Livro da Semana   |   25 Livros Que Todo Cristão Deveria Ler

 

Uma das almas mais puras que jamais viveram neste planeta caído foi Nicholas Herman, conhecido por Irmão Lourenço. O que ele escreveu pareceu a muitas gerações de cristãos algo tão raro e maravilhoso a ponto de merecer um lugar entre os melhores livros de devocional do mundo.  [A. W. Tozer]

 

Por Irmão Lourenço

Eu sempre fui dirigido pelo amor sem egoísmo, e decidi tornar o amor de Deus o objetivo de todas minhas ações. Fiquei plenamente satisfeito com essa única motivação. Fico contente quando apanho uma palha do chão simplesmente por amor a Deus, buscando a ele única e exclusivamente – nem mesmo buscando seus dons.

Estive muito tempo perturbado com a crença de que talvez eu fosse condenado. Ninguém no mundo me convenceria do contrário. Depois, pensei comigo: “eu me envolvi na vida religiosa somente por amor a Deus; esforcei-me por agir somente por ele; seja o que for acontecer comigo, ser salvo ou me perder, sempre continuarei agindo com pureza por amor a Deus. Terei pelo menos esta boa ação; até a morte, farei tudo que depender de mim para amar a Deus. Aquela perturbação da mente me acompanhou durante anos. Sofri muito nesse tempo; mas desde quando eu percebi que essa perturbação surgiu por falta de fé, passei minha vida em perfeita liberdade e constante alegria. Até coloquei meus pecados entre mim e o Senhor, para dizê-lo que eu não merecia o seu favor, mas ele insistia, de todo modo, em derramar seu favor sobre mim abundantemente!

Para começar a criar o hábito de conversar constantemente com Deus e de submeter todas as coisas que fazemos a ele, precisamos primeiramente nos dedicar a ele com diligência. Depois de pequenos cuidados como estes, perceberemos que seu amor nos desperta interiormente para a sua presença, sem muita dificuldade.

Depois de alguns dias agradáveis concedidos por Deus, eu espero passar por sofrimento e dor. Mas não fico apreensivo com isso, pois sei muito bem que uma vez que não consigo fazer nada sozinho, Deus não deixará de me dar a força para suportá-lo.

Certas ocasiões em que tive a oportunidade de exercitar alguma virtude, voltei-me para Deus confessando “Senhor, não consigo fazer isso a não ser que tu me capacites”. Então, recebia força mais do que suficiente.

Quando deixo de cumprir meus deveres, simplesmente reconheço minhas falhas dizendo a Deus “se tu me deixares por conta própria, nunca conseguirei fazer mais nada. És tu que impedes a minha queda e és tu que deves corrigir aquilo que está errado”. Depois de uma oração como essa, não me deixo afetar por meus erros.

Em tudo devemos agir para com Deus com maior simplicidade, falando com ele clara e francamente, implorando sua ajuda em nossos afazeres à medida que eles acontecem. Deus nunca deixará de conceder essa ajuda, como tem sido minha frequente experiência.

Recentemente, fui a Burgundy comprar o suprimento de vinho necessário para a sociedade na qual ingressei. Para mim, isso era a tarefa mais indesejável. Eu não tenho nenhuma habilidade natural para negócios e, sendo coxo, não consigo dar volta atrás do barco exceto rolando por cima dos tonéis. Não obstante, isso não me incomodou, nem mesmo a compra do vinho. Disse ao Senhor que eu estava cuidando dos negócios dele. No fim, vi que tudo correu bem.

Assim também acontece na cozinha (lugar ao qual tenho grande aversão natural). Eu me acostumei a fazer tudo por amor a Deus. Em todas as ocasiões, com oração, encontrei nele graça para cumprir bem o meu trabalho, e sinto que, no decorrer dos quinze anos que estou trabalhando ali, ficou mais fácil cumprir meu trabalho.

Estou muito contente no cargo em que estou agora, mas estou tão pronto para largá-lo quanto o estava quando da minha última ocupação, uma vez que em qualquer condição eu me deleito em fazer pequenas coisas por amor a Deus.

O tempo que separo para oração não é diferente dos outros momentos do dia. Apesar de me retirar para orar (porque é o que o meu diretor orienta), eu não preciso desse retiro nem peço para tê-lo, pois, por mais ocupado que esteja, não me desvio de Deus.

Estou ciente de minhas obrigações de amar a Deus em todas as coisas e, ao me esforçar para cumprir isso, não tenho necessidade de um diretor para me aconselhar, embora precise de um confessor para me absolver. Estou plenamente consciente de minhas falhas, mas não fico desanimado por causa delas. Quando confesso minhas falhas ao Senhor, eu retomo tranquilamente minha prática costumeira de amor e adoração a ele.

Quando fico perturbado, não consulto ninguém. Mas sabendo, por meio da fé, que Deus está comigo em todas as coisas, contento-me em dirigir todo o meu esforço a ele. Em outras palavras, realizo todas as coisas desejando agradar ao Senhor e depois deixando que as demais coisas se encaixem espontaneamente.

Nossos pensamentos inúteis estragam tudo. São eles que dão origem a todo tipo de dano. Devemos rejeitar esses pensamentos tão logo percebemos sua impertinência ao que estamos tratando naquele momento. Devemos rejeitá-los e voltar à nossa comunhão com Deus.

No início eu sempre gastava meu tempo de oração lutando contra pensamentos divagadores e, em seguida, caía de volta neles. Também meditava por um tempo, mas depois abandonei esse exercício – como, exatamente, não sei dizer. Nunca fui capaz de adequar minha devoção a certos métodos, como alguns o fazem.

Toda mortificação do corpo e outros exercícios são inúteis a não ser que sirvam para nos conduzir à união com Deus pelo amor. Refleti muito sobre isso e descobri que o caminho mais curto até Deus é ir diretamente a ele por meio de um exercício contínuo de amor e fazer todas as coisas por amor a ele.

Devemos distinguir claramente entre os atos do entendimento e os da vontade. Atos em resposta a nossa própria compreensão mental são comparativamente de pouco valor. As ações que realizamos em resposta às profundas impressões de nosso coração são de grande valor. Nossa única preocupação deve ser amar e ter prazer em Deus.

Todo tipo de mortificação, não importa o que seja, sem o amor de Deus, não é capaz de eliminar um pecado sequer. Devemos, sem qualquer ansiedade, esperar o perdão de nossos pecados do sangue do Senhor Jesus Cristo; nosso único esforço deve ser amá-lo de todo o nosso coração. Deus parece ter concedido o maior favor para os maiores pecadores, como sinais mais evidentes de sua misericórdia.

As maiores dores ou prazeres deste mundo não devem ser comparadas com o que experimentei tanto de dor quanto de prazer em um estado espiritual. Portanto, não me preocupo com nada e não tenho medo de nada, desejando apenas uma coisa de Deus: que eu não o ofenda.

Não tenho nenhum escrúpulo, pois quando falho em minhas responsabilidades, eu prontamente reconheço e digo “estou acostumado a fazer isso; se depender de mim, nunca mais vou fazer isso”. Se eu não falhar, agradeço a Deus, reconhecendo que é ele quem me concede força.

• Trecho retirado de 25 Livros Que Todo Cristão Deveria Ler, organizado por Richard Foster e Dallas Willard (Editora Ultimato).

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