UltJovem_22_06_16_selo_meulugarnomundo-01Desde criança trazia no coração o sonho de ser médica, e 38 anos já se passaram desde que ingressei na Faculdade de Medicina da UFMG, aos 17.  Meus pais, sempre muito zelosos com meus estudos, não mediram esforços para que eu alcançasse esse objetivo.

Durante os anos de faculdade, o episódio mais marcante aconteceu no Internato Rural, atividade de integração docente-assistencial no último ano do curso, para a qual os estudantes seguem em duplas e têm esporadicamente a supervisão do preceptor.

Minha dupla e eu fomos para uma cidade a 300 quilômetros da capital. O prefeito nos encaminhou para atendermos em uma localidade muito pobre e de difícil acesso, onde encontramos um posto de saúde montado, mas sem médicos. Conhecemos ali o Sr. João, morador do local com algum conhecimento de enfermagem e que cuidava da saúde daquela comunidade.

Aprendemos muito com ele, no trato, no respeito e no cuidado com as pessoas. Logo que chegamos, Sr. João pediu para que avaliássemos um homem que tinha dor abdominal há muitos dias, já impossibilitado de andar. Ao examiná-lo, apalpamos uma massa abdominal volumosa e imediatamente indicamos a necessidade de cirurgia. Como resolver a situação? Éramos estudantes recém-chegados na cidade!

Colocamos o paciente no carro da prefeitura e o levamos para o hospital da cidade mais próxima. Felizmente conseguimos que o cirurgião o avaliasse, e após ressecção de 70 centímetros do intestino que já estava necrosado, o paciente pode recuperar sua saúde e retornar para casa.  Essa lição foi inesquecível. Provavelmente aquele homem morreria nos próximos dias sem atendimento médico.

Hoje, quando recebo a notícia de que mais médicos estão chegando aos rincões do nosso país, alegro-me com a possibilidade dos enfermos serem curados e do direito à saúde ser resgatado, o que significa mais tempo de vida e mais oportunidade de conhecer a Jesus e reconciliar-se com Deus através dos sinais do Reino.

Durante a vida profissional, foram várias as situações difíceis, entretanto a mais dolorosa foi atender uma criança indígena vítima de violência física grave, evoluindo para morte após alguns meses. A violência foi em virtude de sua condição de gemelar mais fraco e do alcoolismo dos pais. Essa situação demandou um posicionamento judicial para proteção da criança devido ao descaso do serviço social do hospital.

Um dos resultados do processo foi uma ação cautelar proposta pelo Ministério Público Federal, procurando impor à União, à FUNAI e à FUNASA, a adoção de “políticas hábeis a acompanhar a gestante indígena (tribo não será identificada), nos casos em que se identifique a gestação de gêmeos, até o nascimento, providenciando junto ao Conselho Tutelar a adequada proteção a estas crianças, colocando-as a salvo das consequências culturais indígenas”.

Hoje, depois de 33 anos de formada, peço à minha filha – atualmente em Residência Médica – que não se deixe corromper, que siga a vocação que o Senhor tem colocado em seu coração, que dedique sua vida em favor dos que sofrem, com responsabilidade, zelo, atenção, misericórdia e amor.

 

SorayaSoraya Cassia Ferreira Dias, 56 anos, Médica Pediatra e Homeopata. Atualmente trabalha no SUS-BH (Regulação Assistencial) e em consultório particular. Membro do GC da RENAS, do Conselho dos Médicos de Cristo, do Conselho da Aliança Cristã Evangélica, do Conselho de referência da Rede Fale e do Conselho da International Christian Medical and Dental Association (ICMDA).

  1. Lindo esse artigo e encorajador também!
    Em comum temos a fé em Jesus e o desejo de ajudar os necessitados.
    Assim como vc. Dra., sou dentista, formada há 25 anos, 14 dos quais, dedicados a servir a Deus com minha profissão.
    Atualmente sou missionaria em Moçambique e posso também dizer: encontrei meu lugar no mundo!
    Deus abençoe sua vida.

  2. Sirlei Boaventura de Araújo

    Eu conheço Dra Soraya, ela foi minha médica como homeopata e de meus filhos Filipe e Gabriel pediatra, sempre admirei a sua postura, sua ética e o seu comportamento como discípula de Jesus, lendo o seu testemunho eu pensei:Conheço essa mulher parece Dra. Sorya! Ela atendia nos anos 90 no posto de saúde do bairro Santa Terezinha em BH, saudades dela e de Dra Marta Moíses ambas faz toda diferença por ser humanizadoras. Meu abraço!

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