. Queremos ser voz de reconciliação, voz profética que denuncia a injustiça, a violência, a brutalidade e a indiferença que crescem sem parar. Colocamos, uma vez mais, nossos vasos de barros a serviço do Oleiro que traz cura, vida e esperança para as nações.

Queremos convidá-los a orar, a apoiar e a unir-se à PMI para servir nessas regiões onde as estatísticas revelam que uma parcela muito pequena da força missionária está trabalhando e poucos dos recursos investidos em missões são empregados. Oremos para que a vontade de Deus seja feita e para que o seu reino venha!

Por PMI, “Zazá” Lima, diretora executiva

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